Peso da coalizão

O afastamento temporário do governador João Alves Filho (PFL) de suas atividades administrativas, distante dos despachos em Palácio e de encontros importantes, como o ocorrido na semana passada, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os governadores de todo o país, vem servindo de nutriente para as cabeças que produzem boatos nos quatro cantos da cidade. Desde que assumiu o Governo, em janeiro, que a notícia sobre doença do governador se espalhou, mas estancou pela própria atuação de João Alves Filho, à frente de projetos, solenidades e festejos populares, como o carnaval. Mas a central de boatos retornou às suas atividades, com a ausência do governador, que está recolhido em seu apartamento e cuida de duas hérnias de disco, cujo tratamento é lento e requer paciência, repouso absoluto e exercícios fisioterápicos freqüentes. Apesar de ser obediente ao médico, João Alves não deixou de atender a alguns auxiliares e até mesmo a políticos importantes, com os quais trata da administração e da sua estrutura política nas áreas municipais, estaduais e federais. João já está sem dores, mas ainda com algumas áreas imobilizadas, que prejudicam a flexibilidade dos movimentos. Depois de comprovada a existência de duas hérnias de disco, alguns analistas mais irônicos passaram a considerar que o problema fora provocado pela peso da coalizão. Na realidade o governador teve que fazer uma série de entendimentos para fortalecer o grupo que o apoiaria a retornar, pela terceira vez, ao Governo do Estado. E teve que suportar alguns pesos pesados, que até mesmo a estrutura óssea de outros aliados mais fortes fisicamente, não suportaram e também se curvaram às dores provocadas por hérnia de disco. As eleições são propícias a esse tipo de peso que testa a rigidez das colunas. A carga de compromissos é intensa e o número de malas sem alça que se tem de suportar, em nome dessa tal coalizão, é de fazer estourar as vértebras mais resistentes, embora isso nada tenha a vem com a coluna. As acomodações dessa tonelada de solicitações põe em stress crônico qualquer cidadão e as cobranças de campanha dilaceram nervos, músculos, estrutura óssea e, principalmente, paciência e tolerância. É barra muito pesada, que invariavelmente põe o sujeito com sinais visíveis de todos os tipos de doença. Os problemas no interior são uma loucura. Prefeitos e lideranças políticas querem o máximo e não se contentam com o limite que beneficie o seu grupo. Mesmo para os adversários domésticos, que também apoiaram o candidato ao Governo, a preferência é benefício zero. O governador eleito já se desdobra na escolha dos auxiliares de primeiro escalão, que terão força nas decisões de Estado e na estruturação administrativa, mas não pode deixar de lado um bom grupo de líderes de médio porte, que deu sua contribuição e deseja integrar a cúpula administrativa. Também tem as disputas partidárias. Todas as legendas que ajudaram na coligação ficam se digladiando para conquistar posições mais expressivas. E o governador, além de cuidar da acomodação das divergências, tem que fazer a escolha daquele que melhor represente o consenso do grupo conflitante. Ninguém entra numa disputa eleitoral por ideologia ou porque considera que um ou outro seja melhor candidato. A inclusão se dá depois de uma análise das condições de melhor vantagem e da avaliação de possibilidade de saltos mais altos. Muitos poucos fazem política para servir ao povo. A grande maioria entra para servir-se da política… Depois de tudo isso resolvido, enfrenta-se o maior peso de uma eleição vitoriosa: o preenchimento dos cargos em comissão. É um chute nos pulmões. Centenas de pedidos se acumulam sobre mesas, além daqueles que chegam para se manter os comissionados que já estão nos cargos. É uma confusão sem fim, porque está ai a massa que se tem de nomear para satisfazer aos interesses mais simples dos chefes políticos, amigos e parentes. É um delegado para um lugar, a diretora da escola para outro e a mulher de um prefeito que não comparece, filhos de autoridades dos outros poderes, genros, noras, irmãs, amantes, papagaios, gatos e cachorros. É uma doideira que não tem coluna que agüente. O peso cresce quando a máquina começa a dar os primeiros movimentos e a engrenagem está ainda afinada ao ritmo do Governo anterior. Nesse caso não tem jeito: o sujeito ou entra em parafuso, ou tem duas hérnias de disco e é preciso muita fisioterapia, muitos exercícios, repouso absoluto para se recompor e colocar todos os setores em produção, com o risco de sofrer uma recaída com o peso terrível das demissões ou remanejamentos. Além de tudo isso, o massacre dos boatos. E ainda é obrigado a ter paciência para suportar os chatos que já trabalham na perspectiva política para os anos seguintes. É fogo, com “ph” de farmácia… COMISSÃO A Comissão Processante que apura a participação do deputado Antônio Francisco no crime de Joaldo Barbosa reuniu-se ontem na Assembléia Legislativa. Juntou-se ao processo o pedido de prorrogação de defesa do parlamentar por mais 10 dias, como manda o Regimento. O relator da Comissão, Ulices Andrade, já comunicou a decisão ao indiciado. OPINIÃO O deputado Ulices Andrade disse ontem que a Comissão já tem opinião formada no que apurou o inquérito policial e no processo do Ministério Público. A Comissão agora vai ouvir o contraditório, para ver se há necessidade de convocar alguém para prestar depoimento. REUNIÃO Como presidente em exercício do PSDB, o deputado Ulices Andrade reuniu, na semana passada, prefeitos e lideranças do tucanato, para definir as eleições de 2004. Segundo Ulices, o pessoal está querendo lançar candidatos às Prefeituras em todos os municípios, inclusive em Aracaju: “para isso estamos conversando”. PETI A Folha de São Paulo divulgou Sergipe como um dos Estados que tem a média de trabalho infantil abaixo a da registrada para o País. O deputado Ulices Andrade tem certeza que foi um trabalho do ex-governador Albano Franco, que aplicou o Peti em todos os municípios de Sergipe. EXORCISMO O deputado federal João Fontes (PT) terá um encontro com frei Beto, assessor do presidente Lula da Silva, para sugerir uma conversa com o padre Quevedo. João acha que o padre poderia ser chamado para exorcizar o espírito do general Golbery do Couto e Silva, que ainda perambula pelo Palácio do Planalto. NÃO VOTA O deputado federal João Fontes tem dito que não votará favorável à reforma previdenciária que o Governo Federal está propondo, em que cobra descontos nos salários dos inativos. Diz que esse discurso está fazendo através da imprensa nacional. “Não é apenas para a política local”. João garante que não vota, mesmo que isso lhe valha a expulsão do partido. REFORMA Caso a reforma da Previdência seja aprovada pelo Congresso Nacional, o conselheiro Carlos Pinna, do Tribunal de Contas, terá que entrar na aposentadoria compulsória. Caso insista em permanecer, vai se enquadrar na reforma previdenciária e terá prejuízos salariais no futuro. Aliás, muita gente terá que fazer isso. ATINGIDOS Já os conselheiros Reinaldo Moura e Isabel Nabuco, que têm menos de cinco anos, receberão salários de conselheiros até os 70 anos e se aposentam com R$ 2.400,00. Com essa perspectiva, é possível que o conselheiro Reinaldo Moura já esteja pensando em retornar à política. Bom, mas tudo isso se for aprovada a reforma da Previdência. FONTES A colunista política do Correio Brasiliense, Arlete Salvador, disse ontem que a turma dos radicais do PT ganhou outro integrante, o deputado João Fontes, de Sergipe. Segundo Arlete, Fontes uniu-se ao colega Babá (PA) para pedir ao TCU que faça auditoria nas contas da Previdência Social. DESCONFIA Os deputados João Fontes e Babá querem saber qual a real situação das contas do sistema previdenciário, desconfiados dos números divulgados pelo Governo. João Fontes disse a Arlete Salvador que “o Governo precisa ter bom senso e mostrar as contas à sociedade”. JUDICIÁRIO O judiciário também será afetado, em caso da aprovação da reforma da Previdência, porque juizes e promotor que têm tempo de serviço na empresa privada e entraram recentemente na Justiça, se aposentam com R$ 2.400,00. Também será colocado um fim nas aposentadorias de servidores que assumem secretarias e se aposentam com o salário de primeiro escalão. JOÃO O governador João Alves Filho está bem melhor e deve viajar a Brasília, dia 30, para a entrega do projeto da Previdência ao Congresso Nacional, acompanhando a comitiva do presidente Lula. João Alves Filho está despachando de casa, mesmo com dificuldade de mobilização. As dores praticamente desapareceram com os remédios e a fisioterapia. COMPLICADO O senador Renildo Santana (PFL) acha muito complicado encontrar uma saída para a Reforma Previdenciária, sem mexer em alguma coisa: “de onde virá o dinheiro para pagar a dívida?”. Renildo é contra que o aposentado que ganha o salário mínimo e quem já tenha direito adquirido voltem a pagar a previdência. “A reforma é muito complexa”, deduziu. REFINARIA Os deputados federais José Carlos Machado e Jackson Barreto foram ontem ao presidente da Câmara, João Paulo, para pedir uma audiência com o presidente Lula da Silva. É que os deputados não ficaram satisfeitos com o que ouviu da ministra das Minas e Energia e do presidente da Petrobrás, porque não tiveram a garantia de que a Refinaria virá para o Nordeste. Notas TUDO ZERO O deputado federal José Carlos Machado (PFL) fez pronunciamento, ontem, na Câmara Federal, mostrando que o Governo Lula adotou o número zero como limite de todas as suas atuações, que vão da segurança, ao aumento do funcionalismo, entrando no orçamento. O deputado sugeriu a formação de “Ministérios de Orçamento Zero”. Machado disse que “a inércia se manteve firme nas questões da área econômica. Esta-se seguindo à risca a cartilha do FMI, ou seja, até agora as novidades não passam do zero e já começam a dizer por ai que este é o Governo da Mudança Zero”. DETERMINADO José Carlos Machado continuou dizendo que “O governo da Mudança Zero parece continuar firme em sua determinação de não passar da nota última de um estudante. O Ministério das Cidades, por exemplo, ainda não deixou clara a sua finalidade, já que o seu orçamento, segundo palavras do próprio ministro, é virtual, o que se pode dar um zero na execução”. Machado ironizou: “Mas, para concluir e não cometer injustiças, devo admitir que, no ritmo que as coisas vão, ter-se-á dois setores de suma importância da nação, infelizmente acima do zero, ao menos nos próximos meses: são as taxas de juros e o superávit primário”. FABIANO O deputado federal Jackson Barreto levou o deputado estadual Fabiano Oliveira para um encontro com o presidente do PTB, José Carlos Martinez. Fabiano gostou muito da conversa, porque Martinez já o conhecia e sugeriu seu engajamento no Ministério do Turismo e Embratur: “precisamos de jovens com boas idéias”, disse. Fabiano ficou entusiasmado, mas não se definiu. O que lhe fez brilhar os olhos foi à possibilidade de voltar a trabalhar no turismo, porque Martinez foi claro em dizer que precisava dele para desenvolver o setor no Nordeste. Por Diógenes Brayner brayner@infonet.com.br

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