Os Prelos que “Gemem” e os gemidos” do jornalista

O jornalista Luiz Eduardo Costa escreve sobre o senador Almeida Lima e os textos agressivos contra os jornalistas Ivan Valença e Cláudio Nunes. (Jornal do Dia, deste domingo, 08)

Todo político quer aparecer, ficar no centro do palco, ser o objeto das atenções, ter holofotes acompanhando os seus passos. O cenário ideal do político é o amplo espaço da mídia. Figurante de uma cena sempre midiática, há, todavia, políticos que costumam se indispor exatamente com aqueles que os colocam em cena, ou seja, os jornalistas, os radialistas. Não se pretende que o político viva a cortejar os formadores de opinião, como se fossem meros alpinistas sociais em busca de fama. Mas, há que se constatar em alguns políticos uma renitente incompreensão do papel desempenhado por quem exerce a tarefa jamais amena de informar, de externar opiniões e, conseqüentemente, fazer críticas.

Desde que Guttenberg inventou o papel e fez “gemer os prelos!, e isso anda além dos cinco séculos, “gemeram”, também aqueles que forneciam a munição (o texto escrito) para que se movimentassem as impressoras. E não “gemeram” pouco. Presos, perseguidos, torturados, escorraçados, exilados, deportados, agredidos, essa tem sido a crônica dos horrores que acompanha a trajetória dos escritores, jornalistas, ousados panfletários. Veio a mídia eletrônica, e apesar de tão hodierna, a censura que é muito antiga chegou também, em muitos e deploráveis casos, bem junto.

Os prelos que gemiam, na expressão de Balzac ao descrever em “ As Ilusões Perdidas as tipografias de Angoulême”, são agora objetos de museu, mas o “gemer” dos jornalistas permanece absolutamente atual. “Gemem” em conseqüência dos cataclismos institucionais que geram as ditaduras, o autoritarismo; “gemem” em virtude de incompreensões, de vaidades feridas.

Na semana antepassada “gemeu” o jornalista Ivan Valença. Logo ele, veteranos respeitado, referencial de ética construído desde o tempo em que em Aracaju, um jornalismo tecnicamente defasado, mas vanguardeiro  em idéias, convivia com aqueles prelos antiquados que se assemelhavam aqueles sobre os quais escreveu Honoré de Balzac, no século dezenove. Deve ter gemido ainda mais intimamente, embora tenha respondido com a altivez habitual, ao ler o texto desprimoroso e ofensivo, escrito, ou melhor, disparado, pelo senador Almeida  Lima. Foi uma desnecessária agressão, que não condiz, aliás, com o comportamento pacificador inaugurado pelo nosso representante na Câmara Alta, celebrizado pela impetuosidade.

Almeida Lima é, sem duvidas, um político bem sucedido, pois não se chega aonde ele chegou sem ter garra e capacidade de articulação (que o digam os atléticos maratonistas empenhados nessa corrida ao Senado repleta de ardis e obstáculos), por isso mesmo, deveria cultivar o bom humor, a tolerância e, assim, resistir às tentações para não ressuscitar  uma agressividade destemperada que nada constrói, ainda mais quando dirigida a uma jornalista por todos respeitado e admirado, exemplo de correção, ativo e altivo militante das boas causas.

Ivan Valença é daqueles que merecem em vida uma estátua. Mas. Sobre ele choveram pedras, pedras que também resvalaram sobre outro jornalista, este jovem auspicioso e competente, ocupante de uma destacada posição entre os que fazem a mídia, Cláudio Nunes, ferido, por ter sido solidário.

O senador Almeida Lima, mesmo empenhado agora numa campanha eleitoral que não tem sido fácil para ninguém, poderia encontrar algum tempo para reflexão, e dentro daquele novo horizonte de entendimento e harmonia que projeta para a sua vida política, sem chegar a um mea culpa, faria um gesto de grandeza, se pedisse desculpas a Ivan Valença e Cláudio Nunes. Longe de ser capitulação, a atitude agregaria ao seu currículo o valor inconsútil do comedimento e da sensatez. Também, do indispensável respeito ao ser humano.

   

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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