O mostruário dos livros expostos é um indicador perfeito da visão crítica que Cervantes construía com a sua literatura, sem qualquer temor de exibir preferências, ainda que as disfarçasse. O padre e o barbeiro, auxiliado pela sobrinha do Fidalgo, pegam e comentam mais de trinta livros, a começar pelo Amadis de Gaula, obra germinal, aparecida em livro em Zaragoza, na Espanha, em 1508, embora pareça ser um texto do século XIV, de origem portuguesa, de autoria de Vasco de Loberia, nascido no Porto e feito cavaleiro em 1385, para a célebre batalha de Aljubarrota. A edição da obra, em 4 livros, foi feita por Garci-Ordónez de Montalvo, que é, também, autor da continuação, ou livro 5º, intitulado As Aventuras de Esplandian, o segundo dos livros citados na casa do Quixote. O Amadis de Gaula propiciou muitas outras versões e continuações, como a Crônica do muito valente e esforçado Príncipe e Cavaleiro da Ardente Espada Amadis da Grécia, filho de Lisnarte da Grécia, Imperador de Constantinopla e de Trapisonda e rei de Rodes, que trata dos seus grandes feitos em armas e dos seus altos e estranhos amores, ou simplesmente Amadis da Grécia. Em Lisnarte da Grécia o protagonista é neto de Amadis. Uma saga interminável de façanhas e de amores. Além dos três livros do ciclo do Amadis de Gaula os censores mostraram Dom Olivante de Laura, editado em Barcelona, em 1564, de autoria de Antonio de Torquemada e que tem uma bela descrição da Casa da Fortuna, feita por Leocasta; Jardim de Flores, também do mesmo Torquemada; Florismarte (ou Felizmarte) de Hircania, de Melchor Ortega, Valadolid, 1556; Cavaleiro Platir, Valadolid, 1533; O Cavaleiro da Cruz, de Pedro de Luján, Sevilha 1534, Toledo, 1543; Espelho de Cavalaria, de 1586; Orlando Enamorado, de 1586, de Matéo Boyardo; Bernardo do Carpio, outro livro germinal, com muitas variantes, uma delas recorrendo a Primeira Crônica Geral, e serviu de fonte a epopéias cultas; Roncesvales, cujo título completo deve ser O Verdadeiro Sucesso da Batalha de Roncesvales, por Francisco Garrido de Villena, editado em Toledo, em 1583; Palmerim de Oliva, versão anônima, recorrente do Amadis de Gaula; Palmerim da Inglaterra, do português Francisco de Morais, editado em Évora, em 1567; Dom Belianis, atribuído a Friston, que o escreveu em grego, passando para a Espanha traduzido por Jerônimo Fernandes; Tirante, o Branco, do valenciano Joanot Martoreli, continuada por Marti Joan de Galba e publicada em 1490, considerada a melhor novela catalã medieval; a Diana, de Jorge Montemayor; Diana, a Segunda, de Salmantino, de Alonso Pérez, 1564, e que é uma das muitas continuações, como Diana Apaixonada, de Gaspar Gil Polo; Os dez livros de Fortuna do Amor, de Antonio de Lofraso, Barcelona, 1573; O Pastor de Ibéria, de Bernardo da Veiga, Sevilha, 1591; Ninfas e Pastores de Henares, de Bernardo González de Bombadilla, Alcalá, 1557; Desengano do Zelo, de Bartolomeu López; O Pastor de Fílila, de Luiz Galvéz de Montalvo, 1582, imitação de A Arcádia, de Sanazaro; Tesouro de Várias Poesias, Madri, 1586; Cancioneiro de Lopez Maldonado; A Galatéia, do próprio Cervantes, 1584; A Araucana, de Alonso de Ercilla e Zuñiga, sobre um episódio de guerra no Chile; A Austríada, de Juan Rufo, poema épico tratando da guerra de Lepanto, editado em 1584; O Monserrate, de Cristovão de Virués, de 1587; As Lágrimas de Angélica, de Luiz Barahona de Soto. Os livros pertencentes ao Engenhoso Fidalgo Dom Quixote da Mancha, que se fez cavaleiro, retratam a época, os gêneros, os estilos, e a vida do velho mundo, entre o medievo e o renascimento, quando Miguel de Cervantes se fez o maior dos autores das sagas aventurosas do seu tempo. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.
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