Omelete sem malhar os ovos.

Thomas Piketty é um autor bastante festejado pela nova esquerda.

As livrarias estão a vender seus recentes livros: “O Capital no século XXI” e ‘A Economia da Desigualdade”.

Festejado livro da nova esquerda.

Em ambos estudos, Piketty fala do desnível salarial como novo concentrador de desigualdades nas economias modernas.

Para ele, não é mais a remuneração excessiva do capital, frente a depreciação do trabalho, em discursões de mais ou menos valia que enseja a luta nas democracias que se atolam na necessidade de geração de emprego e renda.

Hoje, há uma confusão generalizada entre o que pensa um conservador, um liberal, um social democrata, um socialista e até mesmo um comunista, mesmo que envergonhado e não assumido.

Foram tantos descaminhos e desalinhos, que até as decantadas e bem desejadas “ditaduras do proletariado” estão demonizadas mundo afora. Ninguém as quer, enquanto sonho primaveril dos povos.

E tanto é assim que ninguém mais se ousa confessar como comunista: nem na visão científica de Marx-Engels, nem na ousadia revolucionária Lenin-Trotsky, muito menos na toada de Mao-Fidel Castro.

Bastaram o sorriso de Stalin, o bom cenho de Pol Pot, o desfecho de Ceausescu e o mal fecho do norte coreano Kim II-sung, para tudo isso ser varrido da história, com seus banidos defensores bancando in-dormidos lutadores por amplas liberdades democráticas, mesmo praticando terrorismo com arma em punho.

Ficou-nos deste munício apenas a preferência atual da utopia do estado de bem-estar-social, tão perdulário quanto irresponsável, resistindo ao regramento orçamentário, afinal na nossa natureza estatal e estatizante, sobrou audaz voracidade de recursos financeiros por uma crescente burocracia estatista, cuja remuneração refestela sobremodo alguns, prejudicando os demais que se ousam iguais, em direitos e deveres.

Refiro-me às crescentes demandas do serviço público, cujo sindicalismo tão múltiplo e fragmentado, quanto unido e reunido, em demandas continuadas guerreando no garrote e no piquete, para bem reivindicar as perdas salariais sempre denunciadas em tantos ganhos promocionais, seja de férias, ócio remunerado ou redução de jornada obreira, em detrimento do serviço encomendado

Encomendas à parte, não há reinvindicação provinda do servidor público municipal, estadual ou federal, que não conjugue a greve e a paralização, com o povo sofrendo na saúde, educação, segurança, perante tanta indiferença e aplausos plenos.

Todos tem razão para parar de trabalhar em greves sempre consideradas ao amparo da Lei.

Mal amparado é o povo que tudo sofre lá na outra ponta, todo mundo achando uma beleza da democracia sem freios, afinal o que não era para ontem pode bem ficar pra mais adiante,… ao dissabor da vontade de Deus.

E nesta criação desumana, onde até Deus reprovara, não há obreiro que sinta seu salário digno e não reivindique indignado sua cota maior nas costas e nas tetas dos governos, algo que vem se tornando verdadeiramente terrível.

Terribilidade, afinal não sendo mais a iniciativa privada a velha e execrável vilã, responsável pela concentração de riqueza, como denuncia Piketty, no caso brasileiro, em consequência de tantas demandas requeridas e tanta administração perdulária, a máquina pública é que vem sendo o grande construtor de desigualdades, com suas remunerações principescas e seus múltiplos sindicatos, tão parasitários quanto incontroláveis.

Se é o desnível salarial a mola mestra da concentração do capital no século XXI, que diremos das remunerações pagas pelo Estado brasileiro?

Se na obra de Piketty há uma série de gráficos e tabelas evidenciando a disparidade entre salários e vencimentos nas grandes economias do mundo, não se vê no amplo pensamento econômico pátrio um estudo similar, embora os dados se explicitem escancaradamente.

Nos dados ali discutidos não há nada que se compare com o estado brasileiro, mesmo porque a despeito de ganhos conferidos, ao abismo da racionalidade e da razoabilidade, limita-se o imposto sobre a renda, e extrapola-se o pagamento via leis e direitos conquistados, em privilégios tão espúrios, quão pouco esconjurados, a conferir senão um servilismo mal remunerado, mas uma plutocracia parasita, sem cabresto, descontrolada, num Estado, verdadeiramente insolvente.

E porque nesta insolvência está difícil pagar o salario funcional, eis que agora as nossas Assembleias Legislativas ressuscitam as velhas teses estatistas de lançar mão dos recursos particulares:

– “É só para pagar salario, minha gente! Pagar aposentadoria! É gente que trabalhou e merece, meu povo!” – Diz o Deputado, ou Deputada, porque nesta disputada, em tentáculo de polvo, gênero, sexo e preferência possuem o mesmo argumento demagógico. Sinistramente igual! Coisa digna da velha esquerda, tão perdulária quão irresponsável orçamentariamente falando.

Quando o orçamento, todo mundo o sabe que é uma conta de receita; crédito e débito. Só se paga o que se pode pagar.

Se não o é assim a conta não fecha. Mesmo avançando na poupança alheia.

– E o que fazer? Podem os governos deixar de pagar seus fornecedores e funcionários?

– Pode! E tanto pode que já o vem fazendo, por enquanto em modestas parcelas, embora juristas o digam que é determinantemente proibido, passível inclusive de alguma peia.

– Mas,… e neste país sem peia, uma lei possui monolítica ereção pilar ou é um rabiscado alvar, traçado na areia?

E em tanta construção arenosa e deliquescente, vale agora melhor escabrosamente o Estado abocanhar o de não sua pertença, via decreto de iluminados e bem construídos legisladores, arranjando bons motivos para avançar no que não é deles, mas pode sê-lo, porque assim já está decidido em onze Estados Federados, em maioria de suas assembleias; “só porque é para pagar o aposentado, ora essa!”

E neste particular de incontrolável gulodice, há uma coisa pior do que a emissão de uma estroinice qualquer. É aquela definida em maioria.

É quando a expertise revela a esperteza comum de todos. Coisa de jacaré, com cabeça de lagartixa, balançando o rabo, sem esconder a pouca vergonha, do que fez e aprovou, só porque pensa mal, nocivamente mal…

Se há depósitos judiciais é porque há uma demanda, em que os querelantes são partes que tercem argumentos em pretensões a serem dirimidas.

E só há depósitos em juízo porque confia-se na regra que norteia o arcabouço legal, o respeito dos contratos, e sobretudo porque credita-se ao Judiciário a guarda desses recursos. Uma guarda cuja espada deve ser incorruptível e firme.

Não é possível que tal espada fraqueje perante um arcabouço jurígeno oscilante  ao talante  de um dissonante Deputado. Ou Deputada, em mesmo arroto de gasosa por inusitada tolice.

Mas;… em  tantas tolices explicitadas sem opróbio nem vexame, pode-se tudo, por 16 a 5, ou em placar unanime, desde que seja para pagar o funcionário?

Se é assim, por que as Assembleias Legislativas não exibem um melhor exemplo baixando o próprio salário e de outras categorias remuneradas em demasia? Não seria uma briga melhor? Uma briga digna de Cérberus, aquele cachorro grande de três cabeças, guardando o orçamento como o Hades da mitologia?

Por que não pensar, em nível nacional inclusive, um teto salarial digno mais bem aquém do atual, vigente por extremo no Supremo Tribunal? Ou está tudo bem assim, com o pirão de alguns sobrando em falta geral de aipim?

Não! O pirão deve ser para todos. E é assim o que se confere nos estudos de Piketty, enquanto denúncia de concentração de riqueza no século XXI.

Se o Estado não pode pagar os seus funcionários, pensionistas e fornecedores, só há três caminhos a seguir; todos traumáticos:

1. Reduzir gastos em pagamentos e salários;
2. Demitir funcionários e comissionados;
3.   Aumentar os impostos

As duas primeiras serão dificílimas de viabilizar. Será uma declaração de guerra contra a pelegada sindical

Quanto à terceira, logo irá acontecer, penalizando toda a população.

Três heresias, segundo o contexto ideológico atual de Estado mastodôntico.

Fora disso, é querer omelete sem malhar os ovos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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