Está demorando muito.

Recentemente houve uma pane no site do Banese e caiu um chuvisco de reclamações, clamando pela privatização deste que é, talvez, o derradeiro e mastodonte;  banco estatal.

Digo mastodonte, permitam-me dizê-lo, porque continua pesado e difícil de carregar, impossível de concorrer sem o cartorialismo que o protege, enquanto carteira exclusiva de pagamento dos servidores públicos.

De um banco, sabe-se que vive dos serviços prestados enquanto instituição financeira.

Dir-se-á que um banco trabalha com financiamentos, esta coisa sempre mal vista pelo olhar daqueles que maldizem o aproveitar-se da imprevidência de homens e mulheres que não conseguem ter parcimônia nos gastos, muito menos o necessário provimento de ganhos, e assim têm a necessidade de se amparar no poupado por outrem, no caso uma instituição financeira autorizada, ou um particular qualquer terceirizado, ou por pior,  um infrator contraveniente, à margem da lei, que disso se apropria, constituindo senão um crime, um aviltante dirime, explorando ágios abusivos.

Do ágio e de sua agiotagem predadora, em abuso de mal alinhe, sempre foram tidos como pecados, desde antigas eras, tanto que nos idos medievais, por exemplo, era restrito à carcamana banca, sempre requerida por governantes e estados insolventes, que farejavam qualquer tesouro, onde o ouro ali estivesse, escondido ou esquecido.

Curioso, é que a humanidade, nos seus muitos descaminhos, desencaminha-se do mesmo jeito e regra, uns poupando, outros dilapidando pródigos, numa conta, nunca tida o zero como bom resto no final, tudo igualando, entre minuendo e subtraendo, mas restando desigual, a gerar déficits comuns, impagáveis; ou bem zeráveis a perder-se-de-vista!

Como a agiotagem era tida como uma atividade pecaminosa e imunda, os banqueiros da idade média restaram misturados ao submundo sombrio das sociedades, onde depois, em guetos e cloacas escondidos, foram restringidos os judeus, sempre banidos em diásporas e pogroms acossados no mundo inteiro, dominando, ate por conta disso, o conhecimento necessário para sua imprescindível sobrevivência, em pouco recurso e em extrema poupança, passando a constituir por previdência azada, em parcimônia e economia, uma elite financeira, tida como avarenta, agourenta e usurária, mas sempre  necessária e previdente, nas incertas horas das guerras, dos dramas e das disputas.

Do dinheiro, artigo necessário para as trocas, sabe-se que ninguém é autossuficiente no que produz e consome, diante do fato de uma pedra valer um prato de lentilha, um queijo poder pagar um beijo, e tudo ficar num desejo, de quem o dinheiro não tem.

Nesse contexto de permuta, num tempo em que o dinheiro não resgatava o bom aceite, fala-nos a Bíblia no Genesis, que Esaú, o filho mais velho de Isaac, que era musculoso, bastante cabeludo e não muito inteligente, num dia de muita fome, trocara a sua progenitura, então uma titulação importante, com o seu irmão gêmeo, Jacó, que era frágil, caçula e ladino, por um raso pires de lentilhas, iludindo até o pai já cego e senil, usando até por embuste um disfarce em pele caprina, para receber a Bênção que não lhe pertencia, afinal com progenitura não se negocia.

Negócios à parte, e do feito e malfeito acontecido, Jacó precisou enganar o velho pai, Isaac, tendo a conivência de Rebeca, a mãe dos dois irmãos, num disfarce em pele de bode fingindo ser o peludo Esaú, recebendo por este engodo a bênção que não lhe pertencia, num negócio que findou em mal aceite, e rejeitado, e em continuada inimizade.

Em muitas trocas do tipo, por facilidade de permuta, e dirimir, quem o sabe, outras contendas, nesse tem ou não tem contínuo de satisfação e desejos, e por facilidade das  relações de troca surgiu o dinheiro, representando a mercadoria, e permitindo a ampla comedoria, satisfazendo desejos e vontades.

Se antes uma carrada de melancia saciava um mastigar tamarindo, no mesmo digerir, e em outro preferir, melhor era trocar a fruta primeira por uma fungada de pimenta nas ventas, porque o humano é sempre assim nos seus múltiplos desejos.

Assim surgindo o dinheiro, permitindo todas as trocas, inclusive as impossíveis, do mastigar tamarindo ao fungar de pimenta, por melhor rapé, em aspiro nas ventas.

Como pimenta nos olhos é bom colírio para alguns, diz-se que o mal do mundo é o dinheiro, ou seja o capital, este mal cabedal, dos ricos sempre explorarem os pobres, desde que a humanidade existe, com os eternos insolventes e crescentes, em tantos sempiternos vis, dos fortes explorando os fracos.

Se o dinheiro não traz felicidade, quer ver infelicidade, faltem-lhe na mesa os seus frutos!

Faltando o dinheiro, tudo falta, daí o eterno pedido do pão hodierno na prece maior dos cristãos.

Sem ele, o dinheiro, faltam-nos o trigo plantado e colhido, e o trabalho amassado e remunerado do padeiro, em sua presciência do ideal assamento.

Do dinheiro, em longa história, chegou-se à cunhagem de moedas, afinal por suprema criação humana houve por bem convencionar que um pequeno disco, com cara e coroa gravados, melhor representaria um dedal de abóbora, um caçuá de torresmo, um balaio de jurubebas, ou uma noite de amor com a quenga mais famosa do puteiro, porque estes gozos sempre existiram, isso em profissão muito antiga.

Ou seja, a moeda, e só ela, permitiu a fluidez e o anonimato das relações de troca. Quem a tinha podia adquirir tudo, inclusive uma orgia estabanada.

Dizer assim, logo viria o bom ou mal uso do dinheiro, uns poupando e enriquecendo , outros dissipando o que tinha e não mais possuía, passando a ser devedor penhorado e mau falado, por cedente e inadimplente.

Deste contexto de más falas, o devedor passou a ser mutuário em contrato de mútuo, por empréstimo, e aquele que empresta, passou a chamar-se instituição financeira  livrando-se da pecha agiota, que a denegria.

Nos novos tempos todavia, se não há mais o usurário agiota, por contravenção e crime, também não há o “velhaco”,antes tido por “arapuqueiro” e “xexeiro”, hoje apenas inadimplente, e/ou, “negativado”, acabando também, aquele ilusório sedutor, o “xexeiro”, imortalizado na verve de Felini, em “As Noites de Cabíria”, gozando sem remunerar, e que bem vale rever.

Mas, eis que eu me afasto dos bancos públicos, criados para serem diferentes, já que os bancos privados seriam entidades de uma agiotagem consentida, mas nem por isso tida e havida como justa, na eterna demonização do Capital.

Do Capital, eu lembro alguns fatos, já que a acumulação de riqueza ainda hoje é vista em olhares enviesados e desconfianças.

Charge recebida via Internet.

Recentemente, eu mesmo recebi pela internet uma charge mostrando alguém que se defendia por ter assaltado um Banco, argumentando em seu favor para o Juiz Julgador, que fora o Banco, por primeiro, a assaltá-lo!

Nesse proceder, os Bancos seriam, indistintamente, os comuns assaltantes de todos nós, seus usuários, em juros e taxas abusivas, uma acusação que não se estenderia aos Bancos Estatais e Públicos, por uma falácia de que ao “pertencer ao Estado”, constituiriam patrimônio do cidadão comum, aquele que não tem direito algum, senão o de ser escorchado pelo mesmo Estado, sempre perdulário e ineficiente.

Dos Bancos, sabe-se que vive das trocas inerentes ao dinheiro.

Embora não vendam farinha nem bacalhau, muito menos cueca ou maniçoba, ou promíscua troca de germes sexualmente transmissíveis, os Bancos são entidades comerciais que vendem dinheiro, a mercadoria essencial que permite viabilizar todas as trocas, sobretudo hoje com o PIX, esta maravilhosa revolução inserida pelo, cada vez mais formidável, Presidente Bolsonaro, numa economia digital hoje gerida nas nuvens.

Se antes guardávamos dinheiro debaixo do colchão, ou enterrando no chão do jardim, como Harpagon, o avarento de Molière, lembremos que no mesmo “miseré”, ou “perelué” parecido, lê-se no Evangelho de Mateus 25;27,  que Jesusamaldiçoou o servo que enterrara o único talento recebido, dizendo que melhor teria sido pôr a moeda sob a guarda de um Banco, onde algum juro bem seria auferido!

Cito o Evangelho dos Talentos, porque desde aquela era, e com Jesus em suas Parábolas, os Bancos eram entidades necessárias.

Quanto ao dinheiro acumulado, a rapacidade estatal é insaciável, sempre encontrando justificativas para tirar de quem tem algum vintém; só para si!

Nesse contexto, vale lembrar de Felipe IV, o “Belo”, o injusto rei francês por não tão bom, mas insolvente e financeiro, que em garfando o tesouro dos outros, leia-se dos judeus, sempre recolhidos e perseguidos, e dos Estoicos Cavaleiros Templários, ousou até queimá-los por heréticos em praça pública, tomando-lhes o ouro, com ele centralizando o Reino enfrentando uma ordem feudal decadente, inclusive ousando esbofetear por um seu preposto até o Papavigente, Bonifácio VII.

A história bem vale referir porque os frades torrados na fogueira lhe jogaram uma praga tão notável, que ele próprio, um Rei de Mármore Capetíngio, ou um Rei de Ferro Capetiano, sumiu junto com a sua descendência em tempo exíguo, com mortes suspeitas, adultérios e esterilidades de três sucessores efêmeros, substituídos pelos Valois em uma outra dinastia.

Hoje, o homem é o mesmo e o Estado, em novo Felipe o Belo, pode desapropriar sem invadir nem torrar ninguém na fogueira.

Basta uma digitação simples, via computador, e os Bancos providenciam a desapropriação do que ali está recolhido e guardado, afinal ninguém enterra mais os proventos no jardim, nem os coloca debaixo do colchão, mesmo porque a inflação tudo corrói, exigindo que sejam investidos os recursos nos diversos fundos chamativos, concorrendo com a Poupança, tida hoje como um mau investimento.

Mas, voltando aos Bancos Estatais e a ineficiência relatada tendo o Banese como bola da vez na crítica.

Seria ela infundada? Não creio, afinal pelo que sei, meio mundo de gente se infelicita com o seu atendimento.

Bom seria que houvesse uma ampla oferta de serviços com a abertura de novos Bancos, e que o funcionário publico pudesse bem escolher onde deveria investir o seu dinheiro, ou auferir o seu salário, pelo menos!

Que os Bancos estatais perderam a guerra na concorrência com as agências financeiras privadas, todo mundo o sabe, infelizmente há um receio no enfrentamento da casta sindical que ali está encastoada e que vê na privatização uma ameaça à sua ineficiência.

Para estes, soa como anátema, pensar na privatização das estatais, mas um dia chega…

Mas está demorando muito…

Ontem foi a vez da Sabespa, a mastodôntica empresa paulista de saneamento, isso depois de uma barulhenta batalha campal, travada sobretudo nas amígdalas!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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