Asclério gritou pra mim.

Asclério gritou pra mim, vocalizando o Deputado Marcel Van Hattem em seu artigo no Jornal Gazeta do Povo: “O mundo agora sabe: o Brasil vive uma ditadura”.

Dizer que Asclério grita, é uma inverdade.

Falta-lhe a ressonância altifalante de um autofalante qualquer, ou mesmo de uma forte caixa de som de trio elétrico, porque nenhum microfone consegue amplificar o que lhe sai com muito esforço das cordas vocais, sob pena de lhe extravasar as grossas veias pescoçais.

Asclério tem voz fraca, num espirito fortíssimo, sempre se encolerizando com o noticiário, porque teima em se alistar nas discussões tolas, arrumando cismas, com o que vê, lê e ouve, agitando-se como sal efervescente em borbulhas e espumas, que se espalham e logo decantam, semeando o desencanto de todo noticiário acontecido, restado perdido e esquecido, mesmo aquele que se nutre como hiena, dos despojos apodrecidos, por malícias e carniças.

Asclério não ama o deletério, nem por rima!

Ninguém o tira do sério, afinal rejeita o impropério e até o despautério, de sorrir com misto sarcástico do adultério, sempre comum insinuado.

Insinuado, diga-se também, por mal ouvido e pior compartido, fingindo não falar dele, mesmo parecendo bancar o sério e posar isento, indiferente, porque no final quem muito fala, se não consente, mas avalisa, glosa contente e goza feliz, sobretudo com as rusgas dos outros, cada parte contando a própria arte, cabendo sempre o desafio de em mal engenho e pior descarte, surfar no riso e na dor vizinha, o seu próprio despudor, sua malícia comezinha.

Porque Asclério muito bem sabe, que nessa história melíflua de bem tolerar e dissertar sob os erros de cada um, não há inocentes, nem bons moços, afinal bem vale falar daquela reunião em que todos se elogiam santos, mas que em desaparecimento de um capote, só um resta na chuva ao desabrigo. Ou seja: “todo mundo é bom, e só o capote não encontra seu dono!”

Dizendo assim, e sem se levar a sério, Asclério passa indiferente a tantas harpias, que não se veem comuns assim, tão comovidos e comedidos, fruindo os repastos apenas dignos; de urubus, corvos e hienas!

Asclério os observa apenas como criaturas de Deus, ou da natureza, cada um com sua missão e estreiteza, a quem vela até o pedido impossível do próprio Deus humanizado: “Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem!”

Ou, por que não dizer melhor: o que esperar, se a sua, deles, natureza; lhes é tão rasa!?

Ao confirmar assim, não fica difícil passar Asclério indiferente e querer somente gritar guinchento contra o lamento distante do tolo grito do Deputado Van Hattem lá nos Estados Unidos da América, que só agora dali “o mundo sabe que no Brasil vive-se numa Ditadura”.

– Ditadura de que, ó Asclério, por que falar de Ditadura, se o Brasil por repetição de palavras tolas, desvirtuamo-lhes qualquer valor e realidade?

– Ditadura, que se respeita, só podemos falar das famosas “ditaduras do proletariado”, tão amplas e convividas, por décadas!, nos diversos países da esquecida “cortina de ferro”, de “saudosa memória”, para muitos ainda, onde muros de arrimo eram construídos para cercear os cidadãos de uma mesma nacionalidade, e em Cuba, maravilhosa, ainda hoje, nos muitos países africanos que não vogam, e ate naquelas mais famosas: na Alemanha de Hitler, e na Itália de Mussolini, derrubadas, não pelo próprio povo, mas pelas forças das armas, via Guerra Externa!

– Ditadura também foi a de Francisco Franco na Espanha, e de Antônio Salazar em Portugal, caídas de pé, uma com cravos repartidos, e a outra compartida numa monarquia parlamentar e democrática.

– Acaso, realmente, já vivemos uma Ditadura, mesmo se dizendo amplamente que os Governos de Deodoro da Fonseca e do Peixoto Floriano, foram tempos discricionários e ditatoriais?

Por acaso Getúlio Dorneles Vargas, em 15 + 3 anos de Presidência, exerceu com contundência massacrante Ditadura?

Por acaso foi tudo Ditadura, se dos quinze primeiros anos, uma eternidade!, dois deles foram de lutas revolucionários, quase uma guerra civil separatista, quatro anos constitucionais, e só sete sob  o tacão da “Constituição dita Polaca”,cujos efeitos maléficos, por sociais, restaram tão benéficos que o seu governo caído, sem sangue nem trauma, depois retornou com o aplauso do povo, para ser derrubado só com o seu suicídio?

-Ah, mas Ditadura verdadeira foi a dos Militares!, grita Escanche, movido a revanche, que hoje vibra com tantos tolos patriotas curtindo uma cadeia por alguns vidros quebrados, nunca a merecer anistia ou alforria.

Para Escanche, de 1964 a 1985, vingaram os vinte e um anos “ditos de Chumbo”, com cinco generais-presidentes e o Congresso quase todo tempo aberto e legiferando: Humberto de Alencar Castelo Branco, três anos (1964-1967), Arthur da Costa e Silva (1967-1969) apeado por um derrame cerebral, Emílio Garrastazu Médici, (1969-1974), Ernesto Geisel (1974-1979) e João Batista Figueiredo (1979-1985).

Generais cujos mandatos ensejavam correntes ideológicas nem sempre continuadas, nenhum deles dando golpe para se perpetuarem nem reivindicarem reeleições sucessivas, embora o historiografia os classifique como um tempo de “Disfarce legalista para a ditadura (1964-1968), Anos de Terror de Estado (1969-1978) e de Reabertura Política (1979-1985), para o deleite de Escanche, reivindicando insaciáveis revanches.

Anos que em Sergipe, pelo que nos interessa em termos de proximidade de umbigo,  os Governadores se sucederam, cada um com sua notável gestão administrativa em operosidade e tolerância: Sebastião Celso de Carvalho, ligado ao PSD, substituindo como Vice-Governador a Seixas Dória que fora do governo cassado por sanha maior revolucionária, Lourival Baptista, ligado à UDN, Paulo Barreto de Menezes, um técnico apolítico, José Rollemberg Leite, um prócer antigo do PSD, e Augusto Franco, um grande empresário, todos eleitos indiretamente pela Assembleia Legislativa, considerada então suprema heresia por “bionicidade”, palavra tola na época que mascarava a debâcle nas urnas de qualquer oposição ao regime.

Sim, porque nesse tempo, todos poisavam de “audazes revolucionários”, bafejando os militares e os embevecendo com palavras sobremodo vazias.

Vazias, baixias e baldias, porque nunca tanto se falou em heroísmo e braveza, incomodando na cova até Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, que hoje talvez se sinta melhor, e mais feliz, por esquecido.

Esquecer mesmo, quem não esquece são os  que lucraram com a “Ditadura”, afinal sua brandura exibe tantos que querem auferir mais pelo cocorote recebido.

E nesse amplo cocoricar, nunca tantos sofreram tanto em lágrimas a produzirem cheias de rios esguios maiores que o Solimões-Amazonas, o Mississipi-Missouri e o Volga, sem falar do Nilo e do Danúbio, e Sergipe sem conseguir prantear do São Francisco ao Rio Real um cadáver para chamar de seu.

Para que um cadáver, se só um é um tolo trauma, como bem referia Josef Stalin em comparo de milhares só por mera estatística?

Assim eis o Brasil e as nossas Ditaduras, igual ao Papa Francisco denunciando e glosando, “muita cachaça e pouca oração”!

E agora sendo decantado pelo Deputado Van Hatem, um deputado inteligente, que ninguém o nega sê-lo, mas que posa pior e miúdo enaltecendo que no Brasil vive-se uma Ditadura e que esta vai se acabar só porque o mundo nos olha em desconfios!

E foi aí que o guincho de Asclério me fez lembrar de um filme jocoso, por antigo, que tinha por mote “Tanga (Deu no New York Times?)”, salvo engano com Henfil, comediante sarcástico, herói daqueles anos plúmbeos, tão cínicos, quão pasquínicos, em que pouco chumbo foi assestado em tantos alvos enaltecidos, a merecer estudos imemoriais e ainda; de cinismo!

Porque o cinismo de agora fica por conta do Brasil e da chamada “Direita”, essa que junta muita gente na Avenida Paulista, mas que não sabe ainda a sua força real e o seu valor.

Quem quer vencer tem que respeitar as eleições e conquistar a multidão para a vera luta definitiva.

Essa coisa de denunciar Ditadura e querer que de fora venha um adjutório para nossos males, seja por efeito laranja, do Trump, ou dos Republicanos de plantão em Washington, é tolice para iludir outros Asclérios, que não devem ser levados a sério.

Entre o impropério por revanche dos Escanches, o despropério sibilino insinuado, e o guinchado de meu amigo Asclério, queixo-me de todos, e só os comento por lamento e comparo, porque eles acontecem, infelizmente!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais