Cartas do Apolônio
Caros amigos de Sergipe:
Naturalmente fui disfarçado, não só para fugir do assédio de antigos credores (que mesmo após vinte anos de ausência, ainda teimam em levantar vetustas questiúnculas), mas principalmente, para testar a eficácia da fantasia que escolhi para ir à Odonto Fantasy, diga-se de passagem, o principal motivo da minha inesperada viagem.
É que fui agraciado com um convite dos amigos Gustavo, Bruno e Edgar, os desorganizadores, digo organizadores da tal fantasiosa fuzarca. A passagem veio em anexo, naturalmente.
Para não carregar no tom folclórico e (por que não dizer?) dramático da viagem, dispensei a companhia de Zenóbia, minha patroa sexagenária que queria ir fantasiada de ‘Swertlana, a rainha dos felinos’. A anciã tencionava levar Flodualdo, nosso leopardo de estimação para se submeter ao constrangimento de passar a noite toda ao seu lado, no meio de tantas gatinhas bem menos obesas.
Expliquei-lhe que já tem um maluco que todo ano leva bodes, galos e guinés para lhe acompanhar na festa. Seria, convenhamos, um mico pouco criativo. Melhor treinar um pouco de balé, arte à qual a beletrista tem se dedicado com afinco nos últimos dias.
Pois bem, chegando à festa deparei-me logo de cara com umas quinze maravilhosas drag queens, que insistentemente conferiam os meus documentos. Depois de certificarem-se de que o varão era de fato um português, as transviadas moçoilas liberaram-me a passagem, proporcionando-me a visão de um verdadeiro paraíso terreal.
Incríveis Hulks, odaliscas molhadinhas, meninas super poderosas (aliás, quantas hein?!) e até, acreditem se quiser, casais fantasiados de Cones do Detran. Foi uma loucura! Isso sem contar o Ricardo Douglas fantasiado de ‘Gilmar Carvalho pós operatório’.
Alguns rapazes em fantasias sumárias, quase ficam com as vergonhas à mostra, para deleite de alguns indecisos de plantão.
Infelizmente não se pode dizer o mesmo a respeito das meninas. Pelo menos não vi nenhuma fantasiada de Luz Del Fuego, que , diga-se de passagem, seria um traje extremamente econômico e portanto adequado aos tempos de vacas magras por que passa o país do barbudinho Palocci.
Me diverti a valer e ao final da noite ainda caí nos endiabrados braços da rapariga Laudicéia e seus voluptuosos (e grandes!) lábios de mel.
Quanto á minha fantasia, digo-lhes que, modéstia à parte, foi bastante original e corajosa.
Original, pois não é todo dia que alguém homenageia Portugal neste país tropical abençoado por Deus e corajosa porque tinha certeza que os meus credores jamais imaginariam que eu me fantasiaria (eureka!) de mim mesmo.
Santa inteligência portuguesa! Fui de ‘Apolônio Lisboa, o entomologista proxeneta’. E graças a Deus, ninguém me reconheceu, o pá!
Até a próxima fuzarca.
Um abraço do
Apolônio Lisboa.