Alguns leitores me acompanham, fazendo questão de explicitar suas discordâncias quanto ao meu discernir, o que me gratifica sobremodo, afinal se nunca pretendi liderar conceitos, nem me assanhar como doutrinador de verdades, ouso persistir no meu pensar equivocado e diletante, não exclusivo só meu, mas daquilo que externo por crer, estudar e concordar.
Em discordâncias numerosas, causa-me uma certa estranheza, saber que em tantas opiniões externadas, alguns leitores me acompanham, uns reclamando do texto alongado e assaz difícil, às vezes difícil, e outros confessando lhes embrulhar o estômago em demasia.
E nesta afasia, entre cólicas hiperbólicas, simbólicas e outras sabe-se lá se diabólicas, porque será que a palavra por mim assestada aos cérebros de tantos, consegue azedar o estômago de quantos, provocando embrulhos, e regurgites com marulhes e “ruminâncias”?
Se provoco, às vezes, alguns equinos e tantos asininos, que de mim passam distantes, por acaso entre os meus leitores circunstantes, possuem em muitos deles, tantos assim denunciados, estes buchos ruminantes, com três ou quatro vazios, que por esvazio e “desvazio”, cometem o desvario de por a bílis, o fel e o cheirume, onde deveria revolver a verve apenas, se o meu desejo é apenas suscitar a desenvoltura de um pensar mais-que-perfeito, com neura de melhor jeito, sem lhes provocar gastura?
Assim eis-me “engasturado” no meu pensar, a perguntar: por acaso é capim o que eu sirvo como trago, ou qualquer droga em pior estrago, eu que nunca penso em dourar qualquer pílula, nem edulcorar o meu pensar com o melaço da lisonja ou o cabaú da sedução?
Se causo embrulho, regurgito, enjoos de vomito; é fácil! Eu sou previsível. Se meu perfume incomoda, passe de mim bem afastado; distante!
Se em mim há rastros laivos de sangue inocente vertido; paciência!
Para muitos, a História exige que se sangre os inocentes desde que sejam imolados os culpados e todos que nos incomodam.
A História do mundo fala de carrascos, muitos cultuando o “Ser Supremo”, arengando como Robespierre, loas de “Amor ao Próximo”.
E aqui vale parafrasear a corajosa mulher que foi Manon Rolland frente a lâmina que lhe apararia a cabeça: “Liberdade, quantos crimes são cometidos em seu nome!”
“Amor ao Próximo”, quantas iniquidades ainda serão promovidas em seu nome, não no Apocalipse, mas por aqui mesmo, em sonho e mau augúrio!
“Amor ao Próximo”, lição de um Deus, por milênios, usada tão farsesca, quanto impunemente, a merecer o escarro dos homens e a condenação de todos os calores infernais pelo seu uso em vão!
Ah, amor! Como você é difícil!
Como é difícil irmãos amarem irmãos, filhos amarem pais, pais amarem filhos, esposos se matando e flagelando no amplo noticiário!
“Amar uns aos outros”, eis tarefa impossível!
Melhor seria, eis-me insensato, querendo corrigir um Deus: – que os homens se tolerassem apenas!
Isso já seria, talvez, um menos áspero caminho a palmilhar.
Oh, quão difícil é tolerar o pensar do outro que não nos agrada!
Sem ousar posar de poeta, direi em confissão aberta: – Não! Não me cobrem tal santidade! Não a desejo! Repilo-a, enquanto teísta garimpeiro, em busca claudicante da fé.
Se não me expresso assim, eu serei sempre a soma de todos os meus erros; essa será a essência da minha humanidade, uma fragilidade que é só minha e do conjunto das minha ambiguidades.
Mas, em desambíguo por categórico, bem vale usar por teorema, um bom escolho, ou tosco lema, o esteta, bom poeta, em “Lisbon Revisited”: “Não, não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer”.
E no mesmo poema, bem vale o desabafo:
“Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?”