“Vade retro Satanás”, pausa ao Cardeal Mazzarino na saga Bragelonne.

Dando uma pausa ao Cardeal Mazzarino na saga Bragelonne.

 

Era meu desejo concluir um fato narrado em Bragelonne e a apoteose dos mosqueteiros, iniciado no texto anterior neste espaço.

Todavia, em terras brasileiras, e fora daqui também, vem crescendo uma perseguição implacável contra aqueles que são considerados como “ultradireita”, ou direita perniciosa, perigosa e ominosa, sendo-lhes criado um acossamento tamanho que, valendo tudo, vem despertando os velhos açulamentos de “caça às bruxas”, autos de fé, que bem se serviram de fogueiras e torturas, como pereceram Giordano Bruno na Itália, Galileu Galilei banido por incitar que a Terra era móvel e não fixa, e “a soma dos ângulos de um triângulo independe da vontade da Cúria, incúrias outras como a da mãe de Johannes Kepler, tal vez por pari-lo somente, essa coisa que, periodicamente, erige os maiores descaminhos da humanidade, em persecução e pogroms acontecidos, por radicalidade e intolerâncias, sempre motivadas por espíritos mais-que-puros ou supra puros, explícitos por desavergonhados, e implícitos, por indisfarçável vergonha de se apresentarem tão errôneos quão inidôneos, nas hodiernas Think-Thank, confrarias novas ou espécie de estribarias onde muitos na alfa bem se nutrem e se nivelam, fingindo não ser o que são, sem ver a própria estultice transparecer.

Porque assim contemplo e não concordo, enquanto cidadão tolo e mirim, manifesto a minha discordância frente ao estado geral do país, onde as liberdades têm sido ameaçadas com as injustificáveis quebras-de-sigilo e as inusitadas buscas e apreensões exaradas por quem não devia, porque são exações comanditadas exclusivamente por razões políticas, a merecerem o repúdio da casta viril dessa nação.

Porque penso assim e não me equivoco, interrompo o texto anterior, do lido e repartido no Visconde Bragelonne de Alexandre Dumas, dando pausa às vozes do Cardeal Mazzarino, então moribundo e temendo as danações eternas, e do Rei Sol, Luís XIV, um rei ainda em titubeios na mão de seus ministros, parando para refletir sobre o sinistro desenfreio vigente em pátria nossa, tentando aclarar um pouco a penumbra que se amanha no além da Europa, em Paris, terra das luzes, e na Alemanha, cantão da ciência, com a danação dos Partidos de Direita ali surgidos e preferidos, e também nos “aquéns” da América, terra de oportunidades, com o execrado e combatido Donald Trump,para os quais nenhum siroco intolerante lhes é sufocante em suficiência, em nova “guerra-santa” alevantada.

Eis, porque, interrompo o tema e o lema anterior, frigindo o ovo sem tisnar a gema, mas tentando assestar o mau problema, porque tudo vale nesse dilema, despertar-lhes até, os “anatemas”, desde que os eczemas sejam espicaçados, amplamente, como merecem todos os caçadores de bruxas.

 

Vade Retro Satanás!

Muitos colunistas de fora, imitados pelos que postam aqui, exibem periodicamente a sua aversão àquilo que lhes não é do agrado.

Agora a bola da vez é a chamada “ultradireita”, alguns entendendo-a como totalitária e atrabiliária, por fascista e nazista, assim infamando-a presto e rasteiramente, como se a humanidade possuísse uma vertente a extirpar, liquidar e eliminar, desde o nascedouro, ideologicamente.

E o pior é que a história em descaminhos da humanidade rotineiramente exibe essa contundência intolerante, chame isso como quiser; seja por perseguições religiosas, prescrições injuriosas, imposições de contrições danosas, ulcerações purulentas rancorosas, exações perniciosas, tudo que em princípio bem pareça necessário e ingente para ereção de fogueiras, enquanto assépticas barreiras, a impedir-lhes o prolifero.

São as eternas bruxas, sempre culpadas de tudo desde a idade média, seja o mal a peste, a cólera ou a úlcera, as fogueiras sendo eretas para produzir a assepsia imperiosa e imprescindível, nos bons discursos pregados por Savonarolas de plantão e Torquemadas de ocasião, em vastas cegueiras e autos de fé, conduzidos aos milhares em todos os cenários.

O que foi, repete o poeta, o que foi não é nada. Nem aquele que restou fumo por fuligem.

Não é nada, porque sempre pode tudo recomeçar, no mesmo erro, na mesma praça no mesmo jardim, mesmo lhe mudando o nome como a conspícua  “Praça da Concórdia” em Paris, onde alguns entraram com o pescoço cortado, e outros bem afiaram o cutelo, da bem chamada “navalha revolucionária”.

Agora mesmo, sirvo-me de um artigo de Patrice Jean no Le Figaro conflitando um abaixo-assinado, chamegado por mais de 1200 poetas no jornal Liberation, visando impedir que o escritor Sylvain Tesson presida a Primavera dos Poetas – 2024, evento que  anualmente acontece todo mês de março em Paris, desde 1999,  para divulgar e manifestar a extrema vitalidade da poesia.

Acontece que o governo Macron, ao substituir a Primeira-Ministra Élisabeth Borne pelo jovem Gabriel Attal, na tentativa de arrebanhar apoio no Parlamento, cortejou nessa mudança os partidos da direita confiável, justo aquela que vem sendo rejeitada por vasta parte do eleitorado, já que a ultradireita execrada pertence a Marine Le Pen,  aquela que ficou em segundo lugar na eleição presidencial passada, mas vem assumindo a liderança nas pesquisas eleitorais, e por isso, igual a Trump na América e Bolsonaro no Brasil, vêm sendo abominados pela imprensa, que lhes intentam cercear um cordão sanitário, embora continuem sendo bem aplaudidos pelas.

E nesse cortejo de barreira asséptica e cordel medicinal já erguido,  contemplamos uma  prévia de ereção de fogueiras, porque estes destemperados “zeladores da democracia”, entendem que esta sua particular democracia prescinde de qualquer vertente que não lhes seja aquela bem combinada e/ou permitida, com a melhor esquerda, entre variegado cipoal de siglas, todos eles enrustido por fraternal ideal “progressista”, tornado grande cloaca das insatisfações coletivas.

Dito assim, e com pouca justeza, por não aferida pelas urnas, entendem os peticionários, mil e duzentos poetas, uma exitosa maioria, que o segundo mandato de Macron vem deslizando espertamente para a direita; vendo na nomeação de Tesson, alguém acusado de pertencer à extrema direita, uma heresia que jamais deveria acontecer coordenando a Primavera da Poesia, justo a poesia aquela que é, fundamentalmente, o cerne da verdadeira liberdade de expressão.

Curioso é que o abaixo-assinado enseja uma contradição denunciada porque “se a poesia é um discurso “fundamentalmente livre”, também o deveria ser livre para não se submeter a injunções progressistas, evidenciando que o elogio à liberdade é completamente hipócrita”, como denuncia Patrice Jean, fustigando os 1200 poetas nunca tão ternos quão celerados:

“Não, os peticionários não amam a liberdade: amam a si mesmos e odeiam tudo o que não é do seu agrado”, fustiga Jean percuciente e sozinho contra mil e duzentos.

Seria Sylvain Tesson um “ícone reacionário” em toda sua obra, a ponto de ser execrado como alguém que não poderia estar a frente da primavera poética? – pergunta Patrice Jean.

“Saberiam dizer tais 1200 peticionários que Baudelaire fora mais reacionário que o execrado Tesson? Que existem grandes escritores reacionários: Chateaubriand (“um reacionário encantador”, segundo Gracq), Balzac que escreveu “à luz de duas verdades eternas: a religião, a monarquia”, Flaubert e suas provocações à revolução de 1848, Barbey d’ Aurevilly, Bloy, Céline, Bernanos, etc?”

“Por acaso os escritores são como os mil e duzentos peticionários, obcecados em assumir posições políticas, tentando introduzir o ativismo na literatura?” –  pergunta ainda o articulista Patrice Jean.

“Se não nos é possível ler Sylvain Tesson, todos estes censores, se quiserem manter-se consistentes, terão também de desistir de ler os autores acima citados, e mesmo outros como Dostoiévski ou Pessoa (talvez seja esse o caso, mas então, que empobrecimento!)”, e Nelson Rodrigues, acrescento eu, Roberto Campos, Guilherme Merquior, Gustavo Corção, e quem sabe quantos mais…

“Precisamos calar todos aqueles que não compartilham com as nossas ideias? O negativo não é necessário para o pensamento??

É por isso que eu me insurjo contra esses periódicos de uma versão única que nos condenam ao pensamento inato e estéril, como se estiola a nossa imprensa atual, sobretudo a partir do Governo Bolsonaro, que vem condenando os que dela divergem, como a “direitona criminosa”, aquela que precisa ser aniquilada, sendo-lhe vedado todos os espaços do pensamento…

Sempre li escritores que não eram próximos de mim política ou filosoficamente, para tentar compreendê-los.

Não se deixar surpreender por um escritor demonstra grande relutância e um retraimento questionável em si mesmo.

À pergunta do articulista aos peticionários, 1200 celerados, enquanto poetas, escritores vale por desafio, até para os daqui querendo execrar os nossos tolos patriotas do 8 de Janeiro, numa manifestação que virou bagunça apenas, e querem nos impingir que foi um grande golpe contra a democracia…

“O que passa pela cabeça de um escritor quando ele acaba de subir ao pódio contra Tesson” e outros redatores daqui contra os ingênuos, que só quebraram móveis sem arranhar seus usuários?

“Estão todos, – os dali e os daqui, estendo eu –  cientes de estarem fazendo algo sujo? Ou sentem-se orgulhosos, muito orgulhosos, de combater o fascismo, ou o que eles consideram ser fascismo, porque, não nos iludamos, na mente de um progressista, quem não pertence à esquerda é sempre um reacionário, alguém que se prenuncia como fascista?”

Tamanha veemência de 1200 contra um homem só, assemelha-se à cachoeira opinativa de alguns contra os “celerados golpistas do 8 de Janeiro”, para os quais toda condenação é suave, quando lhes faltam açoites eternos por estarem insatisfeitos com a nossa democracia.

Como é temerário ter certeza, estar convencido de ter razão, para ousar atacar, coletivamente, um escritor! E aqui atacar os anônimos “patriotas e/ou patriotários”, que imprecaram aos céus invocando quedas de muralhas, iguais àquelas de Jericó, sem Josué, mas como muito equivoco de fé, e sem merecer qualquer perdão, comiseração, ou mesmo um processo legal em defesa justa, por ter cometido uma tolice.

No coletivo de lá e no daqui, os dois não se assemelham a um linchamento, simbólico claro, “um linchamento, dito do bem”, por necessário, porque tudo agora vem sendo conduzido por indivíduos doces e delicados, 1200 lá, e alguns bichos-de-porco por aqui, ousando se assanhar como progressistas?

São estes tão doces que ninguém lhes pode denunciar uma violência? Uma violência que soa boa, só porque lhes parece ser boa e do bem?

Lá na França, a terra das Luzes e da Guilhotina, foram 1200 signatários, ditos poetas, reunidos contra um.

 

Nos apicuns daqui, pelo que falam e escrevem muitos periodistas, a caça às bruxas precisa se estender para cercear os cinquenta milhões de eleitores que restaram decepcionados na última eleição presidencial por suspeita de fraude.

“Cortem-lhes a cabeça!!!” – gritam agora os nossos articulistas, como se fora A Rainha de Copas, do Livro Alice de Lewis Carroll, pedindo hoje ao judiciário, e “deshonorando-o” inclusive, igual às vivandeiras dos plúmbeos anos nos idos de sessenta, quando no mesmo achaque açulavam os granadeiros no seus bivaques.

– “Não! Não lhes cortem a cabeça! Não, pega mal! – Mas identifiquem-nos todos, para desmonetizá-los, sem exceção, desapropriar-lhes os bens e conforme enfiá-los num presídio”.

Voltando ao relato fratricídio de Patrice Jean, leio que o execrado Tesson, “não é político, não tocou em nádegas proibidas (gostei do nádegas, por bundas nauseabundas ,sem desbundes), nem matou ninguém: ele apenas escreve livros. Ele tem estilo e elegância”.

Diferente dos daqui em sua baba hidrófoba em defesa da sua, deles só e exclusiva, “democracia”, não consigo garimpar nos seus escritos um única ganga de tosco brilho.

Há, porém, muitos que deles gostam, remunerando-lhes inclusive, por suas diatribes.

Na mesma lavra, na mesma larva, ou na mesma marva, por malvadeza, a execração manifestada só faria sentido para condenar um criminoso, um estuprador, e um fascista, “modus et rebus”, com direito ao ampla contraditório e bem merecer defesa e explicação.

Mas, na mesma expiação, os signatários da França e os desilustrados daqui perderam o sentido de proporção.

Se  ali cuspiram um escritor, aqui execram os “patriotários” com as suas ansiedades, seus medos, suas vaidades, e sua estupidez, e com o mesmo rigor científico com que as bruxas foram calcinadas no passado.

E, que lamentável! Repetem a mesma covardia com que muitos subiram a colina do 28º BC, repito, nos anos ditos de chumbo, para as contumazes denúncias solertes, que pervertem tudo e a tudo subvertem, permanecendo esquecidas e nunca esclarecidas, em infindas Comissões de Verdade…

Mas, como contestar, Mona Chollet, ela uma feminista bem conhecedora, se os progressistas gostam bastante de perseguir as bruxas?

Não é um impulso humano este que consiste em sacrificar regularmente uma mulher ou um homem, ou um grupamento incomodo qualquer, a  história da humanidade sempre nos ensinando que o Mal é sempre feito, justo em nome do Bem?

É tempo de convidar os peticionários, daqui e os de lá, atrabiliários e equivocados, sem exceção, a refletirem sobre a sua falta de moral.

Nunca é tarde para se retirar o nome de manifestos que um dia os farão comparecer perante o tribunal da história, como atiçadores  de bruxas.

Vade Retro, Satanás!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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