A mídia nacional nos brinda diariamente com notícias cada vez mais duras. Ao mesmo tempo em que nos acostumamos com essas notícias fortes, as mesmas começam a fazer parte de um mundo paralelo que estamos sempre observando como se nada disso tivesse alguma coisa a ver conosco. Essa tem sido a maneira que muitos de nós encontramos para viver e conviver com realidades duras e que, de certa forma, envergonhamos. Algo parecido quando alguma pessoa nossa conhecida está com uma doença grave e não dizemos o nome da doença.
Lamentavelmente, acredito que vivemos um pouco essa realidade no nosso país. Se por um lado soubemos como lidar com a crise financeira como a mídia e os órgãos econômicos nos informam, por outro lado, não conseguimos superar ainda a crise da ausência dos valores humanos construtivos que tem feito tremer as estruturas morais brasileiras mais sólidas.
Recentemente conversando com uma pessoa jovem e amiga que resolveu sair do Brasil ela me disse que nem gosta de saber das notícias, pois todo dia temos um escândalo novo para saber. E, dessa maneira o novo de ontem passou a ser velho hoje, pois outros fatos aconteceram.
Mas, sempre me vem à mente essa pergunta: O que aconteceu com os nossos valores humanos construtivos? Lembro, quando vim morar em Aracaju achava engraçado que na rua em que moro ainda hoje as pessoas ao final da tarde iam para a calçada colocavam uma cadeira e ficam conversando. Como eu vinha de uma grande cidade achava aquilo muito pitoresco e interessante. Com o passar dos anos, pouco a pouco, sólidos muros foram levantados e, a partir daí todos ficam dentro das suas casas.
Justamente, embora eu não percebesse esse era o primeiro sinal que a crise dos valores estava acontecendo e, normalmente, essa crise começa com a destruição dos valores básicos: educação, segurança (um teto, um salário digno e alimentação) e saúde; portanto, se falta isto nas famílias muito outros valores desmoronam. No entanto, percebemos, pelo menos no caso brasileiro, quem nem sempre os problemas estão inseridos nas classes mais pobres.
Mas, o que são os valores humanos? Valores são orientações para a vida, ou seja, são regras profundamente arraigadas que nos dizem que certo modo de ser, certo resultado ou uma determinada resposta é preferível à outra. Os valores são demonstrados externamente por meio de comportamentos. Quando afirmamos que uma pessoa faz o que diz, significa que não existe diferença entre os seus valores e comportamentos. Ou seja, os valores “dizem” os comportamentos “fazem”.
Todos nós, desde crianças começamos a receber das nossas famílias um conjunto de valores que, na maioria das vezes, permeiam toda a nossa vida; todavia à medida que vamos crescendo, até nos tornarmos adultos outros valores vão sendo acrescentados às nossas vidas.
Assim sendo, pessoas diferentes poderão adotar e viver os mesmos valores, como por exemplo, a honestidade, que tem o mesmo significado em qualquer lugar do mundo. Os valores de uma pessoa ou de uma comunidade representam uma declaração aberta de como se espera que todos se comportem, sem exceção.
Há alguns anos atrás fui convidado para visitar uma empresa que queria contratar a FBC para fazer um trabalho com seus empregados. E, no primeiro contato que tive nessa empresa uma coisa me marcou muito. A pessoa que conversou comigo para me colocar a par da demanda da empresa me falou: “Olha, somos uma empresa familiar, e uma coisa que prezamos muito é a palavra dada. Assim sendo, você vai ver que conosco a sua instituição não precisa se preocupar com um contrato assinado, pois a nossa palavra será rigorosamente cumprida.”
Fiquei muito impressionado com esta fala, mas num primeiro momento, mesmo acostumado com a prática de adiar julgamento, achei que havia um pouco de exagero por conta daquela pessoa. Todavia, ao longo dos anos trabalhando para aquela empresa constatei a veracidade daquela fala inicial.
Lamentavelmente, não vemos esse comportamento permeando pelo dia a dia das pessoas de um modo geral; muitas vezes até nos contentamos com uma conhecida frase “Rouba, mas faz!”
Não quero dizer, como tudo isto que não vislumbre uma esperança, estamos percebendo uma continua mudança nas pessoas, o cliente mais exigente, o cidadão começando a entender os seus diretos e deveres, as pessoas constrangidas quando pisam na grama verde dos parques e, cada dia, um maior sentimento de respeito pelo público e pelo privado.
Portanto, percebo que somos uma sociedade em transformação, mas espero que esse anseio pela seriedade, pelo respeito, pela ética e pela dignidade não demore a se instalar novamente no nosso país.
(*) Fernando Viana
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