Obesidade: o crescimento mundial dessa outra grande pandemia

Cartas de amor são escritas não para dar notícias, não para contar nada, mas para que mãos separadas se toquem ao tocarem a mesma folha de papel.

Rubens Alves

Podemos citar diversos fatores que conduzem a explicações alternativas possíveis para a ocorrência do crescimento da obesidade em nossa população.

Dormir pouco

Pessoas que dormem menos de sete horas por noite tendem a ter índice de massa corpórea (IMC) superior ao de pessoas que dormem mais, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos EUA,outrossim de maneira semelhante, com base no Estudo de Saúde de Enfermeiras norte-americano,que acompanhou 68 mil mulheres durante 16 anos, é possível constatar que as pesquisadas que dormiam em média cinco horas por noite ganharam mais peso do que as mulheres que dormiam uma média de seis horas, as quais, por sua vez, ganharam mais peso do que aquelas que dormiam sete horas por noite.

É bem sabido que a obesidade prejudica o sono, de modo que talvez as pessoas primeiro engordem e depois passem a dormir menos, no entanto esse estudo com as enfermeiras norte-americanas sugere que a correlação também pode funcionar no sentido inverso: a perda de sono é capaz de precipitar ganho de peso.

Convém salientar de que um fator que pode influenciar essa situação é a maneira pela qual a escassez de sono pode altera de forma significativa o metabolismo.

Sabe-se que o nível de leptina (hormônio que sinaliza a saciedade) se reduz, enquanto o de ghrelin (hormônio que sinaliza fome) aumenta e isso faz com que cresça o apetite, concluímos portanto de que ao que parece, estamos de fato dormindo menos.

Em 1970, as pessoas dormiam em média 8,5 horas por noite nos EUA,já uma pesquisa conduzida em 2014 pela Fundação Nacional do Sono norte-americana sugere que essa média caiu para menos de sete horas.

Casamento de gordos e de magros

Da mesma forma que as pessoas formam casais com base em aparência, elas o fazem também com base em tamanho. É por causa disso que as pessoas magras tendem a se casar com outras pessoas magras,e as gordas, com gordas. Em um estudo realizado com 1.341 famílias canadenses realizados alguns anos atrás, constatou-se que existe pequena,mas firme correlação entre medidas de obesidade, registradas tanto em termos de IMC quanto de “superfície de pele”,para os componentes de casais, e que não é possível justificá-las com base no fato de que vivam juntos, ou seja por si só, a ideia de que os iguais se atraem não responderia por aumentos na obesidade, porém combinada a outros fatores, especialmente ao fato de que a obesidade é em parte genética e ao fato de que pessoas mais pesadas têm mais filhos, ela pode intensificar os ganhos de peso gerados por outras causas.

Alterações Climáticas

Como todos os animais de sangue quente, os homens conseguem manter as temperaturas de seus corpos constantes, a despeito do ambiente, por causa desse fato é que manter-se aquecido ou frio requer energia, a não ser que estejamos na “zona termoneutra “em torno de 27ºC, que cada vez mais vem dominando as nossas casas e os nossos trabalhos.

A proporção de casas com ar condicionado vem crescendo junto com o consumismo nos últimos anos, e nas regiões aonde a obesidade é mais frequente esse número duplicou.

Estudos de pessoas fechadas em câmaras de respiração por alguns dias demonstram que, em temperaturas confortáveis, utilizamos menos energia, ou seja suar resulta em queima de energia, e existem bons indicadores de que temperaturas elevadas reduzem a quantidade de alimentos que as pessoas consomem no Seu dia a dia.

Poluição

Na vida cotidiana, as pessoas estão expostas a dezenas de milhares de produtos químicos industriais, pesticidas, corantes, flavorizantes, perfumes, plásticos, resinas e solventes., portanto isso nos leva a concluir que nós os engolimos, inalamos e absorvemos pela pele continuamente e constantemente.

Há indicações de que a presença baixa de certos produtos químicos pode levar a ganhos de peso, na Áustria uma pesquisa observou que ratos que receberam pequena dose do pesticida dieldrin, por exemplo, registraram índice de gordura corporal mais de duas vezes superior à média.

O hexaclorobenzeno, outro pesticida, fez com que ratos de laboratórios ganhassem mais peso do que a média, ainda que comessem apenas metade do consumido pelo grupo de controle.

Parte desses produtos químicos perturba o sistema endócrino e interfere no funcionamento de hormônios como o estrogênio, por causa disso alguns estudos realizados com animais e seres humanos sugere que quando o estrogênio não está funcionando de forma adequada induz ao surgimento de adiposidade; e infelizmente a exposição a produtos químicos vem aumentando gradativamente nos últimos anos, o efeito estufa que o diga.

O mundo sem tabaco

Má notícia: os fumantes realmente tendem a ser mais magros do que as demais pessoas, e abandonar o cigarro de fato causa ganho de peso, ainda que ninguém saiba ao certo o motivo.

O fenômeno provavelmente se relaciona ao fato de que a nicotina trabalha como inibidor de apetite e, aparentemente, acelera o ritmo metabólico.

De acordo com alguns estudos europeus, a probabilidade de que as pessoas que haviam abandonado o cigarro nos dez anos precedentes ao estudo tivessem excesso de peso era superior a que calcularam para as pessoas que nunca fumaram e para as pessoas que continuaram fumando.

Isso não equivale a dizer que abandonar o cigarro representa risco de saúde pública – longe disso, o que sabe com toda a certeza é de que fumar é tão perigoso que seria preciso engordar por volta de 45 quilos para justificar a manutenção do vício…Portanto é de bom alvitre lembrar de forma incisiva de que o cigarro mata!

Envelhecimento da população mundial

Diversos estudos realizados pelas companhias de seguro de vida constataram que os adultos entre os 40 e os 79 anos tinham probabilidade de obesidade três vezes maior do que os jovens, curiosamente sabemos de que as mulheres não caucasianas também tendem a se enquadrar no extremo mais gordo do espectro, enquanto que as mulheres de origem latina tem chance 30% maior de adquirirem obesidade do que as caucasianas, salientando o fato de que nas mulheres negras esse risco é duas vezes superior.

E infelizmente, e de forma paradoxal, graças aos avanços da medicina atual esses grupos etários vem representando cada vez maiores percentagens da população.

Nas últimas 4 décadas a faixa etária entre os 40 e 65 anos cresceu mais de 40% na maioria dos países desenvolvidos, notadamente os emergentes latino-americanos e os de origem afro-descendentes, significando que essas tendências demográficas podem responder, pelo menos em parte, pela incidência mais elevada da incidência do aparecimento da obesidade.

Medicamentos de uso contínuo

Medicamentos de combate à psicose, os anticonvulsivos usados no tratamento da epilepsia, os remédios contra a hipertensão, os inibidores de protease usados para tratar o HIV e os remédios para diabetes, entre os quais se destaca a utilização da insulina, foram todos associados a aquisição de quilinhos adicionais. Os betabloqueadores geram ganho médio de peso de 1,2 quilos para os seus usuários, e usar pílulas anticoncepcionais por dois anos em geral acrescentam cinco quilos ao peso da paciente.

Ainda não existem provas concretas de que exista uma ligação direta, mas não resta dúvida de que o uso dessas medicações remédios surgiu ou cresceu ao mesmo tempo em que a ascensão da obesidade ocorreu.

Influência da Vida Intra-uterina

As chances de se tornar uma pessoa gorda podem ser determinadas antes do nascimento, constatou-se que os filhos de obesas têm uma probabilidade muito maior de terem o mesmo problema, embora isso possa ser atribuído à genética, há indicações de que uma “programação intra-uterina” possa certamente ocorrer.

Em alguns estudos experimentais realizados na Austrália observou-se que as crias de ratos alimentados com uma dieta de alto teor de gordura durante a gestação tinham probabilidade muito maior de se tornarem gordas do que as crias de animais com dieta normal, e infelizmente esse efeito pode persistir por até duas ou três gerações.

Sabe-se também, com base em estudo de pessoas nascidas durante a grande fome na Segunda Guerra, que a restrição de energia para o feto pode levar a obesidade, os estudiosos daquele período puderam observar que isso ocorria quando ocorria um período de crescimento rápido nos dois primeiros anos de vida.

Excesso de Peso x Fecundidade

Outro fato curioso e bastante perigoso é de que as mulheres mais pesadas geralmente têm mais filhos, inclusive alguns estudos americanos chegaram a observar que havia “correlações pequenas, mas altamente significativas “entre o IMC e os índices de reprodução”.

Mulheres com peso normal ou baixo tinham, em média,3,2 crianças, enquanto as obesas ou com excesso de peso tinham 3,5, a pergunta que não quer calar é a de que será que ter mais filhos faz com que as mulheres ganhem peso ou a questão é a contrária? Por enquanto acredita-se de que ambas as respostas sejam válidas.

Ter muitos filhos pode fazer com que cresçam as chances de obesidade no mínimo por conta da escassez de sono, no entanto observa-se de que o IMC das pessoas antes de se tornarem pais também está intimamente associada ao número de filhos que terão.

As explicações variam bastante e muitas vezes de forma cientificamente equivocada, mas no entanto a magreza extrema prejudica a fertilidade tanto entre os homens quanto entre as mulheres, em contrapartida a obesidade extrema também, mas com efeito menos intenso.

Maternidade tardia

Um dos fatores inerentes a vida “ Moderna “ é o fato de que as mulheres estão tendo filhos mais tarde, hoje no Reino Unido, a idade média para ter o primeiro filho é de 28,6 anos, antes era de 24,7 em 1985, enquanto que nos EUA, a idade passou de 21,4 anos em 1986 para 26,9 em 2010.

Isso não influenciaria a situação não fosse a observação de que mães mais velhas parecem representar um fator de risco para obesidade nos filhos, diversos estudos realizados na Inglaterra indicam que as chances de que uma criança se torne obesa crescem em 14% a cada cinco anos de aumento na idade da mãe.

Em um dos estudos constatou-se que as ovelhas nascidas de mães mais velhas acumulam mais tecido adiposo em seu primeiro ano de vida, além disso também foi percebido que o primeiro filho de uma família humana tem mais gordura do que os irmãos posteriores, e convém lembrar também de que à medida que cai o tamanho das famílias, os primogênitos passam a constituir proporção maior da população.

Conclusão

Realmente existem suspeitos principais quando se trata de explicar a epidemia de obesidade: o estilo de vida acomodado do Ocidente, a urbanização da população rural e as práticas de produção e marketing da indústria de alimentos, são alguns desses grande fatores causais..

Mas qualquer correlação causal entre eles e a obesidade às vezes torna-se difícil de comprovar de forma mais efetiva, observou-se em um estudo realizado por especialistas em obesidade dos três continentes uma interessante conclusão: de que quaisquer indícios de que essas sejam as causas principais da epidemia “são em larga medida circunstanciais”.

Em outro estudo levado a efeito no Canadá foram recrutados 1812 alunos em 50 escolas do país e os dividiu de forma aleatória em grupos experimentais e de controle.

O grupo experimental recebeu dieta melhor, mais atividade física e aulas sobre comida e estilo de vida saudáveis, os pesquisadores fizeram uma pesquisa minuciosa dos hábitos e da qualidade de vida dessas crianças estudando-as por três anos,e curiosamente elas não demonstraram redução se seu índice de gordura corpórea.

A correlação entre assistir TV e obesidade nos jovens foi comprovada estatisticamente, mas não é forte o bastante para fazer diferença em termos clínicos, além do que apesar das pessoas obesas comam porções maiores, não há prova de que seja isso que cause seus problemas.

Sabe-se que os dois principais fatores de obesidade são importantes, porem ainda faltam provas concretas e definitivas contra eles, além do que muitas pessoas acreditam que tenha chegado a hora de deixar de presumir que sejam as únicas causas dignas de investigação.

No entanto certamente uma coisa é indiscutível: o gordo é refém da vida moderna e com todas as causas referidas cada dia tem maior dificuldade em ser magro.

Uma boa e magra semana, com muita saúde, paz ,atividade física e acima de tudo fique em casa!

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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