Há um pensamento repetido de Rui Barbosa firmando seu pessimismo diante do triunfo de tanta nulidade, prosperando na desonra e bem se nutrindo na injustiça.
Era um desabafo dele, Rui, enquanto homem e civilista, ensimesmando-se no desânimo de palmilhar a virtude, em tanto tripúdio da honra e em tão pouco predomínio da honestidade.
Agora, em tantos excessos do noticiário, poder-se-á dizer “que nunca na História desse país” vimos prosperar tanta desonra, tanto descalabro administrativo em excedente falta de caráter, sem-vergonhice mesmo, roubos e falcatruas denunciadas ao vivo e em corres, e em rapidez tamanha, que difícil já é a atualização do noticiário, um prenúncio moroso e fastidioso do deslinde, a suscitar o perdão ominoso, como melhor desfecho do recursal protelatório.
Ou seja: o julgamento se arrastará tanto, a consumir a já bem assaz longevidade da vida laboral de juízes e promotores, justificação a suscitar encostos de funambulescas bengalas e antegostos principescos de alcavalas, para que se alongue até por isso a esbórnia principesca desta casta improdutiva.
Onde o improdutivo e funambulesco aqui estão inseridos porque muitos como eu veem assim a chamada “PEC da Bengala”, por destoante comportamento geral, em extravagância, excentricidade, e até mesmo como mentira ardilosa para encenar uma anciania que, na Lei e no Decreto, intenta escoimar a obsolescência de magistrados e afins, por caducidade em inoperância comprovada e jactância voracidade na apropriação de vantagens mordomas entre tantas regalias.
Algo que bem visualizara De Gaulle, assestando em Pétain, um voraz insaciável na manutenção do poder, tão insolente quão tantos mais decadentes: “La vieillesse est un naufrage”; A velhice é um naufrágio.
E quanto às alcavalas, estas se inserem como imposição consequente da insciência, fruto do logro, da fraude, da mistificação, coisa tão comum no tempo de vassalagem e suserania, imposto extorquido por castas feudatárias resistentes, nunca decapitadas na nossa mais que desrespeitada República. Coisa de Brasil, como é demais repetir De Gaulle, em nossa carência de seriedade
Mas, em defesa da extensão da vida laboral jurígena, por que deve uma República apressar-se tanto no julgamento dos seus mal feitos?
Não é melhor a procrastinação nas gavetas vetustas a ensejar o perdão e a anulação de decisões nunca vistas, nem imaginadas, no foro judiciário nacional, como estas ditadas agora pelo Juiz Aldo Moro, em raro exemplo, um modelo incômodo de eficiência no cumprimento da Lei?
Por acaso tal incômodo não está ensejando uma repulsa tão ampla quão sibilina e solfejada na surdina, para o desmonte de sua toga?
Ou o seu agir ensejará sucessores às mancheias, como se esperaria de heróis, ou homens que luzem como sóis, nos seus anonimatos a rejeitar louvações áulicas em tantos puxa sacos a rodear-lhes?
Por acaso anima-os seguir como Ciro, o rei dos Persas, conforme palavras de Cícero: “Omnia mea mecum porto”, carregando consigo o que lhes cabe apenas na própria alma?
Alma? Que alma? Não é a alma algo etéreo, fugaz fumeiro, rasto infantil a encantar crianças neste mundo sem Deus?
Por acaso Deus perde seu tempo em regrar os homens se estes bem o sabem como melhor cuidar de si?
Mas, dirão a mim, enquanto coletivo expressivo de apego geral, por genérico ao homem exemplar: por acaso há seriedade nos nossos desejos e inspirações?
Ou não vale bem melhor aquele chiste risonho, que impõe resguardar o primeiro bocado de pirão, quando há falta de farinha?
Ou ainda, que em terra de murici cada um deve cuidar de si?
E não é o que bem melhor cuida de si, aquele que sempre vence e não reclama?
Não estavam bem cuidando de si aqueles que nunca reclamavam porque bem lucravam enquanto ladrões da Petrobras?
Ou não haviam muitos ladrões ali, discursando sobre a intocabilidade do monopólio do petróleo?
Todos, sem exceção! Igual a Sodoma e Gomorra, para o desafio de Abraão tentando salvar Lot.
Porque são muitos os lotes de bem culpados em tantos incontáveis coniventes; sempre inculpados e se eximindo nas generalizações politicamente corretas, mas rotineiramente a requerer vantagens ditadas por um sindicalismo parasitário e insaciável reivindicando o desleixo da gestão por repulsa à eficiência e ao controle.
Ou seja; tudo estaria formidável para todo petroleiro se não houvesse esta tal de delação premiada. E esse juiz Moro que tá prendendo, às dezenas, sem que ninguém ousasse ainda reformular o seu prolatar.
E aqui cabe introduzir minhas escusas, se alguns amigos se sentirem contemplados e injustiçados no meu apreciar do noticiário.
Mas é esta a minha visão das últimas décadas, em que só grassou muita irresponsabilidade no serviço público, em greve, desleixo e muito desmando, e agora, muito roubo escancarado, tudo convenientemente escondido no discurso politicamente criminoso de execração ao regime militar, em denúncias de arbítrio a qualquer chamado de disciplina.
Mas, por que falar assim se as Comissões de Verdade apuram assassinatos aos milhões, nunca encontrados, nem identificados?
Para que? Para dizer que os militares foram brandos e não deixavam roubar?
E bote brandura e delicadeza, com tanta gente hoje a exibir o pescoço e a garganta, em tanta pantagruélica glutonaria da coisa pública, nunca arrefecidas pelo cascudo suasório recebido, a título de ressocialização.
E o que dizer agora com o povo bestificado na rua novamente, e sem aprender nada, repetindo o persistente erro de protestar bastante, sem jamais adquirir um mínimo de vergonha na cara?
Povo que foi assaz enganado, porque bem quis assim, iludido por tantos safados e bem falantes, destoantes da realidade do mundo, por modismo em pose de esquerda?
De repente virou démodé “ser gauche na vida”?
Sim! Porque era assim no meu tempo de jovem para quem não queria nem estudar, nem trabalhar. “Ser gauche na vida” era promessa de sucesso.
E para estes o mundo se abriu, Foram mais indispensáveis do que os que palmilharam o caminho áspero da correção moral e do preparo intelectual em decepção igual às conferidas por Rui, “o águia de Haia”, menos preferido que “o agúia de Iaiá”, da piada debochada.
E aqui em tantos deboches, eu me defronto com tantos escritores se sentindo incomodados porque perderam leitores, quando se achavam lictores a presidir procissões de descabeçados, que agora mudaram de gosto e de claque.
Por acaso a procissão de agora é que está errada? Ou sempre enveredou no erro em pouco arrependimento e rala penitência?
Não! Eu não perdoo, nem desculpo. Prefiro confirmar condenando numa lamentação inútil, por ser minha apenas, tão inútil quão persistente.
No mesmo lugar, enquanto cidadão mirim e sem espadim, desvão onde sempre estive e que me permite contemplar os safados bem de longe e sem mistura. Ouvindo até mesmo o eco do Hino Nacional, tão desafinado quão mal executado, canção que bem vem se prestando a escasso brio e raso heroísmo.
Quanto à Dilma. Nunca a mandarei tomar no cu, como tantos a mandaram em uníssono no Maracanã.
No lugar do palavrão mal educado, melhor seria que o brasileiro se envergonhasse mais e se ufanasse menos; com ou sem passeata, e sem xingamentos.
Quanto aos que desancam a passeata por complexo de mal nutridos e pior instruídos em denúncias de carência de aportes financeiros suficientes para os seus consumes e desejos, direi apenas que procurem ser modestos na bebida e na comida e até no sexo desmiolado.
Ser frugal é possuir o segredo da boa vida. É saber cultivar a doçura e a suavidade. Isso é o que satisfaz o bem viver.
Com Dilma, ou sem ela. E sobretudo sem passeata, nem menos condená-la, afinal trata-se de manifestação de uma insatisfação necessária e justa, mas sem menor serventia.
Não direi, porém, que se trata de uma manifestação tola e inconsequente, afinal sua vitória já se confirma ao incomodar tantos indóceis que ainda continuam mamando! E roendo como os ratos, à espera do naufrág