A Banda Reação, fincada no alto do morro do bairro Santos Dummont é a prova genuína da música de raiz, reggae, tendo começado a sua carreira em novembro de 2000. De lá para cá não parou mais e é hoje a forte promessa de emplacar um nome musical no cenário nacional. Formada por J. Moziah – (voz.guitarra), André Levy – (voz.percussão) ,Ras Lau – (baixo),Ras Firmino Firmeza – (bateria), Ana Mendes – (backing vocal) ) Nicolau – (teclados) ,André Blueman -(guitarra), Tonico(percussionista) e Anderson – (trompete),todos sem exceção, engajados no mais legítimo brado, contra as injustiças sociais, o apartheid, a falta de política social e cultural têm feito das músicas cantadas e compostas um verdadeiro testemunho do mais nobre reggae, depois de Chico Science(hip hop e soul) e Jimmy Clif, Peter Tosh, Bob Marley, aqui imortalizados por O Rappa, Tribo de Jah, Edson Gomes, Cidade Negra. Mas o que faz Sergipe que não patrocina o CD desta banda? O que faz o poder público e privado, omissos? A Banda Reação já se apresentou no Jornal Hoje,tendo matérias em jornais de grande circulação e tocou com bandas importantes conseguindo fazer chegar a diversas tribos a mensagem revolucionária da banda. Os primeiros que puderam ouvir a voz da banda foram os que participaram da Bienal da UNE 2003, tendo ali realizado 5 shows, tendo tocado também com Vibrações Rasta/AL, Nengo Vieira & Tribo D´Abrãao/BA, Natiruts/DF, Dj Dolores/SE, Lobão/RJ, Adão Negro/BA entre outros. Se o cabedal de participações, apoio total do público e identificação plena das massas, que até um mendigo dormindo, responde ao som da banda quando ouve, o que acontece por trás de tudo isso que não decola. Seria uma falta de profissionalismo dos próprios membros que não se organizam? Mas a banda já teve produtores famosos, foram levados à São Paulo, Rio. Recentemente, Falcão ficou deslumbrado com a Reação e nada – absolutamente nada acontece nem muda o quadro de vida pessoal dos seus componentes. As indagações são pertinentes e podem parecer amorais. Mas não são. É preciso que Sergipe jogue a banda pra cima. Patrocine e contrate seus shows. Ao entrevistar um dos membros ele me disse que “trocaria toda a fama, os holofotes, por uma cesta básica”. Alguns continuam pobres, sem dinheiro e um me pede emprego dizendo: “minha moto está parada. Arranje um emprego pra mim.” Só que todos eles são ricos, de um potencial criativo imenso, de uma filosofia de vida que comove. Eles estão além da mídia vendida às grandes gravadoras. Ao sair de ônibus com eles, gravando o meu programa de TV, numa jardineira, a cidade se levantava para aplaudí-los, todos literalmente “piravam” com o som deles. A impressão que tive por ora, foi que eles sublimaram o que se espera da palavra sucesso. Não estão mesmo preocupados com nada disso. Acreditam, todos eles, que a miséria que assola a periferia de Aracaju, não os faz merecedores só do dinheiro, nem da fama – tudo isso é incompleto se esta realidade não for mudada. A Banda Reação é legítimo talento de jovens negros buscando que o som deles seja ouvido. Mais que isso: é um legado para futuras gerações que não viram suas dores serem cantadas. Imprimir Reação, divulgá-la, patrociná-la, contratá-la é obrigação de todos que têm compromisso com a Cultura, já que nas últimas cinco décadas não surgiu em Sergipe, uma voz tão uníssona e forte como do grupo. O que creio é que existe um ódio a Sergipe quando se trata de valores que possam levar o nome do Estado pra fora. Que importância isso tem, – talvez nenhuma. Mas é preciso que se abra portas para talentos como a Reação, na música, Inácio na pintura, Santo Souza, na poesia, Parafusos, no folclore e tantos outros nomes que vivendo a maldição do cacique Serigy, dirigem a nau, mas não a governa. Severo D’acelino, o João Mulungu resistente, que o diga. Este ódio que cerca os destinos das pessoas que fazem a Cultura de Sergipe para o mundo, vem do ranço da cana de açúcar e dos senhores de engenho que, embrutecidos se tornaram brutamontes, espécies de homenagens vazias em academias. Com a imprensa vendida, o ouro vendido, as teles vendidas, os cursos pagos e as universidades que não patrocinam nada além das viagens dos seus reitores com suas mansões, o ódio a Sergipe vai da submissão por parte da população e da omissão por falta dos que detém o poder econômico. Enquanto houver uma banda como a Reação, haverá de existir alguma esperança, palavra esta quase morta, mas ainda possível diante do caos institucionalizado e do desprezo com os nossos artistas. Se Falcão namorou uma atriz global e teve tatuagem de seu nome na pele da atriz, posando para Caras, Contigos da vida e festas no Copacabana Pálace, a Reação não pretende este mesmo itinerário por achá-lo vazio e incompatível. E o que faz um rap debruçado sobre tamanhas futilidades? Mesmo um dos membros da Reação tendo namorado a Presidente da Funcaju, à época, não conseguiu sensibilizá-la para uma questão chave: lançar o seu CD e DVD. Se nem estas aproximações foram capazes de iluminar o caminho da banda, o que pode se esperar? Vivemos uma política da depreciação, onde o novo é sempre motivo de escândalo e de discriminação. A voz da Reação precisa ser ouvida, como o jornal “O Capital” de Ilma Fontes, resistindo ao ordinário e às políticas opressoras. É hora de trocarmos o ódio por uma outra palavra. Palavra esta que ainda precisa ser inventada.