Pingolin Cascalho e Borralho Libacolho.

Dito assim sem ter morto de baralho para fossar, ou fuças de torto à recolher, Pingolin viu-se perdido no seu escolher do jogo.

Estava posto e reposto fora do jogo e do embaralho, porque nas cartas traçadas e retraçadas, sobrara pior que Libacolho, no viço de buraco descartado.

Descarte que o fizera triste, jururu, com o resultado auferido na ultima eleição, afinal votara em Lula em tola-via para presidente, por birra comum e resistente ao Mito, para ele genocida, pesticida e estuprador, mas defendido por Libacolho, justo o seu par preferido na conversa, no brinde da branquinha, e até na prosa caduca, cheia de causos e traumas, de pouco interesse a ser relatado em geral compartilho.

Quando a velhice nos alcança, quem se interessa com problemas de noticias decantadas, ou mal contadas, do que foi ou restou fadado?

Quem se interessa em perquirir, o porquê de Pingolin ainda se sentir estuprado, justo no Reto envelhecido, sobrando até hemorroidas saudosas de fissuras, por vis desejos de ardores não sentidos, mas que lhe seriam benvindos, almejados e bem carpidos, por afins sonhados em desejos, de exalar um halo heroico, ali ressentido e recordado, do que foi, e por mofo ainda não findou, nem apodreceu, em tantas bandeiras brandidas e perdidas, sem merecer bisados, inutilmente?

O problema é que ninguém se sente inútil, embora o tempo acolha a todos: até os sonhos, as tolas lutas, aí incluídos os doidos deslizes, pouco felizes, cometidos!

E erra-se muito quando os diálogos se ofendem, brandem palavras que ferem, por lancinantes e inconsequentes.

Por simples proselitismo de prévias eleitorais, Pingolin Cascalho dissera de Borralho Libacolho, ser este um “filhote da ditadura”, por não crer no sofrimento lembrado pelo amigo, culpando-o até por falta de solidariedade no pranto, justo este que sempre fora um ser equilibrado, sem sonhos exaltados de extrema posição, quanto mais ser inserido em tão vil acusação!

Libacolho, por recolho e não por borralho, sempre fora um sujeito equilibrado, distante de gestos e de sonhos extremados, um acomodado talvez, escanteado à direita por motejo e presenteio, em pouca avidez e muito desprezo! E porque não lhe sobrepesos de avidez carreirista, sempre fora visado pela esquerda, que lhe via na indiferença política, e na sua descrença em tanta empolgação acontecida, com tantos falsos salvadores da pátria brotados, um perigo a ser vigiado, quiçá esponjado, por reacionarismo latente!

Latência que permitiu as ofensas e abandalhas externadas por Pingolin, justo seu melhor amigo e confidente, naquela eleição polarizada, chamando Libacolho de escroto e genocida só porque votaria no Mito.

Você é um reacionário mesmo! – Escarrara Pingolin Cascalho mandando o amigo enfurecido para a casa do chapéu, e do carrilho; estribilho, que lhe assomara a gorge, eivada de fel.

E tudo terminara infeliz com o resultado acontecido, Libacolho perdido no seu escolho, com Bolsonaro derrotado pela urna inadotável e inauditável, e Pingolin vitorioso, com seu ELE de Lelé, bestificado, mas sem o amigo fiel, para glosar.

Do feito maldito acontecido, só não trocaram tapas porque a velhice e a caduquice os tolheram, Pingolin tropeçando no dito que mais ofendeu o amigo, do que a lesão que por avario lhe poderia acontecer.

Todavia, no canto floreiro das ideias, quem não se posta radical, radicalizado fica, e pior, resta por fim conivente, do que não fez nem defendeu.

Dir-se-á que não é bem assim, e que “tudo vale à pena quando a alma não é pequena”, ou quem o sabe, do corpo e da alma que nunca devem se deixar aviltar, se restar apequenado, ou quiçá, envilecido, diante do sonho, do desejo e da vontade!

Perdidos e vencidos, não restamos todos; valendo tudo e tudo valendo, até para repetir o insano, o impensável, por impossível, sem desbrio, por orgulho de altanaria? Dizer como o poeta que não se fazendo nauta, fingiu-se melhor singrando o mar salgado, e o sal nele espalhado, como lágrimas doridas e sofridas, e jamais perdidas, do Lusopadecimento português, em busca de glória!

Glória, ó gloria, onde está sua vitória!, se haverá sempre novos mares a perquirir e vencer, só para levar adiante o pavilhão da Fé e do Império, e até do próprio vitupério, comum de cada um, que se crê em demanda de conquista, do azimute nunca perfeito?

Assim em tantos malfeitos, de conquistas ruins e mal vencidas, a eleição passou e a decepção se espalhou, com o Mito satanizado agora, porque gastara pouco e realizou muito mais de que ousara, e lhe fora consentido, em tantos infiéis, presos porque foram rezar por ele, à beira dos quartéis.

Isso, porém, é o que pensa Libacolho, que nunca posara vivandeira, nem por zoeira em tempos sinistros de agora, nem por falsa-bandeira em tantos borralhos denunciados no antanho, continuando a viver dos seus proventos, em bom tamanho modestos e honestamente aferidos, em seu recolhimento tranquilo, sem querer ver nem ouvir, os rezingues de Pingolin Cascalho.

Quanto ao Cascalho Pingolin, este sim, sempre se achando fodido e mal pago, e insatisfeito de tudo e por tudo, adepto de quebra-quebras inúteis, de queimas de pneus poluentes, em turbulências várias com palavras-de-ordem e piquetes sem-fim, o diabo-á-quatro em protestos sempre indigestos e continuados ao escambau, continua sua eterna vau em ressentimento profundo, contra o capital e quem o tem.

A eleição findou e ele continua no mesmo tom em reclamação interminável, agora sem ter o amigo Libacolho, a quem chorar as mágoas.

Como tudo restou igual, e não há nada de novo debaixo do Sol, resta a Pingolin Cascalho sua contemplação em espelho, por recolho de bugalho, sempre igual e chinfrim!

Ou não restamos todos assim?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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