Andrey Augusto Ribeiro dos Santos
Graduado em História – UFS
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET-UFS)
Orientador: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard
Após os atentados de onze de Setembro de 2001 o número de filmes abordando a temática do terrorismo aumentou de forma considerável. Assim, em grande parte graças à força de Hollywood, podemos listar uma vasta quantidade de produções cinematográficas que se utilizam deste tema, a maioria mostrando agentes do governo tentando impedir a execução de um atentado ou caçando os responsáveis por ele.
Porém, Paradise Now, filme dirigido pelo palestino Hany Abu-Assad e produzido numa parceria entre Palestina, França, Holanda e Alemanha, se diferencia por fugir deste modelo. Lançado em 2005 na mostra Panorama do Cinema Mundial, no Festival do Rio, esta produção nos mostra a visão de um atentado a partir dos olhos dos homens-bombas.
O enredo gira em torno de Khaled e Said, dois amigos de infância que são recrutados para executar um atentado na cidade de Tel Aviv, em Israel. No entanto, o plano não sai como arquitetado, o ato acaba sendo adiado e eles se separam, tendo que permanecer com as bombas presas aos seus corpos. Enquanto tentam resolver esta situação os dois acabam começando a questionar os motivos e a legitimidade para executarem tal ação.
Como pano de fundo o filme nos traz um contraste, de um lado, uma Palestina muito pobre onde a violência do estado permanente de insegurança se naturalizou, o que fica evidente numa das cenas iniciais do filme quando um ruído de explosão é tratado pelos personagens como se fosse apenas mais um acontecimento rotineiro. Em contrapartida, as cenas em Israel mostram um país plenamente desenvolvido, ao contrário da terra natal dos protagonistas.
A proposta do filme busca humanizar os homens-bombas, podemos perceber este aspecto logo nas cenas iniciais, que mostram o cotidiano de Khaled e Said pouco antes de saberem que teriam apenas mais algumas horas de vida até a execução do atentado no dia seguinte. Estas cenas deixam claro como eles são pessoas comuns, recebendo broncas da mãe por chegar tarde em casa sem avisar, discutindo com irmãos mais novos por causa de roupas emprestadas sem permissão ou sentando em uma colina num fim de tarde para observar a cidade enquanto fumam e bebem chá.
Reforçando esta humanização, a produção nos mostrará os dois protagonistas em vários momentos de dúvida quanto a real efetividade do uso dos atentados como forma de resistência a ocupação israelense, dúvidas promovidas principalmente pela personagem Suha, que não concorda com este método. Também no âmbito moral a incerteza dos personagens quanto ao ato terrorista é exposta, como na cena em que Said desiste de explodir um ônibus israelense devido à presença de crianças e mais pessoas inocentes no veículo.
Assim, a posição do diretor Hany Abu-Assad fica bem clara, o que gerou alguns problemas. Como primeiro filme palestino indicado ao Oscar, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, Paradise Now teve de enfrentar a oposição de alguns setores que alegavam que este legitimava os ataques suicidas. Além disso, também houve um grande impasse de cunho político quanto ao seu anúncio como produção palestina ou de “Territórios Palestinos”. No geral, a posição de especialistas foi a de que a indicação dele era um bom sinal, um modo de trazer para a sociedade uma reflexão sobre o tema.
Logo, o filme tenta nos ajudar a entender um pouco sobre os motivos, hesitações e receios que levam uma pessoa ao ato extremo e impensável de dar a própria vida por uma causa, tirando várias outras no processo como consequência. Além disso, ao tentar dar voz ao povo palestino, Paradise Now oferece uma chance para que enxerguemos o conflito árabe-israelense fora dos tons preto e branco com os quais a questão normalmente é tratada do lado de cá.