Pobreza, conflitos armados e Aids são, no início do Século XXI, as maiores ameaças às crianças e adolescentes no mundo, de acordo com o Relatório Anual do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Para ilustrar como “milhões estão perdendo a infância”, o Unicef assim se expressou no primeiro parágrafo do Relatório: “Meninos e meninas revirando pilhas de lixo em busca de alimento em Manila, obrigadas a carregar um AK 47 pelas florestas da República Democrática do Congo, forçadas a se prostituir nas ruas de Moscou, privadas dos pais pela Aids em Botsuana e mendigando no Rio de Janeiro”. No Brasil, dos três problemas, o que mais preocupa o órgão da ONU é a pobreza. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto atinge 33,5% de toda a população brasileira, a pobreza avança mais sobre as crianças e os adolescentes – engloba 45% deles. A representante do Unicef no Brasil, Marie Pierre Poirier, faz uma comparação para citar uma região onde o índice pode chegar a alarmantes 95%: “Podemos dizer que a pobreza brasileira tem a cara da criança do semi-árido nordestino”. Todos nós sabemos que isto ocorre porque até hoje, muito pouco se fez para mudar este quadro e a conseqüência disto é a existência de um número cada vez maior de crianças abandonadas nas ruas de nossas cidades. A maioria delas, por nada ter recebido da vida e nem ter em vista uma vida melhor, entrega-se ao vício, à prostituição, à droga, ao assalto, à violência, à marginalidade. As principais causas que levam às ruas de nossas cidades um número cada vez maior de meninos e meninas abandonadas são as seguintes: a) A concentração de renda existente no Brasil; – b) O abandono em que vive o campo; – c) A visão destorcida do problema pelo Estado. Portanto, se nós quisermos realmente atacar e resolver o problema do menor carente, teremos que: 1) Fazer o Estado cuidar do que lhe básico – Educação, saúde, justiça e segurança. – 2) Incentivar a verdadeira economia de mercado, onde prevaleça a competência. – 3) Adotar uma política agrária, que estimule o homem permanecer no campo. – 4) Continuar fazendo o que vem fazendo para o país que continue a se desenvolver. – 5) Fazer cessar o privilégio de poucos em detrimento de muitos. São medidas que precisam ser imediatamente adotadas, mas cujos resultados não aparecem da noite para o dia. Há que haver perseverança para que tenhamos amanhã um país mais justo. Na retirada dos meninos e das meninas das ruas, poderão ser chamados para colaborar, dando ocupação, educação e alimentação durante todo o dia, as Igrejas, As Forças Armadas, os Clubes e as grandes Empresas. Todos nós precisamos estar conscientes que o Estatuto do Menor e do Adolescente somente será integralmente implantado quando surtirem efeitos as medidas acima citadas. Edmir Pelli é aposentado da Eletrosul e articulista desde 2000
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