OS LUGARES E OS SEUS NOMES

Um grande número de nomes, que primitivamente denominaram lugares, povoações, ruas, são hoje esquecidos, ou guardados pelos mais velhos, como um pedaço do passado. Não há, lastimavelmente, um estudo que esclareça as diversas denominações dadas, pelo povo ou pelas autoridades, aos lugares sergipanos. Os jovens estudantes entram e saem e não sabem nada a respeito da biografia dos patronos das suas escolas, nem do significado das datas que também servem para a denominação de unidades escolares. As placas das ruas, avenidas, praças, são nuas, sem qualquer informação. Gente morta e gente viva, pelas mais diferentes motivações, têm seus nomes circulando nas correspondências, nos boletos da água e da luz, nos carnês do IPTU, mas pouco ou quase nada se sabe deles. Desde os tempos das Freguesias que alguns nomes curiosos marcaram o território sergipano, compreendido entre os rios Real e São Francisco. As Freguesias, que sempre tomavam nomes invocativos de santos, muitas vezes agregavam nomes populares, incorporando-os. É o caso de Pé do Banco, incorporado ao nome da Freguesia de Jesus, Maria, José e São Gonçalo, hoje Siriri. Propriá já se chamou Urubu de Baixo, ou Urubu do baixo rio São Francisco. Ao longo do tempo os nomes surgiram e desapareceram, foram mantidos ou trocados, numa dinâmica que tem sido pouco considerada. A memória, que conserva o cotidiano das experiências pessoais e sociais, perde força com o ritmo das cidades, modernizando-se. Aquidabã já foi Cemitério, Arauá já teve o nome de Parida, Nossa Senhora das Dores é o nome novo de Enforcados, como Porto da Folha substitui a denominação de Buraco, Boquim a de Lagoa Vermelha, Gararu a de Curral de Pedras e Nossa Senhora da Glória a de Boca da Mata, Cristina a de Chapada ou Chapada dos Indios, Rosário o de Catete e Muribeca a de Sítio do Meio. Muitos dos nomes decorrem das denominações dos primeiros povoamentos, outros são trocados pelas mais diversas influências. Em 1943 o Departamento Estadual de Estatística, dirigido por João Carlos de Almeida, preparou um projeto de mudança de nomes de vários municípios sergipanos, para evitar que existissem no Estado 20 localidades homônimas de outras anteriormente existentes no País. Pelo projeto, que virou o Decreto-lei 377, de 31 de dezembro de 1943, Simão Dias era o novo nome de Anápolis, Tobias Barreto substituía Campos, Carmelita seria o nome novo de Carmo, Darcilena em lugar de Cedro, Ariquitiba para Cristina, Indiaroba para Espírito Santo, Jaboatã para Jaboatão, Paraissú para Richão, Rosário do Catete, em lugar de Rosário, Juruama substituindo Santo Amaro, Tarapitanga, para São Francisco, Frei Paulo para São Paulo, Irapiranga para Itaporanga, Inajaroba para Santa Luzia e Cotinguiba em lugar de Socorro. Muitos nomes prevalecem até agora, sem mudanças, como Simão Dias, Tobias Barreto, Rosário do Catete, Indiaroba, Frei Paulo, outros voltaram ao que eram antes, como Cedro, Jaboatã, Riachão, agora do Dantas, São Francisco, Santo Amaro, Itaporanga, que ganhou o da Ajuda, Socorro que acrescentou Nossa Senhora e Santa Luzia, que ganhou o acréscimo de Itanhy. Ariquitiba não demorou, e Cristina virou Cristinápolis, como Vila Nova virou Neópolis. Paraissú, Tarapitanga, Juruama e Irapiranga não vingaram nas respectivas localidades onde o decreto-lei fixou. Darcilena é um nome composto de Darci – Darci Vargas, mulher de Getúlio Vargas – e de Helena – mulher do Interventor da época, Augusto Maynard Gomes. Irapiranga era, segundo alguns estudiosos, o nome antigo do rio Vaza-Barrís, que passa por Itaporanga. A propósito dos dois topônimos, ainda há pouco se tinha, em Aracaju, uma placa na rua do Cedro, grafada Darcilena, enquanto a Estação ferroviária de Itaporanga ostenta, ainda hoje, o letreiro Irapiranga. O mesmo Decreto-lei tratou das vilas homônimas, por isto Canindé mudou para Curituba, Igreja Nova para Sambambaia, Providência, que antes chamou-se Panelas, para Itabi e Santa Rosa para Cambuatá. Canindé retomou o nome, como do São Francisco, também Santa Rosa, agora de Lima. A denominação de Itabi prevaleceu quando da criação do município, em 1953. Sambambaia não foi ainda emancipado. Canindé presta homenagem a um líder indígena do mesmo nome, que chefiou por muitos anos os Janduís, na região do Rio Grande do Norte, enfrentando inimigos brancos, em memoráveis combates. O topônimo, dos mais antigos de Sergipe, sobreviveu, recentemente, as modificações impostas pela construção da barragem e da hidroelétrica de Xingó, e está se tornando num ponto de atração turística, explorando a potencialidade do rio São Francisco, onde as águas represadas dão destaque ao cenário dos paredões rochosos e ao talhado. Muitas outras denominações estão aí, vivas, atestando uma tradição antiga, nem sempre explicada, como o próprio termo Sergipe. Alguns autores recorrem aos estudiosos das línguas indígenas, buscando a etmologia de Sergipe, como se o termo fosse especialmente próprio. Há, na Baía da Guanabara, a ilha de Sergipe, onde aportaram os franceses, em 1555, com o propósito de fundar uma colônia. Sergipe é, também, nome de um rio na Bahia, onde Mem de Sá estabeleceu seu famoso engenho. As terras passaram a ser do Conde de Linhares e a povoação, por conta disto, passou a ser denominada de Sergipe do Conde. O mesmo ocorre com Aracaju e com Arauá que são nomes de nações indígenas. Ou seja, há muito o que vasculhar na memória e na história, e muitíssimo o que estudar. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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