Eva Maria Siqueira Alves
E-mail: evasa@uol.com.br
Departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe
Diretora do Centro de Educação e Memória do Atheneu Sergipense
O evento cultural mais importante da década de 1870 na Província de Sergipe foi a criação do Atheneu Sergipense. Manuel Luiz Azevedo D’Araújo (24/11/1838 – 21/10/1883) desempenhava o cargo de Inspetor Geral da Instrução e elaborou o Regulamento Orgânico da Instrução Pública da Província de Sergipe, assinado em 24 de Outubro de 1870.
Desde então o Atheneu Sergipense não se afastou dos seus objetivos: ministrar uma instrução secundária, de caráter literário e científico, necessária e suficiente para proporcionar subsídios aos seus alunos matricular-se nos cursos superiores como também no desempenho dos deveres de cidadão.
A documentação produzida e acumulada pela instituição educacional de ininterrupto funcionamento carecia de cuidados. O Centro de Educação e Memória do Atheneu Sergipense – CEMAS, instituído no ano de 2005, guarda documentos que possibilitam aos historiadores investigar diferentes aspectos da História da Educação, além do incontestável objetivo de sua criação, a salvaguarda das fontes históricas daquela “Casa de Educação Literária”, parte significativa da história da educação de Sergipe.
Narremos parte dessa história.
O Atheneu Sergipense iniciou seus trabalhos em uma casa da Câmara Municipal, um local inadequado para as aulas. Com algumas contribuições novo prédio foi erguido, com “elegância e solidez”, na Praça da Conceição, hoje Praça Olímpio Campos, sendo inaugurado em 3 de dezembro de 1872.
Há indícios de que o Atheneu Sergipense esteve localizado por volta de 1899 na Rua de Boquim. Mudou-se para a Praça Camerino em 1921, para a Avenida Ivo do Prado em 13 de agosto de 1926 e em 1950 para a Praça Graccho Cardoso.
Qualquer que tenha sido a localização geográfica em que o prédio do Atheneu Sergipense funcionou, esteve sempre na região central da cidade de Aracaju, à vista da sociedade.
Diferentes denominações recebeu: Atheneu Sergipense (1870), Lyceu Secundário de Sergipe (1881), Escola Normal de Dois Graus (1882), Atheneu Sergipense (1890), Atheneu Pedro II (1925), Atheneu Sergipense (1938), Colégio de Sergipe (1942), Colégio Estadual de Sergipe (1943), Colégio Estadual Atheneu Sergipense (1970), Centro de Excelência Atheneu Sergipense (2003) e posteriormente Colégio Estadual Atheneu Sergipense.
Ser diretor do Atheneu Sergipense nos anos iniciais de seu funcionamento, como também agora, constituiu e constitui uma condição de prestígio entre os intelectuais e professores. Esta promoção e nomeação era feita pelo Presidente da Província, tendo como requisito a comprovação do grau de instrução e moralidade, lembrando que tal incumbência deveria ser exercida voluntariamente. Administraram com afinco a instituição e não atuaram apenas nela, mas seguiram vida acadêmica, política, profissional, após a experiência de diretor.
Em meados da década de 1920 e durante os anos de 1930, o Brasil atravessou por um movimento denominado de Escola Nova, com base em frutíferos debates de intelectuais de momentos anteriores. A ênfase era por aulas experimentais, aulas vivas para a formação dos alunos, práticas vivenciadas nos laboratórios escolares, principalmente nas disciplinas Física, Química e Ciências Naturais.
Em Sergipe, a partir do Regulamento de 1925, as cadeiras de Química, Física e História Natural, ganham ampliação de carga horária, introduzindo o ensino teórico como reforço nas experiências realizadas nos laboratórios e gabinetes. O Atheneu Sergipense possuía gabinetes de Física, Química e História Natural.
Visitar o Atheneu Sergipense era roteiro obrigatório de autoridades políticas, governadores, membros do clero, ex-alunos, ex-professores, desembargadores, jornalistas, militares, inspetores escolares e diretores de órgãos públicos. Registravam tais personagens em documento denominado “Livro de Visitas” suas impressões sobre a instituição, o funcionamento da escola, as aulas nos gabinetes e laboratórios de Física, Química e História Natural, avaliando-os como modernos, equipados, que atendiam às necessidades e finalidades experimentais.
Outro espaço instituído no Atheneu Sergipense nesses anos de funcionamento foi a Biblioteca.
Seu primeiro Diretor, Manuel Luiz, mostrava-sepreocupado com a situação dos livros empilhados nas estantes velhas e empoeiradas de uma sala da instituição e sugeriu a criação de uma biblioteca. Em 1873, o mesmo diretor apresentou detalhes da composição da biblioteca, afirmando que existiam 663 volumes.
A Biblioteca é tema de atenção dos Diretores, que buscam ampliar o espaço, adquirir obras didáticas para alunos e professores, fazendo-os ganhar o hábito da leitura e do estudo. As consultas são registradas com assinaturas nos Livros de Frequência da Biblioteca, prática que permanece na instituição, cumprindo a função de salvaguardar, contabilizar o acervo existente e historiar os leitores.
Digna de admiração e respeito, a Banda Marcial do Colégio Atheneu Sergipense possui destaque nos desfiles patrióticos devido ao seu desempenho, bem treinados percussionistas que ditam o ritmo perfeito das marchas e dos passos coreografados harmonicamente, fazendo jus aos troféus e medalhas recebidos.
É convidada constantemente a abrilhantar desfiles em outras cidades, levando o nome do Atheneu Sergipense, divulgando sua trajetória que em forma de marcha ritmada embeleza as ruas e avenidas das cidades durante as solenidades públicas.
Relativo a organização estudantil em agremiações, há até os dias atuais o Grêmio Literário Clodomir Silva, criado em 10 de janeiro 1934, com principal finalidade o desenvolvimento de atividades literárias. As práticas giravam em torno da leitura de obras literárias, recitar e produzir poemas, novelas e contos. Publicaram os seguintes jornais: A Voz do Atheneu (1934), A Voz do Estudante (1942), O Atheneu (1953), O Eco (1959). Direção e professores participaram ativamente das sessões, contribuindo com palestras, discursos, ideias e sugestões de leituras.
Por fim, presenteamos o Atheneu Sergipense com o desempenho do CEMAS, almejando receber por doações de ex-alunos, ex-professores, ex-funcionários, materiais que revelem práticas daquela “Casa de Educação Literária”.
Importante cativar outros membros, parceiros, incentivar outras instituições públicas e privadas, a valorizarem sua história preservando os vestígios de seu passado e consequentemente salvaguardando o patrimônio cultural, social e educacional, assegurando também a memória da educação brasileira e em especial a de Sergipe.