De 6 a 9 de janeiro de 2005, Laranjeiras viverá quatro dias de glória ao reunir pesquisadores de várias partes do país. Grupos folclóricos locais e de outros municípios, e um público fiel que, há 30 anos, põe em relevo e destaca a cultura popular. Não há no Brasil nada igual, nem parecido, com o Encontro Cultural de Laranjeiras no fomento à pesquisa, no estudo e na divulgação do folclore. Laranjeiras é uma escola, no sentido de uma consciência pedagógica, gerando debates que têm passado a limpo o entendimento estabelecido nas academias e fora delas, restituindo ao povo o poder comunicante de sua lúdica, como memória social, atemporal, disponível como fonte de consultas. São mais de quatrocentos textos, elaborados sob inspiração do Encontro Cultural, renovando a bibliografia da cultura popular brasileira. Tudo começou em 1976, quando o então prefeito José Monteiro Sobral procurou a Secretaria da Educação e Cultura do Estado para pedir ajuda para uma festa que desejaria realizar, por ocasião do Natal. A idéia foi parar na Assessoria Cultural da SEC, que a levou ao Conselho Estadual de Cultura para apreciação. A discussão acalorou-se até que nasceu a idéia do Encontro Cultural de Laranjeiras, dedicado a pesquisar, estudar e difundir a cultura do povo sergipano, a partir daquela cidade que guardava, em atividade, muitos grupos folclóricos: Taieira, São Gonçalo, Reisado, Cacumbi, Chegança, Lambe – Sujo, Caboclinhos, e muitos outros que imortalizaram chefes como Bilina, Lalinha, Oscar, dentre os mais ativos e recentes. O professor e pesquisador Bráulio do Nascimento estava, à época, presidindo a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, órgão da estrutura organizacional do Ministério da Educação e Cultura, e forneceu recursos para que Laranjeiras realizasse, em maio de 1976, o seu I Encontro Cultural, garantindo a edição de discos, em compacto duplo de vinil, com a Taieira e o São Gonçalo, de Laranjeiras, a Chegança e a Zabumba, de Lagarto, álbum de xilogravura, de Enéias Tavares Santos, cadernos de folclore, sobre a Chegança e sobre o São Gonçalo, de autoria de Beatriz Góis Dantas, promovendo uma documentação pioneira. Laranjeiras não dispunha, então, de local para sediar o Encontro. As sessões de estudos foram feitas na nave central da igreja Matriz e as apresentações aconteceram num circo, alugado pela Secretaria da Educação e Cultura para tal fim. Graças ao sucesso do I Encontro Cultural de Laranjeiras a cidade recebeu benefícios, teve alguns dos seus monumentos restaurados, como o Mercado Público, o Trapiche, os prédios da Câmara e da Prefeitura, e teve, também, melhorada a sua pavimentação. Não há como negar, que os Encontros Culturais deram a Laranjeiras vida nova, resgatando a sua tradição de cultura, antes letrada, erudita, hoje ágrafe, popular. Evidentemente que nem tudo tem sido flores ao longo de 30 anos. A falta de recursos, sempre alegada, tem prejudicado os Encontros, porque limitam a vinda de convidados, proíbem, praticamente, as publicações dos Anais dos anos anteriores, além de extinguir a Jornada de Estudos Medievais, que eram feitas durante o período do Encontro, aproveitando as presenças dos estudiosos, verticalizando as análises. As Jornadas atraíram especialistas de Portugal, Espanha, Itália, França, Estados Unidos, Chile, Argentina, México, e contribuíram para relacionar os repertórios transplantados do velho mundo para as terras descobertas além do Grande Mar Oceano. Neste ano, quando a festa será pelo XXX Encontro, as condições financeiras da Secretaria da Cultura limitam o programa. O enorme esforço do Secretário José Carlos Teixeira em buscar parcerias e patrocínios garantem, felizmente, a realização de evento. É preciso reconhecer que a data não ajuda, porque a máquina administrativa encerra o ano e não abre ainda o ano seguinte, o que atrapalha as etapas burocráticas dos gastos. O governador João Alves Filho, que teve a oportunidade de promover 10 edições do Encontro e estar no comando do Governo na edição do XXX Encontro Cultural de Laranjeiras, pode reforçar o orçamento do importante evento, garantindo a Laranjeiras e a Sergipe os aplausos nacionais. Homem sensível, de formação artística e intelectual reconhecida, João Alves Filho pode assegurar recursos para que o XXX. Encontro esteja a altura da fortuna crítica que o evento angariou no País e fora dele. Na segunda metade do século XIX um grupo de sergipanos, liderado por Tobias Barreto, deu ao Recife e a sua Faculdade de Direito posição destacada na renovação da ciência, da crítica e da filosofia, debatendo os fundamentos da cultura brasileira. O movimento intelectual conhecido como Escola do Recife, contribuiu, enormemente, para que o Brasil tomasse caminho próprio na organização da cultura na sua própria sociedade. Com Laranjeiras, cem anos depois, sergipanos abriram caminho a uma nova compreensão da cultura popular, da organização dos grupos sociais, esclarecendo sobre capítulos fundamentais da história brasileira, contando com manifestações autênticas de uma arte popular universal, cujo mostruário Sergipe guarda zelosamente. Tais iniciativas, que timbram a sergipanidade, dão a Sergipe, seu povo, seus administradores, seus estudiosos e pensadores uma posição destacada, de liderança, no processo cultural do País. E isto é um bem, uma conquista, um avanço, representativo da luta que desde os tempos da colonização Sergipe empreende, como forma insubmissa de participação. O Encontro Cultural de Laranjeiras é um símbolo, irretocável, da presença sergipana na vida brasileira.
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