O TESOURO DOS JESUÍTAS EM SERGIPE (III)

Não foi difícil recolocar na zona de interesse social as lendárias riquezas dos religiosos, notadamente os jesuítas e carmelitas, que viveram por muito tempo em Sergipe. Estava no repertório das tradições do povo as estórias de botijas, dinheiro em potes, enterrados nos pisos das casas, ou deixado em paredes de pedras ou adobo ou, ainda, nas fissuras das pedras das grutas, ou nos túneis cavados especialmente para guardar as supostas fortunas. Embora encobertas pela mesma força imaginativa, que atemporaliza a notícia das riquezas, são duas distintas fases da história sergipana, que motivam as crenças: a presença, incômoda, das tropas holandesas no território sergipano, na primeira metade do século XVII e a expulsão dos padres jesuítas, a partir do Alvará do Marques de Pombal, de 1759. As crônicas dos dois fatos, conotadas pela visão dos contendores, embalaram as muitas aventuras em busca dos tesouros. Certamente que as lendárias minas de Itabaiana concorreram, desde o final do século XVI, para chamar a atenção para o pedaço pequeno de terra, entre os rios São Francisco e Real. Ademais, muitos fragmentos de outras estórias encantadoras sobreviveram, apontando para achados de moedas e objetos de metal, em vários pontos do território. Os sonhos e visões de Pedro de Alcântara, que alvoroçaram Jaboatão, Aracaju, e repercutiram no Estado e no País, reproduziam, ainda que de modo difuso, as velhas crenças de tesouros enterrados. Dizia-se, por exemplo, que o coronel José Agostinho Daltro, fazendo obras no antigo convento do Retiro, construído em 1701, no município de Laranjeiras, encontrou moedas que totalizaram 20 contos de réis. Um certo frei David, dizendo-se possuidor de um “roteiro”do tesouro pediu permissão, em 1873 ou 1874, para fazer escavações em torno do Cruzeiro de pedra de Jaboatão. O respeitado padre Artur Passos, que durante décadas assistiu às populações do sertão do São Francisco, e que foi vigário de Porto da Folha, afirmou em maio de 1931, no clamor das “revelações” sobre o Tesouro de Jaboatão, que julgava “igualmente existirem em São Pedro de Porto da Folha e outros lugares onde jesuítas e carmelitas exerceram seu ministério.” Nem os historiadores escapavam da crença nos tesouros. Clodomir Silva, autor do monumental Álbum de Sergipe, editado em 1920, ao comentar a expulsão dos jesuítas, diz: “Reação é natural tivesse havido, visto que os padres se não conformariam com a rigorosa medida de sua expulsão e seqüestro dos seus bens, os quais quanto a objetos de uso comum e alfaias das Igrejas esconderam em seguros esconderijos, a recato de qualquer busca, mais rigorosa que ela fosse. Daí a lenda de riquezas ocultas no Poço das Queimadas, perto de Geru, no Retiro e sob as pedras do cruzeiro da igreja arruinada de Jaboatão.” O engenheiro Leandro Diniz de Faro Dantas, diretor do Colégio Ateneu Pedro II à época da presumida descoberta do Tesouro de Jaboatão, lembrou, em entrevista, que teria sido o bandeirante paulista Francisco Pereira de Melo, seu 5º avô, o arrematante principal dos bens dos jesuítas em Sergipe e que teria sido a sua esposa a quem deu a Jaboatão a invocação de Nossa Senhora do Desterro, em homenagem a Nossa Senhora das Agonias. E que tinham sido, cento e tantos anos depois, por volta de 1865, o senador Antonio Diniz de Siqueira e Melo e Antonio Diniz Dantas e Melo,( seu pai), os construtores da atual igreja na mesma praça e defronte do primitivo cruzeiro, entre este e as ruínas do convento. Nas suas declarações Leandro Diniz de Faro Dantas diz que “era corrente naquelas cercanias do cruzeiro os jesuítas haviam enterrado um grande tesouro, destacando-se um sino de ouro com a respectiva corrente.” A euforia causada pelo noticiário em torno do Tesouro de Jaboatão levou a imprensa a buscar nos depoimentos de pessoas de várias origens, como Maria Pureza do Carmo, que em 1931 contava com cerca de 90 anos de idade. Ela dá ingredientes novos à tradição da lenda do tesouro, ao dizer que : “ouviu do pai que existia no convento um frade chamado Pacífico, homem bom e gostava muito de ajudar a pobreza. Era muito antigo e naquele tempo já andava por cima dos oitenta e muitos. Ele sempre falava que antes de morrer contaria ao seu maior amigo um segredo importante. Mostrava de vez em quando umas coroas de ouro, umas santas também de ouro… Junto do padre, entretanto, tinha um cozinheiro que botava sentido a tudo, e o povo dizia que ele era muito amigo de um frei João. Nos dias de festa frei Pacífico distribuía com as crianças de Jaboatão umas medalhinhas parecendo prata e a que se comportava bem ele dava um dinheiro em moeda, que parecia ouro… O convento era uma beleza, aquelas imagens bonitas, aquelas mobílias de madeira escura e pesada, a louça branca e azul, tudo isso meu pai me contava.. O povo dizia que ali dentro tinha muita riqueza e que na guerra com os homens brabos aquilo tudo foi enterrado e num lugar bem escondido. O velho Jerônimo havia ajudado a cavar uns buracos compridos e esse serviço era sempre feito da boca da noite em diante, sem ninguém ver.” Maria da Pureza conclui suas lembranças dizendo que caindo doente, frei Pacifico foi assistido por frei João, sem dar oportunidade a que o velho e moribundo frade conversasse com qualquer outra pessoa. O segredo, então, poderia Ter morrido com ele, ou passado para o companheiro de ordem. Agrega-se aí a notícia em torno do frade Cândido da Encarnação, citado por Isarias do Carmo Sarmento, comerciante de cereais, com 56 anos (em 1931), com família em Quebrangulo. Ao tomar conhecimento dos sonhos e visões de Pedro de Alcântara, Isarias mandou uma carta para A Tribuna. dizendo ter conhecido o descobridor do Tesouro de Jaboatão como sacristão do velho frade, em São Miguel dos Campos, e que sabia que existia um velho papel contando da existência de um grande tesouro no rio São Francisco, entre Vila Nova (Neópolis) e Pacatuba, deixado por um sobrinho do frei Cândido da Encarnação, de nome Pascoal, assassinado em São Braz, entre 1924 e 1925. O documento teria isso parar num cofre de um negociante português, em Maceió, Comendador Ramalho, já falecido, e que “tinha pago um dinheirão” e que teria sido roubado por um sócio italiano, de nome Mandarim ou Mandarino. O conteúdo da carta de Isarias foi contestado por um habitante de São Miguel dos Campos, através de carta que A Tribuna publicou. (continua) Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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