Recentemente a Vento Leve Turismo de Experiência foi a única agência de turismo de experiência de Sergipe a apresentar seus produtos na WTM Latin América, o maior evento internacional de turismo no Brasil, realizado em São Paulo, nos dias 2 e 3 de abril de 2019. É crescente a tendência de que as agências de turismo busquem cada vez mais aliar o produto oferecido ao gosto do consumidor, segmentando-se, modificando sua forma de comunicar, profissionalizando-se em busca desse público-alvo. E o que dizer dos formadores de opinião, comunicadores, blogueiros e jornalistas do segmento do turismo de Sergipe? Seguem essa tendência de ir a campo e produzir conteúdos originais? De procurar atender ao público-alvo mais exigente e criar novos formatos de comunicação? O surgimento do influenciador digital produzindo conteúdo sobre o turismo sergipano, além do surgimento de portais de comércio digital vendendo souvenirs mostram que essa tendência tem transformado o mercado da comunicação do destino Sergipe.
A aprovação do conteúdo da Vento Leve Turismo na maior feira do turismo internacional no Brasil é um exemplo de que as empresas de serviços turísticos, os meios comunicacionais e seus formatos têm passando por uma constante transformação no mercado de Sergipe e não só, mas mundial. O comportamento do consumidor de viagens não é mais o mesmo e a facilidade de acessar, interagir, além da quantidade de conteúdo oferecido em redes sociais tem transformado o relacionamento mercadológico, além da forma de produzir e vender produtos turísticos.
Com a visão de que o empresariado pode sim caminhar sozinho, sem esperar pelo poder público; com o alicerce de parcerias através do trade; com a profissionalização da cadeia do turismo sergipano e, mais recente, com maior ênfase dada a popularização das redes sociais e do advento das novas mídias e plataformas digitais especializadas em turismo, Sergipe não fica de fora desta mudança e entra no mercado através do surgimento de sites especializados de produtos turísticos, plataformas de e-commerce, agências especializadas, perfis em redes voltados para roteiros e produtos turísticos.
O turista cada vez mais procura “viajar” nas redes sociais antes de embarcar na propriamente viagem, tornando-se mais exigente, informando-se e buscando adequar o roteiro de viagem ao seu sonho de consumo. As redes sociais passaram a ser o primeiro cartão de visita e guia turístico daqueles que desejam ter novas experiências em outras terras. Alguns diriam que seria um novo perfil de viajante que tem ditado essa tendência, outros acreditam que é a união do comportamento com a cultura digital através da qual os formadores, produtores de conteúdos e agentes de serviços não tem como se refutarem desse novo alinhamento.
Para o publicitário Allan Alberto Oliveira, coordenador dos cursos de pós-graduações em Comunicação e Marketing da Faculdade de Negócios de Sergipe (Fanese), a questão da cultura digital não é somente rede social, mas envolve questões comportamentais, que, segundo o especialista em Planejamento do Turismo e da Comunicação, reduz e facilita os processos e tomadas de decisões. “Essa nova cultura vem modificar também o comportamento de consumo, com o padrão de referência na celeridade, nos processos e tomadas de decisão. Com essa mudança, a convergência dos meios que o celular proporciona, em particular, facilita ainda mais esse processo de mudança de comportamento e busca de referências. A comunicação turística tem que ser feita por canais diferenciados e trabalhar conceitos neste consumidor. A comunicação do turismo hoje tem que trabalhar comportamento e não mais cartão-postal”, avalia.
O coordenador do curso de Turismo da Universidade Federal de Sergipe, Denio Azevedo, lembra que no Brasil ainda se discute a exclusão digital e o acesso à determinados tipos de tecnologia. Ele destaca que a comunicação digital é uma tendência, mas não é tudo que acontece no mundo que se pode trazer para a realidade brasileira, até porque em alguns países se discute o acesso 5.0 e no Brasil o 4.5 é uma realidade de uma operadora. “Quer queira, quer não, não se tem acesso ainda e gera exclusão digital, há realidades desistas, com processos de avanços tecnológicos também distintos. Essa mudança chega em todos os lugares, mas não chega ao mesmo tempo e com a mesma eficácia”, explica.
Com relação aos blogs e novas plataformas comunicacionais, Denio Azevedo cita que ao longo da história há o jornal impresso, a literatura, a TV, o cinema, as obras de arte, mas, segundo o pesquisador, o que mais se aproxima do guia turístico impresso são os blogs. “Recordo que ia passar três dias e acompanhei fielmente o que um dos blogs apontava. A blogueira pediu para tomar cuidado porque o museu não abria na terça, enquanto que todo o mundo os museus não abrem na segunda. Ela indicava o que poderia fazer no primeiro dia, no segundo dia, no terceiro dia com uma linguagem muito cotidiana, ao ponto de dar dicas muito relevantes”, conta.
O professor da UFS ainda destacou o imaginário turístico construído pelo turista em pesquisas a sites e blogs feito na pré-viagem, e, quando acontece a viagem, o turista ratifica ou retifica os imaginários. “Temos sensações boas de que já conhecemos aqueles espaços, e por outro lado, temos uma sensação ruim, que é próxima de uma propaganda enganosa. Esses blogs criam novas perspectivas e auxiliam nessa autonomia do turista”, destaca.
Experiências sergipanas
O surgimento de blogs e páginas nas redes sociais a partir do início de 2014 para cá mostram que a comunicação do turismo nas redes sociais veio para ficar, a exemplo do Destino Sergipe, Blog Partiu Mundão, Existe um Lugar no Mundo, Silvio Tô no Mundo, Meu Mundo X, Orla de Aracaju, Lugares de Memória, Sergipe Trade Tour, Destino Sergipe, Eles no Mundo, Sergipe Visto do Alto.
Antes a comunicação do turismo era somente feita por sites oficias do poder público ou por alguns jornalistas que escreviam roteiros e notícias em jornais impressos ou matérias em quadros de entretenimento da TV, por vezes, à custa de permuta ou uma divulgação extra.
A exigência atual de mercado exigiu profissionalização do setor de comunicação de turismo e a agilidade em se comunicar com o viajante em potencial tornou os blogs e páginas em rede um filão deste mercado.
Rafael Fontes, proprietário do Destino Sergipe lançado em maio de 2018 no Museu da Gente Sergipana, em Aracaju, juntamente com o sócio, Alfredo Tavares, destaca que o objetivo do portal é justamente promover um novo conceito de potencialidades de Sergipe.
O publicitário acredita que a internet é importante, mas não deve substituir o corpo a corpo, a exemplo do papel do guia de turismo. “Acreditamos que os guias devem estar contextualizados às novas plataformas da comunicação, mais sempre com sua importante atuação como forma de apresentar experiência e locais aos turistas”, diz.
Para Sônia Pedrosa, jornalista e responsável pelo blog Existe um Lugar no Mundo, que começou em formato impresso no Jornal da Cidade, em Sergipe, as redes sociais são formatos ideais para a veiculação de informações turísticas, uma vez que a demanda é por textos curtos e objetivos, além de fotos ilustrativas. “A gente precisa oferecer o que as pessoas querem, de forma clara e sucinta. Quase ninguém mais tem tempo para os longos textos. A informação deve ser imediata, ao gosto do freguês. Nesse viés, o Instagram é a bola da vez”, afirma.
Segundo a psicóloga e blogueira de viagem responsável pelo Blog Partiu Mundão, Amanda Ávila, a nova maneira de se comunicar através do blog, além de facilitar a vida do viajante, influencia nas decisões em relação ao destino a ser visitado, a melhor época para conhecer e na elaboração de um roteiro. “É a maior fonte de inspiração para os leitores que buscam vivenciar novas experiências pelo mundão, onde compartilhamos experiências e vivências da cultura e dos costumes do destino escolhido”, relata.
Iniciado em 2017, o blog relata experiências e traz fotos autorais. “Destaco que é uma evolução, porque ser psicóloga é amar o ser humano em toda a sua complexidade e a cada viagem que faço é mais uma oportunidade de ampliar minhas relações interpessoais, aprender mais sobre mim e o outro, respeitando as diferenças e o espaço de cada um. Viajar é vida”, afirma.
Personalização dos serviços e e-commerce
O Portal Orla de Aracaju é fruto também dessa nova visão, que traz produtos e serviços sergipanos vendidos através de plataformas digitais, com o intuito de gerar lucro aos administradores, além de consolidar o destino Sergipe.
Administrado pelos sócios Rony e Cláudio Mecenas, o produto turístico iniciou dentro da proposta de um startup e hoje oferece serviços diversos, desde passeios de catamarã pelos rios sergipanos, aluguel de bike na orla de Atalaia, aulas de kitesurf, de surf na Cinelândia. “Queremos mais, desenvolvemos um portal como uma revista eletrônica que tem conteúdos informativos, sempre inovando com espaço para o turista ver onde comer, onde se hospedar, o que visitar. Também disponibilizamos bonés, chapéus e viseiras de Sergipe, por acreditar que seja uma tendência a gente consumir o produto local”, informa.
Para um público segmentado, a Vento Leve Turismo de Experiência se consolida no mercado como uma agência voltada aos turistas que gostam de vivenciar o dia a dia local das comunidades onde são visitadas, dos costumes, dos hábitos e tradições de determinado grupo social, por exemplo, vivenciar um dia na comunidade da Ilha Grande com samba de coco; visitar Laranjeiras com um almoço oferecido em um tradicional terreiro de candomblé, e assim experimentando locais em que o turismo tradicional não costumava levar.
Agência fruto da Rosa dos Ventos Consultoria e Pesquisa, a proprietária e professora de Turismo Gabriela Nicolau disse que a iniciativa surgiu depois de 13 anos de visitas técnicas voltadas à apresentação e análise do potencial turístico dos recursos naturais e culturais de Sergipe e de outros estados, primeiramente aos alunos dos cursos de turismo, e, depois, como consultora. “Cada visita técnica eu me encantava com a beleza simples, rústica, primitiva de Sergipe. Percebia o quanto eram bonitos os nossos rios e agradável passear por eles, quão inexploradas e belas eram as nossas praias. Ao longo desses anos conheci nossos encontros culturais, nossas danças, nossas festas, ritmos, o pulsar da cultura sergipana. Finalmente, morei fora do estado e do país por alguns anos. Aprendi, assim, a valorizar quem somos enquanto lugar, cultura, tradição e, sobretudo, povo”, explica.
Para ela, mais do que segmentação do público-alvo, fala-se em personalização de serviços, uma demanda internacional do mercado turístico que, segundo a especialista, tende a crescer. “Estamos falando em focar no atendimento a demandas específicas, no caso da Vento Leve, a grupos que desejam conhecer o lugar visitado para além do óbvio, do convencional, do fácil. Buscamos, em nossos roteiros, levar as pessoas à reflexão, ao encontro verdadeiro com o lugar visitado, com os demais turistas e, especialmente, com quem os recebe”, disse.
Há quatro anos com o nome Sergipe Viagens no mercado, e mais 13 anos oferecendo serviços e roteiros sergipanos, o microempresário Estevan Reis, tem uma outra visão e acha louvável que as agências se segmentem e ofereçam produtos a públicos específicos. “Vender algo que é nosso está escasso e desvalorizado, mas muito disso se dar pela falta de criatividade e inovação empresarial. Um exemplo são as nossas serras que são extremamente abandonadas, onde se tem um Parque Nacional e não tem investimentos em infraestrutura, segurança e capacitação. Ai entra a inovação dos empresários”, disse.
Cuidados e padrão de qualidade
Conforme Nairson Socorro, presidente da Associação de Jornalistas de Turismo de Sergipe (Abrajet/ SE), que também é responsável pela página Viaje Sergipe, o internauta há de ter cuidado com o que ler, porque nem sempre as informações são confiáveis, haja visto que muitos blogs e sites de turismo trazem opiniões de quem escreve ou até mesmo um texto que envolve a publicidade de um proprietário de serviço turístico. “As redes sociais são fontes, mas devemos tomar cuidado e filtrar às informações lendo vários meios de comunicação e verificando sempre. Também observar quando há muitos adjetivos do local e opiniões que fogem da realidade. Veja também as fotos se não trazem muitos filtros, que por vezes não condizem com o real”, elenca.
Cristiane Picanço, professora do IFS e especialista em Marketing lembra os blogs como espaços que exigem também cuidados e enfatiza que para os fornecedores de serviços turísticos, as redes sociais trazem como benefícios a rapidez da informação; um baixo custo, se comparado às mídias tradicionais; o alcance de uma grande quantidade de clientes reais e potenciais ao mesmo tempo. No entanto, segundo a pesquisadora, muitos comunicadores ignoram o sentido de rede social, de um ambiente que exige a troca de informações, e de interação, e assim, deixam de conduzir os relacionamentos mais duradouros e lucrativos com seus possíveis clientes. “Não atentam ao fato de que as imagens têm um apelo muito forte e postam fotos que não são atraentes, tampouco originais. Não dão feedback às perguntas, dúvidas ou comentários, não mantêm uma frequência de postagens, o que torna o canal digital monótono, poluem o espaço da comunicação com excesso de imagens e de texto, sendo estes apenas alguns exemplos do frágil uso dessa ferramenta comunicacional”, avalia.
Para ela a comunicação mercadológica dirigida aos viajantes nas redes sociais é uma realidade e não mais uma tendência. Algo positivo, acessível e democrático em que a concorrência e o julgamento dos futuros turistas consumidores, farão com que esta comunicação se torne cada vez mais criativa e rigorosa quanto ao seu padrão de qualidade.
Curta nossas redes sociais: