Adriana Mendonça Cunha
Doutoranda do PPGHCS/COC/FIOCRUZ
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS)
E-mail: adriana@getempo.org
Parasita (2019) é o filme do momento. Disso ninguém duvida. O longa sul coreano de Boon Joon-Ho atingiu Hollywood em cheio e fez história na premiação do Oscar que ocorreu no último domingo (09/02). Concorrendo em seis categorias (Melhor Filme, Filme Estrangeiro, Diretor, Roteiro Original, Montagem e Direção de Arte), acabou levando quatro estatuetas, incluindo os dois principais prêmios: Melhor Filme e Diretor.
Antes mesmo do Oscar, Parasita já havia conquistado críticos do mundo inteiro, virado assunto em colunas de jornais e arrebatado outros prêmios importantes. Lançado mundialmente em maio de 2019, no Festival de Cannes, conquistou a Palma de Ouro por unanimidade. O prêmio e as avaliações positivas tornaram o filme popular também entre o público em geral. Além da Palma de Ouro, recebeu o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, e o de Melhor Elenco no SAG Awards, entregue pelo Sindicato de Atores de Hollywood.
Mas afinal, qual o segredo de Parasita? O que o filme tem de tão interessante a ponto de conquistar críticos e telespectadores do mundo inteiro? Resumidamente, o longa apresenta a família de Kim Ki-taek, composta por sua esposa e dois filhos. Todos estão desempregados, vivendo em condições precárias num minúsculo apartamento e fazendo bicos para sobreviver. Uma oportunidade surge quando um amigo oferece um emprego a um dos filhos, ser tutor de uma jovem, pertencente a uma família muito rica.
Ao chegar ao local, o filho de Kim Ki-taek vê a chance de conseguir empregar toda a família. Assim, a trama toma tons de comédia, com todos lutando para manter seus personagens. De repente, o filme segue caminhos sombrios e um segredo é revelado. Toda uma reviravolta invade a tela, e o telespectador é puxado por um turbilhão de acontecimentos e sensações. De drama, o filme vira comédia, contendo, em alguns momentos, tons de suspense e terror, para voltar à comédia e o drama. São pouco mais de duas horas de risos, surpresas e emoções.
Para além do final surpreendente e tocante, Parasita choca, toca fundo em problemas enfrentados por milhões de pessoas no mundo inteiro: miséria, subemprego, oportunidades, os limites entre o bem e mal. Aí está justamente a beleza da obra de Boon Jon-Ho, ela é universal! Ela mexe com o telespectador, independentemente do país ou da língua que ele fale. Parasita é um filme sobre a vida, sobre a luta de classes, sonhos, sobre a insensibilidade com que a miséria alheia é tratada por aqueles que possuem tanto, que sequer lembram daqueles que não tem nada.
Ao vencer o Globo de Ouro, Boon Jon-Ho deu seu recado: “quando vocês superarem as barreiras de filmes com legendas, conhecerão muitos filmes incríveis”. E, talvez, este tenha sido o grande trunfo de Parasita, mostrar ao mundo que o cinema é maior que Hollywood. O cinema é arte. E a arte é universal, atravessa fronteiras e barreiras linguísticas. Diferentes povos e culturas podem nos contar histórias atemporais que alcançam todos nós. Boon Jon-Ho, sem dúvida, fez isso brilhantemente!