Nem pensar remotamente…

Após sucessivos revezes, o Presidente Emanuel Macron, resolveu convocar eleições antecipadas para o parlamento francês.

Foi uma surpresa geral, dos mandatários deputados aos jornalistas sempre ciosos do seu próprio eleitorado.

Falaram mesmo em um gesto suicida, afinal Macron está ainda no meio do seu mandato, faltando-lhe quase três anos, e não cabendo portanto tão imanente por obtusa decisão.

Por quê a pressa, perguntaram aqueles que se fisgaram numa arapuca por prévia eleição, qual ante prévia de pururuca de leitão. Essa coisa de festejo em que o bacorinho, orna com a cabeça, a travessa exposta na mesa, para desfrutar novos convivas, salivando os comensais.

À decisão tomada por Macron me chegaram algumas reflexões.

A primeira vem de pátria nossa, poque em terra nostra já vigeu um regime parlamentar de governo, a princípio noPeríodo Monárquico, isso por mais de cinquenta anos, já que a partir do Grito do Ypiranga em 1822, e até o outro grito “bestificado”, em parada militar no Campo de Santana, onde o Império foi descartado e a República Proclamada, vivemos décadas seguidas de Governos Parlamentares em Regências sucessivas, e depois por efusivas “moderações” de um a Imperador que subiu ao trono imberbe, e dele desabou com vasta barba, só para dizer que a antiguidade e a juventude, valem pouco, muito pouco, que um discurso eloquente e inconsequente.

Falo da eloquência, referindo-me à inconsequência, porque neste campo de insciência, tudo vale no discurso que se faz germe em boa verve exaltado, desservindo e pouco servindo, perante os erros comuns dos homens.

Errando ou acertando pouco, fala-se que no Brasil, por remédio saneador de nossos males, ser o Regime Parlamentarista aquele ideal para gerir as nossas insatisfações continentais.

Pelo que nos aconteceu a partir do Império, e vale por seguinte reflexão, o resultado nunca foi pacífico, mesmo com o Presidencialismo, bem ou mal exercido, com eleições periódicas sempre acusadas de defeituosas, onde “Das Kapital”sempre foi acusado de todos os males.

Dinheiro, ó dinheiro, quem não o tem, que o amealhe!

Pelo menos era assim no meu tempo de criança onde o cofrinho de argila, guardava o troco chocalhando riqueza e prosperidade.

Minha avó mesmo dizia: “Quem aos vinte não barba, aos trinta não casa e aos quarenta não tem; não barba, não casa e não tem”. Hoje com quase oitenta, já barbei, estou casado, e o dinheiro espero por vir, como também o Brasil a um dia florescer.

Hoje, dizem que se vive melhor sem troco nem moeda.

O dinheiro esqueceu o metal, por necessidade fugaz de se renovar em pinturas de papel, e tudo continua igual; comprando, vendendo, alugando, fazendo o bem, fazendo o mal, tudo a seu tempo e,… corrompendo ainda!

Do nosso Parlamentarismo recente, nascido de um Golpe de Estado também, a título de endosso a um Vice-Presidente, João, Jango, Goulart, campeão nas urnas, mas inconfiável a muitos que perdidos no certame, ousaram reformá-lo a seu vezo e gosto, pegos de surpresa por uma renuncia inesperada do titular Presidente Jânio Quadros, que resolveu a si próprio “vassourar”, surgiu por emenda tida por salvífica da República, a introdução de um Regime Parlamentar, feito “nas coxas”, ou “nas pernas”, como assim se diz dos engravidamentos sem conjunção carnal, ou “só por escorrego e fazendo sabão, sem vingar penetração”, o mal sendo gestado às pressas por uma assembleia adredemente convocada, sem prevenir erros e imperfeições, para solapar os destinos da Nação.

Como o erro foi comum, logo em prazo exíguo tivemos três Primeiros-Ministros voláteis, Tancredo Neves, Francisco Brochado da Rocha e Hermes Lima, de 9 de setembro de 1962 a 24 de janeiro de 1963, juntos perfazendo uma inumada  gestação, que restou não nata, por abortada, interrompida, o feto findando sem carpição ou lamento.

Disse-se então, e eu o ouvi de alguns, em priscas e tolas eras, que tudo se passara por um erro na gestação do nosso passageiro Regime Parlamentarista, altamente fugaz, por provisório, afinal aqui não vigia o comum na França, de o Presidente convocar ao seu alvedrio e veneta, como o fez agora Emanuel Macron, chamando a Nação para eleições gerais de um novo Parlamento.

Quem ousaria por aqui ainda hoje, imaginar uma convocação antecipada de eleições gerais?

E se aqui isto seria um golpe terrível, mandar pra casa antes do tempo tantos Senadores e Deputados, hoje todos desgastados no que dizem e fazem, o que se vê na França é um choro desconsolado, afinal os adeptos do “Presidente Jupiteriano”, como assim definem sua soberbia, serão desbastados do poder numa eleição convocada em quase um mês de campanha.

Se nós aqui estamos convivendo com uma enxurrada de “pré-candidatos”, essa figura tola, inexistente, mas que está a se movimentar como “fogo fátuo corredor, fantasmagórico”, frente a uma eleição que irá acontecer só quando outubro chegar, o que dizer que na França todos os Deputados serão escolhidos nos próximos dois domingos, 30 de Junho, em 1º Turno, e 07 de Julho no . Os sufrágios só sendo repetidos nos Departamentos em que não haja deliberação por maioria absoluta dos votos validados?

É algo para bem pensar, porque ali sem urna eleitoral eletrônica, e sem justiça eleitoral autônoma, uma eleição geral acontece em pouca propagada e preparação.

Quanto às pesquisas de opinião, fala-se que o grande perdedor será o lado de Macron, que prosseguirá sozinho, talvez tendo que conviver no mesmo leito, com um Primeiro-Ministro pertencente a oposição, no chamado processo de “coabitação”, impensável em turras e divergências, mas que ali já se fez comum algumas vezes.

Isso, porém, é outra história.

No nosso caso, o grande dilema é o nosso Supremo Tribunal Federal, podendo tudo e tudo podendo, desafiando a paciência comum do cidadão, que sobre ele legisla tudo, do aborto à liberação das drogas; uma droga sem solução, nem com cuspe ou voto, nem com pedrada tascada na mão, afinal na nossa República, convive-se tão bem o principesco com o sacio da vitaliciedade, que até a ausência de eleições antecipadas se faz mais que necessária e impensável, e quanto mais um “Recall”, qualquer, se fizer distante e longínquo, melhor nele jamais pensar, nem remotamente…

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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