Pegasus

O Dalai Lama é um monge budista, o líder espiritual do ramo hinduísta tibetano.

Ele é um homem idoso. Tem oitenta e seis anos de idade, possui boa saúde e representa a 14ª reencarnação do “bodisatva” da compaixão.

O Dalai-Lama vive em Mcleod Ganj, um subúrbio de Dharamsala, cidade localizada numa região montanhosa, no sopé do Himalaia, a cordilheira “teto do mundo”, pertencente ao  Estado de  Himachal Pradesh, no norte da Índia.

Os livros de Lobsang Rampa, lidos por mim na adolescência.

Em sendo a 14ª encarnação de Dalai-Lamas, o soberano espiritual dos Lamas, além de líder político do Tibete, é tido como “reencarnação sucessiva de Deus”.

O Tibete enseja muita curiosidade, sobretudo no ocidente, por sua aura mística e porque reclama sua independência, frente ao grande Império do Meio, a China, hoje posando de maior potência econômica do planeta.

Há um conflito histórico entre a China e o Tibete.

No tempo em que a China era partilhada por todas as nações, o Tibete, por constituir uma região de remoto e difícil acesso sobreviveu independente, sem que o império dos mandarins o importunasse.

Diz a China que o Tibete lhe pertence, embora ali tenha sido um reinado, por alguns séculos, até se tornar centro do Lamaísmo, um dos ramos Budistas, liderado pelo Dalai-Lama.

Os Dalai-Lamas são escolhidos mediante um processo complicado de identificação em linhagem de sucessivas reencarnações.

Como o “Espírito sopra onde quer”, a reencarnação dos Grande Lamas, pelo que se conhece, se faz num contexto não permeado pela inspiração humana e, considerado isento das comezinhas ambições do humano.

Dos Conclaves que escolhem os Papas da Igreja Católica, pressupõe-se desambição semelhante por inspiração divina.

Em busca de superior inspiração, invoca-se o Hino “Veni creatur mundi”, como canto introdutório à Capela Sistina dos Cardeais Eleitores, esperando que, uma vez lá dentro, e “cum clavis”, fechados, aconteça total ação do Espírito Santo, ensejando ausência de motivações pessoais e de grupo, sempre cultivadas às mancheias, mas cantadas e olvidadas em sopros plenos de notas cheias.

Com outros acordes, tão guturais, quão monacais e mais solenes, os monges tibetanos escolhem o seu líder entre as diversas crianças nascidas na proximidade do tempo e do espaço onde se desencarnou o líder morto mais recente, procurando assestar naquele que lhes pareça ser Deus, em reencarnação sucessiva.

O atual Dalai-Lama, Lhamo Dhondrub, nasceu no dia 6 de julho de 1935, na aldeia de Takster, no leste do Tibete, região localizada no sudoeste da China, é filho de uma família de agricultores, e foi reconhecido pelos monges tibetanos como a reencarnação do 13.º Dalai Lama, Thubten Gyatso.

De sua biografia, colhida na internet, o garoto desde os 4 anos de idade, foi separado de sua família, e levado para o Palácio de Potala, situado na montanha Hongsham, na capital Lhasa, onde começou sua preparação para assumir a liderança como o 14.º Dalai Lama, passando a se chamar Jamphel Ngawang Lobsang Yeshe Tenzin Gyatso.

Em rigorosa preparação, leio ainda que tudo começou aos seis anos de idade, com aulas de filosofia budista, arte e cultura tibetana, gramática, inglês, astrologia, geografia, história, ciências, medicina, matemática, música, poesia e teatro.

Nesse mesmo entreato, aconteceu, em 1950, a invasão do Tibete pela China de Mao-Tse-Tung, quando o Dalai-Lama tinha quinze anos.

Posteriormente, aconteceu uma tentativa frustrada de rebelião nacionalista, isso em 1959, e de lá para cá, o Tibete vem sendo asfixiado pela China.

Pegasus, cavalo alado da mitologia grega, hoje é um programa de captação informática israelense – imagem colhida na internet

Em sufocos crescentes e sucessivos, ouço no noticiário atual que a China, utilizando o famoso instrumento de bisbilhotice israelense, “Pegasus”, está grampeando toda comunicação do Dalai-Lama, que mesmo na Índia, expatriado, e sem possuir um telefone celular para chamar de seu, está sendo auscultado ilegalmente, via sua restrita e eventual comunicação de assessores, e até de visitantes, que são muitos, vindo do mundo inteiro.

O problema é que o Dalai-Lama, vivendo tão distante, e em paisagem mais que remota, é visitado por muita gente, o que não deixa de ser um alvo turístico e um ponto de aglutino político, o que inspira desconfianças do governo chinês.

Como todos gostam de se aproveitar da fé dos outros, o governo chinês, mesmo sendo comunista e ateu, sentindo o afadigar-se do Dalai-Lama já ancião, deseja escolher o seu sucessor, mesmo porque surgiu a notícia de que o próprio monge queria, ele mesmo, interferir na escolha do seu sucessor.

Bisbilhotices à parte, essa história de colher escutas através de portas é defeito antigo.

Quem não lembra das escutas telefônicas implantadas nos aparelhos para colher informações, legítimas ou não?

Há quem diga que o segredo do sucesso é dispor de conhecimento do que faz o concorrente, daí as espionagens políticas e industriais.

Tem muita gente que contrata detetive particular para ver, até mesmo, se o seu cônjuge está traindo o amor de sua vida.

Nesse roteiro há quem disponha de vasto equipamento de gravação em foto, som e vídeo, oferecendo-o como bom serviço a quem deseje.

Ouvi falar que um desses ardilosos, bancando latino amante, foi grampeado pela esposa que o baniu a cabos de vassoura, rasgando-lhe ternos, camisas e gravatas, a tesouradas, janela abaixo, num escândalo terrível, porque o esperto, tinha insuspeito gosto, o de  terçar espadas.

Em tempos de outras espadas, a Bíblia nos fala que Josué, utilizando astúcia de sua época, mandou dois espiões para ver Jericó, suas falhas e vulnerabilidade, enquanto burgo emuralhado e impenetrável, sendo acolhido numa casa onde o sexo era compartido e no gozo os segredos partilhados.

Hoje, em muitas estórias espiãs, conta-se aquela de um comerciante antigo que em loja de última moda parisiense espiava as clientes, para gozo próprio, via furos estratégicos na cabine “indevassável”, onde as senhoras da cidade provavam as saias, os vestidos e as linjeris.

Houve até um fato contado em risos, porque o safado descobrira uma pinta curiosa, mas charmosa, numa região bem íntima de uma senhora respeitosa, e achou de confiar sua manha e patranha a bons amigos e confidentes, numa roda de cerveja, gerando uma confusão terrível, em muitos sopapos e duelos.

Sem sopapos e sem duelos, há o caso de um cidadão que muniu um WC, restroom  que não era o seu, com uma pequena câmara bem escondida, só para ver as intimidades dos usuários, coisa de sem-vergonhice e canalhice, ou qualquer coisa que assim melhor pareça.

Em verdade, o delito de bisbilhotar nunca foi novo, e vem distante…

Quem visita Nepomuk, cidade da Boêmia, na República Tcheca, ouve falar do Santo Mártir da Confissão, Swaty Jan Nepomucky, ou São João Nepomuceno, o Arcebispo de Praga que foi morto pelo Rei Venceslaw IV, após excedentes torturas, na Ponte Carlos sobre o Rio Moldava.

Reza a lenda que o Rei Venceslaw IV era violento, tinha frequentes acessos de fúria e um ciúme terrível da Rainha, sua esposa.

Em desconfianças crescentes, o Rei sequestrou o Arcebispo, querendo que este lhe confessasse o que a Rainha lhe confiava em tantas visitas ao Confessionário.

O Confessionário, sempre fora visto com desconfianças por todos que colocam reservas quanto ao Sacramento da Indulgência e do Perdão dos Pecados, muitos aí enxergando simples instituição norteada na obtenção de poder, afinal o múnus temporal costuma se utilizar do logro e do engano, para se assenhorear do espiritual.

Alguém já disse, numa aula de Informação e Estratégica, que o Vaticano possuía o melhor Sistema de Informações do Mundo, muito melhor que o Mossad israelense, a CIA americana e a soviética KGB, em tempos idos, só para falar de uma literatura que era best-seller, a dos espiões da Guerra-Fria.

Da história de João Nepomuceno, sabe-se que o Rei Venceslaw o torturou até a morte, jogando por fim o seu cadáver no rio, para que ninguém o percebesse.

Se o serviço foi malfeito, ou porque não há crime perfeito, o cadáver do bispo apareceu no rio, envolto numa luminosidade estranha, algo parecido a pequenos luzeiros, ou pequeninas estrelas, cinco, segundo alguns, em ilusão, insinuação, ou qualquer coisa inexplicável, algo que logo suscitou, desconfianças de culpabilidade do rei.

São João Nepomuceno – Praga

Verdade, fato ou mito, o Bispo foi enterrado na Igreja, e depois considerado Santo e Mártir da Igreja, sua língua sendo conservada incorruptível, em testemunho da firmeza de seu caráter e da fidelidade de seus votos, enquanto Padre.

Sendo simples lenda, tolo conto ou memorável legenda, o homem é o mesmo em seus erros e virtudes, todos peregrinando na estrada que é comum e passageira.

Do Santo João Nepomuceno, visitei a sua Igreja e vi a sua imagem, na ponte Charles, inclusive.

Pintura do martírio de São João Nepomuceno – Catedral de São Vito – Praga

Há uma pintura que fotografei mostrando três fatos da vida do Santo: numa cena o Padre está no Confessionário com a Rainha ajoelhada; em outra o Rei o interroga na corte, com um cachorro tudo escutando, enquanto na terceira e ao fundo, há um esboço da ponte Charles, onde o seu cadáver fora jogado no rio.

Estátua de São João Nepomuceno às margens do Rio Moldava – Praga.

Como o corpo do Padre foi devolvido pelas águas do Moldava apresentando estes luzeiros estranhos, a imagem do Santo é exibida com cinco pequenas estrelas por auréola, cada uma tendo um simbolismo que se perdeu em minha memória, restando algumas fotos que apresento só a título de ilustração, ou como informação, apenas.

Se da informação prevalece a importância de quem a deseja, dois fatos são históricos, por verdadeiros, afinal resultaram em assassinatos, via de idêntica inspiração: bisbilhotice do que lhe não era um bom assunto.

Falo do crime onde morreu João Pessoa, o Governador da Paraíba, fulcro da Revolução de 1930 e a consequente assunção de Getúlio Vargas como Ditador, e também da morte do irmão “bonito” do jornalista e teatrólogo, Nelson Rodrigues.

Crítica, jornal da família de Nelson Rodrigues com a história amorosa que ensejou o crime.

Ambos os assassinatos foram resultantes da exibição pública das intimidades de duas mulheres: Anayde Beiriz, a professora enamorada de João Dantas, o desafeto de João Pessoa, e da escritora Sylvia Thibau, que teve o seu desquite escandalizado no jornal “Crítica”, pertencente aos Rodrigues, com direito a xilogravuras picantes e picarescas da matéria escandalosa.

Escândalos e picaretagens à parte, os dois crimes teriam sua plena alforria, se não fosse o tumulto da política que do herói costuma erigir um bandido e do mal que foi, restar melhor, abençoado.

Resistindo no mesmo polo, veja-se, por exemplo, o Ex-Juiz Sérgio Moro, que auscultado em oiças ilegais, mesmo sem delito comprovado para ser explicitado, restou execrado, condenado e amplamente escarrado, só porque conversava tolices pelo telefone, falando demais com quem não devia, no caso uma banda dos querelantes, em própria voz flagrada, de “bebê chorão”, inconfundível, só porque estavam ocorrendo, os assim chamados; “embargos, comuns, por auriculares”.

Ora!, por mais credíveis e comuns que  sejam tais “embargos”, eles não podem existir, ora essa!

E, homessa!  Quando se chega nesse tal de “ora essa!”, tudo vale quando se quer, até destigrar o tigre, limando-lhe as presas e decalcando-lhe a pele, até mesmo em vil vazamento do criminal mal grampeado.

Nesse mal texto, por escolha, Asmodeu se torna santo, restando um bom crente nunca demonizado, em brindes tilintantes de Pera Manca.

Que Pera Manca, que nada! – dirá alguém – Melhor garrafas e botelhas de Château Lafite Rothschild, sobretudo para quem, do próprio bolso, só  brinda copas de Vinho Canção, ou de garrafão, ou acostumou-se às goladas do velho e rançoso, Sangue de Boi, que ninguém mais o encontra nos modernos cardápios.

Como do brinde só fica o arroto, avinagrado, o noticiário está falando adoidado do tal Pégasus que tudo pega e agarra, muitos o querendo para si, melhor que visgo de jaca.

Como, para todos os gostos, há jaca dura e mole, o Dalai-Lama igual ao Presidente Macron, e seus colegas no mundo inteiro, estão sendo vigiados, escutados e fisgados pelo Pegasus, nos seus telefones portáteis e nas escutas de alcova e gabinete.

Só o Mito passa distante: in-flagrável, ainda!

Por quê, se ele fala em tantos desagrados e aos cotovelos!?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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