“Flopando”

“Flopando”

 

“Il y a trois sortes de savoir : le savoir proprement dit, le savoir-faire et le savoir-vivre ;
les deux derniers dispensent assez bien du premier”.
 
Há três espécies de saber (ou conhecimento): o saber propriamente dito, o saber-fazer e o saber-viver;
os dois últimos dispensam suficientemente o primeiro”.
Talleyrand-Périgord
 

Diz-se de “flopar”, palavra nova utilizada pelas chamadas “redes sociais”, estas também novíssimas, tidas mesmo por deletérias e perigosíssimas, iguais àqueles jornais surgidos quando a imprensa esboçava passos primeiros de independência frente ao poder constituído.

Ah, o poder! Como é difícil o poder se sentir rejeitado pela ignara cidadania, a merecer o obscurecimento que a escraviza e a amestra, igual à fera circense, que não se conhece, nem mesmo a própria força reconhece!

Ah, o povo em desembesto. Ninguém o contém: Nem bala, nem lei, muito menos a força das baionetas.

Das baionetas, disse Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord (1754-1838), um gênio político, justo àquele que não o precisaria, Napoleão Bonaparte (1769-1821), um general comandante e assaz vencedor, sem igual, no mando e no comando, num diálogo citado por Ortega y Gasset (1885-1955), em sua obra referida “La Rebelion de las Massas”: “Com as baionetas , Senhor, pode-se fazer tudo, menos uma coisa: sentar-se sobre elas”

Dizia assim Talleyrand, porque segundo ele, saber mandar não era uma questão de arrebatar o poder, mas o seu tranquilo exercício, bem sabendo ocupar o trono, assentar-se na cadeira poltrona, equilibrar-se nela, pelo menos; uma habilidade por serventia, mais de “nádegas que de punhos.”

Ao dizer assim, afirmava ainda o velho “diabo manco”, ele um ex-padre que traiu a jura e a batina, um seminarista expulso por excessivo abrasamento em fornicação contrariando o celibato, mulherengo sempre e coxo toda vida, servidor de muitos governos, todos eles, de Napoleão, como Consul e como Imperador duas vezes, na Restauraçãocom Luís XVI e até Carlos X, só para dizer que tais Burbons “nada esqueceram nem aprenderam” e por sorte conservaram as cabeças, e até de Luís Felipe, o monarca financeiro, Orleans, restando tricolor verve politica inconciliável da França de hoje, em ódios perpétuos; os republicanos exaltados, os insubmissos degoladores da esquerda jacobina, os da direita reacionária, e os excedentes animais pantanosos, palustres e lodosos, peçonhentos e perigosos, lembrando a todos que , : “Não se pode mandar contrariando a opinião publica”.

E aí o verbo “flopar” surge vitorioso no cochicho que se espalha mesmo com a proibição decretada em nova intolerância surgida, digna das piores lembranças de trevas idades.

“Flopada”, porque era esperada uma grande manifestação repulsiva aos “sinistros atos golpistas do 8 de Janeiro”, cada vez na surdina enaltecidos, restando fonte de violação das Leis, nódoa renhida de um estado autoritário vigente, que não se vê o quão intransigente permeia todo mal que anuncia repelir.

E nessas horas nunca faltam corifeus, aqui também nos apicuns dos maturis, tentando açular as massas contra os demônios bolsonarianos, para os quais são ternas as grelhas de suas invocadas fogueiras, e nenhum garrote lhes será suficientemente vil para erigir os patíbulos que almejam edificar por toda a nação.

São os hodiernos “amigos do povo” como Marat o foi um dia, e tantos “incorruptíveis”, com aspas mesmo, porque assim se veem e se contemplam, no que fazem e pregam, como novos Robespierre(s), e aqueloutros, bancando arcanjos,  “arcanjos de Deus”, como o fora um dia Saint-Just, hoje numa nova causa, sempre ao seu favor de uma “democracia”.

E outros como Beria nos famosos Processos de Moscou a gritar:  “não à anistia!”, “seja negada qualquer alforria a quem atentou contra a democracia!”, “essa gente precisa ser aguçada no espeto, com urgência, afinal são fascistas, e golpistas, direita que precisa ser liquidada e eliminada, nem que para isso se mude a Lei, por necessidade imperiosa”.

E aí eu me volto para Talleyrand, afinal por ver em demasia a violação continuada da liberdade em sua pátria, dissera como máxima o que nos acontece sobremodo hoje: “On peut violer les lois sans qu’elles crient”, sempre podemos violar as leis sem que elas gritem!

E depois muitos anjinhos inocentes se fingem de tolerantes, quando provocam verdugos a deferir açoites, naqueles que lhe são divergentes.

Ah, a divergência! Como é difícil aceitar o diferente!

Volta então Talleyrand sobremodo irônico, em francês mesmo só para posar como chato, boçal e em aporrinho  pernóstico : “Il n’y a qu’une seule chose que nous aimions à voir partager avec nous, quoiqu’elle nous soit bien chère, c’est notre opinion”. Só há uma coisa que gostamos que as pessoas partilhem conosco, e que nos é muito cara, é a nossa opinião.

O problema é que as pessoas “flopam” mesmo quando tentam calar os divergentes, tentando matá-los à mingua, atrevendo-se a desapropriar o seu ganho bem remunerado, sem roubo e lesão, ousando refutar-lhes o envilecimento da pena.

E assim a grande festa da nação, sem choro nem vela, restou desafio para carpição do que foi por ausência de povo.

E este povo que não tem dono, cada vez mais desconfia do “famigerado”, e assaz exaltado; “golpe de 8 de Janeiro”, preferindo acirrar um seu “flope”, próprio, perfilando um novo “flopar cancioneiro”, do fiasco acontecido, só para consignar que o “criminal” e criminalizado “apoio ao golpe”, longe de diminuir com todo esforço exaurido pela imprensa em branca chapa empalidecida, vem crescendo, e como cresce!

Estará crescendo como as nuvens em trovoada se formando?.

De tudo isso, vê-se que o palavrório pacificador, nutre o ódio e aviva pior a raiva, afinal o golpe não foi nem teria sido, só com quebra de vidros e mobiliário.

O problema nunca será o mobiliário danificado, com vidros despedaçados, o dilema é que tudo aconteceu sem nenhum dano a um seu usuário, por ideal destinatário, coisa de erro comum, grosseiro, ilusão de bagunceiro, dar um golpe cascateiro numa tarde de Domingo.

Fazer quebra-quebra num dia de piquenique? Não foi à toa que tudo foi à pique!

E ainda querem que o mundo lamente!

Lamentar um equivoco? Que desperdício de causa e força!

Com tanto “flope” constatado por memória, nem os móveis quebrados geraram pranteio.

Quanto aos “patriotas” ou “patriotários” que mourejam como novos mártires da intolerância estatal, melhor agiram os que ali não foram cantar odes, nem hinos, e nem rezar imprecando castigos aos céus, justo à beira dos quarteis, em terra de poucos gafanhotos e mais que excedentes infiéis, como não disse Tobias, o Barreto de Escada, na Escola do Recife, porque haja molecagem a cantar e exaltar nessa terra de tantos reveses tomados como revéis.

Nesse sentido, melhor é tudo ver e até se eximir de na luta se enfronhar com outra lição de Talleyrand, o sábio diabo coxo, citada por epígrafe: “Il y a trois sortes de savoir : le savoir proprement dit, le savoir-faire et le savoir-vivre ; les deux derniers dispensent assez bien du premier”. Há três espécies de saber (ou conhecimento): o saber propriamente dito, o saber-fazer e o saber-viver; os dois últimos dispensam suficientemente o primeiro”.

Um conselho a quem interessar possa, inclusive a mim, por que não? E aos “flopados”, sobretudo, porque as tempestades passam e só o estrago persiste.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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