O título indesejado

Autor: Adson do Espírito Santo

Graduando em História – UFS contato: adsonaes@yahoo.com.br 
Monitor da Disciplina História Contemporânea II ministrada pelo Prof.Dr. Dilton Maynard (DHI/UFS)

Poucos sabem deste triste dado, mas o Brasil, que sempre foi reconhecido mundialmente pelo futebol apresentado, atualmente carrega outro título, este bem indigesto: em 2012 fomos os líderes mundiais em mortes ligadas ao futebol. E ao que parece tudo indica que seremos bicampeões.

A seleção brasileira é atualmente a única pentacampeã mundial de futebol, feito que nos faz sentir um imenso orgulho em sermos brasileiros, de pertencermos à nação mais vitoriosa do futebol. Mas infelizmente as últimas notícias vindas dos gramados não vêm sendo causadoras de alegrias em nossos torcedores, e no público que gosta de ir aos estádios. O futebol parece ter migrado das páginas esportivas para as páginas policiais.

É certo que nem todo brasileiro está orgulhoso pela morte de Kelvin espada, torcedor boliviano da equipe do San José atingido por um sinalizador vindo da torcida do Corinthians. Isto mesmo, não há erro de digitação no trecho acima, nem todo brasileiro está orgulhoso. É que em meio a algumas torcidas (des)organizadas isso é motivo de orgulho, já que episódios como este acabam elevando o status “guerreiro” da torcida. Citando ainda este caso, é difícil acreditar que o jovem de 17 anos foi o único responsável pela morte do garoto boliviano. Por mais incrível e contraditório que pareça o desafio de seu advogado é convencer que seu cliente é o único culpado. Demonstrando seu apoio ao garoto, a torcida corintiana conseguiu uma bolsa de estudos integral numa faculdade particular para o jovem torcedor.

O fato mais perturbador desta atual presença do futebol nas páginas policiais do país, além das mortes é claro, é a naturalização que acompanha essas mortes. Muitos acham que são apenas fatalidades, como se o risco de morrer ao ver seu time de coração num estádio estivesse escrito no verso do seu ingresso em letras miúdas, impossíveis de serem lidas. Muitos reclamam do fato da COMEBOL (Confederação Sul Americana de Futebol) ter punido apenas o Corinthians, pelo fato de brigas e mortes acontecerem em várias partidas sul americanas. Mas punições como esta não deveriam começar em algum momento? O que terá de acontecer para que os torcedores passem a enxergar o esporte além do amor que sentem pelo seu clube, seja ele qual for. Foi o Corinthians, mas poderia ser o Flamengo, Vasco, Palmeiras, o que não se pode permitir é que mortes sejam encaradas com indiferença, como um fato isolado, tornando tragédias como a da Bolívia apenas mais um dado.

Um outro ponto que não podemos deixar de lado, é a atuação da  FIFA, entidade que simplesmente fecha os olhos para tudo isso, como sempre o faz em seus escândalos de corrupção. Morte após morte esperamos alguma atitude a respeito destes casos, que não são exclusividades do Brasil. Somos apenas os líderes mundiais nesta nefasta competição.

Tudo parece indicar que iremos sustentar este título, medidas a curto prazo devem ser tomadas tanto pelas autoridades competentes no futebol, quanto a pela Polícia e pela Justiça. Por mais paradoxal que possa parecer, o Brasil possui uma legislação esportiva muito avançada porém, como várias outras leis no país não são devidamente exercidas. Assim não é necessário elaborar uma nova legislação esportiva, basta apenas cumprir o que está escrito, ou será necessário uma tragédia de proporções bíblicas para que a lei seja cumprida pelos torcedores brasileiros?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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