OS MÉDICOS CONTRA A DENGUE

O caos que se instalou no país na área da saúde pública já estava anunciado. Há anos as entidades médicas denunciam os cortes no orçamento do SUS, fazendo com que programas de fundamental importância para o controle de endemias e para o tratamento de enfermidades crônico-degenerativas fossem descontinuados, por absoluta falta de recursos. A epidemia de dengue que atinge o país, em especial o Rio de Janeiro ( aqui em Sergipe não é diferente), já era previsível.

Somente em 2008, dois médicos faleceram em Aracaju, um em decorrência de dengue e outro motivado por uma hepatite mal controlada, pela falta de um medicamento fornecido exclusivamente pela Secretaria de Saúde, segundo denúncia formulada na Sociedade Médica de Sergipe. Faltam medicamentos vitais para os renais transplantados, medicamentos que minimizam os efeitos de uma rejeição do órgão, pondo em risco a vida dos pacientes e jogando na lata do lixo todo o esforço e os recursos aplicados para o seu tratamento, que não poucos.

Os ranços políticos entre grupos antagônicos complicam ainda mais a situação. Percebam as consequencias da briga entre o Governo Federal e a Prefeitura do Rio de Janeiro. Mas não precisa ir longe. Basta lembrar a polêmica criada em torno da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, em Aracaju, que teve seu início de funcionamento protelado com transtornos e prejuízos incalculáveis para as parturientes obrigadas a utilizar a caótica Maternidade Hildete Falcão. O Hospital Infantil é outro exemplo dessa política nefasta. Por sua vez, as ações de saneamento básico, que deveriam ser implementadas, simplesmente foram postergadas.

Paralelamente, nenhum governo empenhou-se até agora para resolver as péssimas condições de trabalho que são oferecidas ao médico brasileiro, principalmente ao clínico geral e ao pediatra, que viram historicamente sua remuneração profissional ser aviltada e terminaram sumindo das urgências. Onde estão os clínicos e pediatras? Simplesmente migraram para os programas de saúde da família ou abdicaram de atender ao sistema público de saúde em hospitais e pronto-atendimentos. Quando não, reuniram-se em cooperativas para impor uma melhor condição na área da negociação. Foi melhor para eles em termos de remuneração? Talvez. Mas melhorou a qualidade do atendimento ou trouxe uma maior tranqüilidade para o profissional? Duvido!

Em Sergipe, por quase seis meses, o atendimento pediátrico de urgência viveu dias aflitivos não só na rede pública como também na esfera dos convênios. Faltavam pediatras nas unidades hospitalares. Se a dengue tivesse chegado um pouco antes, o estrago seria enorme. Felizmente, o Hospital Renascença, com a intervenção do Ministério Público Estadual, à frente a promotora Euza Missano, restabeleceu o seu atendimento pediátrico graças ainda à atuação da UNIMED Sergipe, que negociou com aquela unidade uma remuneração diferenciada para esses especialistas.

O Rio de Janeiro agora vive uma situação dramática. Sem pediatras, o atendimento aos pequenos cidadãos cariocas está precário e como medida extrema o governo tenta “importar” pediatras de outros Estados para atender as suas demandas. E onde estão os pediatras do Rio de Janeiro? Desapareceram? Não! Debandaram dos plantões e se instalaram nos programas de saúde da família, conforme já foi dito e que remuneram melhor, com mais tranqüilidade para trabalhar. Deslocar médicos sem nenhum planejamento vai resolver o problema?

Apesar de todos esses problemas, os médicos são capacitados para salvar vidas. A população, nesse instante, reclama por assistência e conforto.  Nesse patamar, a proposta do Sindicato dos Médicos de Sergipe chega num momento extremamente oportuno, ao propor antecipar em um mês a organização do trabalho médico, reorientando a categoria para destinar parte do horário destinado e estudos e capacitações para o atendimento direto aos pacientes. A atitude do Sindimed deve ser enaltecida e apoiada pela categoria. Como diz na convocação, “lutar contra a dengue e em prol da vida será a maior remuneração já paga”.

A luta contra a dengue, porém, não é só do governo, dos sindicatos e dos médicos, é de todos. A população tem que se conscientizar e fazer a sua parte. É inadmissível que, conforme relatado no blog do jornalista Cláudio Nunes, na Infonet, um prédio na orla da Treze mantenha uma piscina desativada com água residual, sem tratamento. Eu falei na Treze de Julho, onde se acredita que resida pessoas bem instruídas e com satisfatório nível de informação. Basta cada um fazer a sua parte  e estaremos evitando assim as mortes de crianças inocentes e indefesas.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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