“Não sou cavalo…”

“Não sou cavalo para ser manso”, protestava Francisco Manço de Paiva Coimbra, o matador do Senador Gaúcho, Pinheiro Machado, explicitando orgulhoso o cedilha mal assinalado, e por ele em jamegão bem assinado, por nome próprio e sem ser apelido, e que teimavam em grafar com s de manso, ou vertê-lo assaz pior, por Mâncio ou Mânsio, chateando-o sobremodo.

 

O incômodo não lhe era ser chamado de sicário, xingado como covarde, ser assassino torpe, e outras palavras vis que o escarrassem em desprezo, fúria ou desprezo.

 

Ele bem sabia que mereceria o ódio de muitos, linchamento mais-do-que justo, do lado que não era o seu.

 

Sabia também que haveria aplauso farto de outra galera, a sua, mas que não existia então, a exaltar aquela ousadia de fulminar pelas costas o homem mais importante da República nascente, culpado de “tudo e dos canudos”, como se dizia então, justo num tempo memoriado por Nelson Rodrigues em que os homens cofiavam vastos bigodes, para elegância de bengalas e de chapéus, polainas em sapatos bicolores, coletes contendo as vísceras, apertos de espartilhos, sustentos por suspensórios e flores derramadas nas lapelas.

O Senador Pinheiro Machado Wikipedia

 

O tempo era 1915, mais de um século para traz.

 

Mas, as paixões, como as de hoje; iguais continuam!

 

Hoje o grande vilão é Bolsonaro, o capitão, que agora está cassado.

 

Cassou-o a “democracia”, sem recurso nem esperança, afinal é preciso calar, para soar melhor o uivo do eleitorado incômodo, metade da nação menos um fiapo de linha, do que foi escolhido e não auditado, mas precisa ser urgentissimamente; apagado! Para ser logo deslembrado.

 

No tempo do espartilho e do bigode, esquecia-se menos; e o punhal era outro!

 

Igual à bala que matou Jean Jaurès na França, quase no mesmo tempo, um ano antes, em 1914, só para dizer que a intolerância vale para um lado e para o outro.

O Jornalista Jean Jaurès, fundador do jornal L’Humanité. Wikipedia

 

Poder-se-á compreender o assassinato do Senador Pinheiro Machado, por ser ele um homem de “direita”, um político Conservador… Diz aquele bilioso de esquerda.

 

Já o tribuno Jaurès era um audaz Socialista, estava até empreendendo uma campanha notável, por pacifista, justo na sua França que houvera sangrado tanto em tantas guerras acontecidas.

 

Dito assim por amparo, Manço deveria restar louvado, e Raoul Villain, o matador do jornalista Jaurès, de L’Humanité, envilecido.

 

Manço apunhalou Pinheiro Machado pelas costas no Hotel dos Estrangeiros, no Bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

 

Jean Jaurès foi baleado, entre garfadas distraído, no seu cear pacífico no Café du Croissant, em Paris, local que ainda hoje exibe a mesa por cena, com placa memorial.

 

Raoul Villain, o matador de Jean Jaurès e a cena do crime no Café du Croissant, Paris Wikipedia

 

Os que poisam de direita, como agora o Capitão Bolsonaro, segundo vasto lavrar da imprensa pátria, devem ser apodados, emasculados a pau e macete, para que os de esquerda sejam logo enaltecidos.

 

Ambos os assassinos, por solerte arrimo, estavam animados pelos idos sempre sinistrosos de Brutus e Cassius, matadores de Cesar, em quaisquer tempos e atos, todos provindos do belicoso Marte, que envenena, alucina e apaixona a lide política exaltada, em canto e verso.

 

O ódio que nutria Manço de Paiva era passional igual ao de Raoul Villain, o jovem nacionalista francês que baleou Jaurès, por ser este um pacifista incômodo. Ambos açulados por comentários passionais da imprensa da época, que nunca deseja tanto, mas contribui.

 

De Manço de Paiva, sabe-se que cumpriu pena, de quase trinta anos condenado, sendo depois alforriado por Getúlio Vargas, por conta dos entreveros surgidos pós 1935.

 

De Raoul Villain, encarcerado por cerca de cinco anos enquanto durou a guerra, teve seu crime perdoado em 1919, quando a França vencera a Alemanha, sendo a viúva de Jaurès, em julgamento terrível, condenada a pagar as custas do processo que inocentou o matador de seu marido.

 

Se houve depois um desfecho menos infeliz, deva-se à liberdade de Villain, afinal os seus costumes belicistas iriam enfiá-lo na Guerra Civil de Espanha, onde findou fuzilado pelos republicanos contra quem lutava.

 

Há assassinos outros, que restam impunes e jamais desvendados como aquele que matou Olaf Palme, o socialista sueco, e a Detlev Rohwedder, o político descrito pela Netflix como  chefe do programa de privatizações na Alemanha Oriental, antes da queda do muro de Berlim.

 

A política e seus apaixonados creem que é possível tudo mudar na ponta da faca e no libelo.

 

Estamos a viver tempos diferentes com a cassação de Bolsonaro?

 

Tem gente que vibra.

 

Tem gente que lamenta.

 

E tem gente que destila ódio nos escritos, querendo mais: um Mâncio, talvez um Mânsio, ou a bala bem apontada de um Villain!

 

É gente tola, querendo mudar o mundo.

 

Mudará?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais