Os sergipanos escaparam. Por enquanto

“Nós vivemos no que se chama de democracia, regida pela maioria do povo. Uma ideia ótima se chegasse a funcionar. O povo elege, mas são as máquinas partidárias que nomeiam, e as máquinas partidárias, para serem eficientes, precisam de muito dinheiro. Alguém precisa dar este dinheiro a eles e este alguém, seja um indivíduo, um grupo financeiro, um sindicato ou o que você quiser, espera alguma coisa em troca”.

Esse texto, uma fala atualíssima para o Brasil, não foi pronunciado por alguém da esquerda ou da direita tupiniquim, muito menos por um radical favorável ou contrário a golpear as ditas instituições democráticas nacionais. Está no romance policial noir “O longo adeus”, de Raymond Chandler, ambientado na Los Angeles do pós-Segunda Guerra e originalmente publicado em 1954.

Nos Estados Unidos, 60 anos atrás, era assim. E certamente continua assim ou pior. Porque a política na maioria dos países considerados democráticos se faz dessa maneira, sem tirar nem pôr. “A democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela”, disse Winston Churchill. E o Brasil amadureceu muito nesse sentido, deve ter aprendido muito com o way of life americano, onde o dinheiro compra tudo, até consciências.

A política por aqui é cada vez mais elaborada e mantida por partidos poderosos, irrigados por esquemas financeiros cada vez mais fortes e sofisticados, cujas ramificações, como células cancerosas, proliferam por todos os organismos que compõem o patrimônio que constitui o corpo da nação. Patrimônio público, preferencialmente.

Por que não se faz a reforma política no Brasil? Quando e se fizerem será um remendo tosco, com os impulsos inovadores devidamente contidos para não atrapalhar a velha e boa política, que vira e mexe impede o país de se transformar naquilo que os de boa vontade sempre sonharam. E para que não se crie obstáculos àqueles que dão dinheiro esperando alguma coisa em troca.

Esse caldo cultural temperado pela corrupção e impunidade alimenta os escândalos que se sucedem desde sempre. Escândalos que não tem patente. Quem inventou? Foi a ditadura? Foram Sarney e Antônio Carlos Magalhães? Foram Collor e PC Farias? Foi a família imperial? Foi Pedro Álvares Cabral?

Sabe-se que escândalos importantes ocorreram em determinados períodos de governos. As privatizações (R$ 100 bilhões presumidos), Banestado (R$ 42 bilhões), Vampiros da Saúde, Banco Marka, TRT de São Paulo e Sudam aconteceram no período FHC. Operação Navalha, Sanguessuga, Máfia dos Fiscais, Mensalão (R$ 55 milhões) e agora o Petrolão (R$ 3,5 bilhões presumíveis) ocorreram nos governos Lula/Dilma.

Até que ponto é culpa desses ou daqueles governantes? Essa é uma questão relevante a ser considerada. O certo, contudo, é que todos esses escândalos envolveram os grandes partidos, principalmente PSDB, PMDB, PFL/DEM e, mais recentemente, o PT. Partidos políticos que representam cada dia menos os interesses dos cidadãos brasileiros. Daí essa revolta contra o PT, que se configurava como tábua de salvação da representatividade política e frustrou até aqueles que não votavam na estrelinha vermelha.

Dos 47 políticos com foro privilegiado que serão investigados pelo Supremo Tribunal Federal a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, 32 são do PP, incluindo o senador Ciro Nogueira, do Piauí; 7 são do PMDB, incluindo os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, além da ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney; um é do PTB, o ex-presidente da República e senador de Alagoas, Fernando Collor; um é do PSDB, o ex-governador mineiro e senador Antonio Anastasia; e 6 são do PT, incluindo os senadores Humberto Costa, Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann, além do tesoureiro Cândido Vacarezza.

Mas de quem é a culpa por tudo isso? A culpa é do PT, segundo as vozes discordantes, engrossados por aqueles que não aguentam mais viver longe do poder central e, segundo também, a impressão implícita à compreensão coletiva de que a culpa é sempre de quem está no poder.

As injustiças sempre surgem. Como, por exemplo, tentar incluir o ex-senador por Sergipe, José Eduardo Dutra, dentre os que devem ser interrogados pela CPI da Petrobras. No depoimento de Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da estatal, o nome de Dutra foi citado depois que o deputado federal André Moura perguntou quem era o presidente da empresa no período em discussão. Após lembrar que, depois de presidir a Petrobras, Dutra foi presidente do PT nacional, o deputado do PSC de Sergipe decidiu então convocá-lo para depor na CPI. Presidente da Petrobras entre janeiro de 2003 e julho de 2005, Dutra jamais foi citado nas investigações. O ex-senador sergipano, que também presidiu a BR Distribuidora e atualmente é diretor Corporativo e de Serviços da Petrobras, desde o dia 27 de fevereiro está licenciado para tratamento de saúde. A licença é de noventa dias, podendo ser prorrogada.

Na lista de Janot há quatro políticos de Alagoas, incluindo os três senadores (o terceiro é Benedito de Lira, do PP), quatro da Bahia, quatro de Pernambuco, três do Rio de Janeiro e seis políticos do Rio Grande do Sul. Mas não há nenhum nome de Sergipe revelado na Operação Lava-Jato e agora investigado pelo STF. Nosso Estado é ficha limpa. Pelo menos por enquanto.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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