Poucos homens públicos sergipanos, nos últimos 50 anos de história, construíram um acervo crítico como o fez Manoel Pascoal Nabuco d’Ávila, desde que assumiu a Prefeitura Municipal de Estância, até aposentar-se como desembargador do Tribunal de Justiça do Estado. Homem de jornal, advogado, Promotor de Justiça, chefe do Ministério Público estadual, Secretário de Estado, por mais de uma vez, magistrado e presidente do Poder Judiciário, Pascoal Nabuco valeu-se das chances de exercer o Poder, para contribuir com o debate público, fortalecendo todas as vias de avanços para a sociedade sergipana. O fato de não pertencer a um partido, nem pretender disputar mandatos, singularizou o tipo de atuação política de Pascoal Nabuco como articulador, mediador de conflitos, intérprete de vozes importantes no cenário político sergipano. Os justos aplausos que recebeu foram sempre maiores que as reações, veladas, de que foi vítima. Pascoal Nabuco não alterou o seu papel nas diversas posições que ocupou, mostrando-se permanentemente capaz de ser um mestre do diálogo, numa terra onde nem sempre é o diálogo que prevalece. Capa do Livro
Experiência singular como Prefeito de Estância, eleito pela legenda do Partido Trabalhista Brasileiro, deposto e preso em 1964, marcado pela intolerância nos quartéis por onde andou e cumpriu pena. O contato direto com os munícipes e a consciência ideológica que movia seu engajamento nas causas nacionais mais justas, ao lado das suas realizações administrativas, superaram o transe da deposição e do isolamento. A formação jurídica, sempre aperfeiçoada, supriu as aspirações da sobrevivência, abrindo caminho para a construção de uma biografia densa, lúcida, respeitável, sem necessariamente tentar recuperar o mandato perdido.
O nome de Pascoal Nabuco está associado a diversas iniciativas que modernizaram a administração pública, notadamente pelos serviços prestados ao Ministério Público, conforme se pode observar, comparativamente, com a leitura da Constituição estadual de 1989, ao Governo do Estado, e ao Tribunal de Justiça, num exercício inalienável de cidadania, atestado de uma vida vocacionada e exercida coerentemente. A presença de Pascoal Nabuco no Poder Judiciário de Sergipe é um capítulo que complementa a sua ação no Governo. Não será preciso citar todos os melhoramentos, mas destacar apenas duas de suas obras relevantes: a restauração do velho prédio do Tribunal de Relação, um dos mais antigos monumentos de Aracaju, construído em 1894, dando-lhe o nome de Palácio Silvio Romero e instalando em suas dependências o Memorial do Poder Judiciário de Sergipe, ao lado da construção do prédio do Arquivo Judiciário de Sergipe, projetado para servir por anos e décadas como repositório documental da Justiça sergipana.
Vistos etc. é mais que um título alegórico de um escritor, é um testemunho sob a múltipla ótica de quem conheceu o judiciário sergipano como réu, como advogado, promotor de justiça, juiz e presidente do Poder Judiciário e é, também, um capítulo da história do judiciário sergipano, cobrindo trinta anos de experiência pessoal. O novo livro de Pascoal Nabuco desdobra a sua visão, exposta em Tributo à cidadania (Aracaju: Gráfica Editora J. Andrade, 2006), ampliando o registro dos fatos que marcaram, de 1978 a 2008, a história do Poder Judiciário em Sergipe.
Ao lado das conquistas e avanços administrativos, das construções e instalações, do aparelhamento do judiciário e da visível ampliação e melhoria na prestação jurisdicional, fixando ações de cada período das Mesas dirigentes, Pascoal Nabuco anota fatos pitorescos, que ocorreram ad latere da história, o que torna o livro um documentário preciso e agradável, como um sincero testemunho, da maior utilidade como referência a servir à compreensão correta dos fatos do cotidiano do judiciário sergipano. O escritor não esgotou o acervo que tem reunido nos anos de trabalho, o que, certamente, garante outras obras interpretativas e reveladoras.
Lançado perante grande público, o novo livro de Pascoal Nabuco Vistos etc circula nas mãos dos leitores, realçando a contribuição de homens e mulheres que presidiram o Poder Judiciário estadual e deram o exemplo administrativo responsável, ampliando as condições e melhorando o atendimento público da Justiça.