O Partido dos Trabalhadores pode estar assustando com as posições que vem adotando, depois que assumiu o comando do país. Está claro que vem provocando constrangimentos e dissabores a uma parcela considerável de militantes, principalmente das bases, que sempre acompanhou um partido que esteve na linha de frente da contestação aos métodos utilizados pela direita. Os parlamentares, integrantes da ala radical livre do PT, também estão indignados, porque mantêm o purismo ideológico de quem estava na oposição. Evidente que o Partido dos Trabalhadores se excedeu em sua reciclagem. Nem tão sectário, nem tão neo-liberal. O modelo utilizado pelo PT que está no poder, não faz inveja a qualquer Arena de antigamente, nem ao PDS (hoje PP) ou ao PFL e PSDB. Aliás, já dissemos aqui, neste mesmo lugar, que não existe mais pudor abaixo da linha do equador. Está tudo nivelado. Quem sempre esteve sob o manto ideológico de um país voltado para os excluídos, em favor de uma nova política que reduza a diferença social e contra a má distribuição de renda, se assusta com essa volúpia extravagante pela abertura, que atacou a cúpula petista. É estranho que isso esteja surpreendendo tanto a quem discorda desse novo pensamento petista que assola o país. Desde que iniciou a campanha eleitoral, orientado pelo governista Duda Mendonça, que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva mostrou o seu lado aberto a qualquer diálogo, desde que chegasse ao poder. Lula não foi sábio, foi soft. Além disso, seguiu com dedicação a cartilha da nova concepção política que se vislumbrava para o petismo, que seria se transformar em um partido mais para o continuísmo do que para as mudanças. A estratégia foi porque o modelo que o PT sempre expôs, jamais conseguiu chegar ao Planalto. As concessões de campanha, que pareciam uma estratégia de conquista de forças eleitorais, já eram uma nova concepção política, dentro do sentido da mudança programática. E todo esse jogo é tão natural, que os partidos conservadores que vão integrando o novo Governo, não estranham esse jogo de sedução para fortalecimento das bases governistas no Congresso Nacional. Sempre foi assim, com todos os partidos. No fundo, agora está comprovado, o Partido dos Trabalhadores apenas fingia ser diferente. Tratava-se de farinha do mesmo saco… É de se entender a indignação de uma elite política e intelectual que sempre acreditou no Partido dos Trabalhadores e deu um pouco de suor e sangue para que Lula subisse a rampa do Planalto. Mas nos corredores bem decorados do poder, nos gabinetes luxuosos e com toda a pompa de um cargo jamais conquistado por um retirante, é muito complicado pensar em igualdade social e não encher os olhos com o assédio de um capitalismo fascinante. A fidelidade canina ao FMI, o pagamento do rombo da Previdência com o dinheiro do trabalhador, a mão na cabeça dos maiores devedores do INSS podem ser espantoso para quem ainda se arrisca invadindo terras ou procurando casas para morar. Mas, para quem está com o poder de decidir os destinos do país e sabe que a força do capital é que o sustenta, jamais vai retornar aos gritos de antes. Lógico que os mortos de Araguaia tremem quando ver o José Genoino, de baioneta em punho, promovendo uma verdadeira caça às bruxas. Mas, as ações de guerrilha são atos do passado, coisa de uma juventude desesperada. Hoje não. É a visão real de poder, que manda às favas os tais pruridos ideológicos, que o levaram a ficar contra um regime de exceção que ele, arrependidamente, tentou derrubar pela luta armada. O trabalhador comum, que não tem participação em movimentos classistas, está indiferente a esse jogo político que forma uma nova força com tendência à direita. Preocupa-se apenas com a questão da taxação salarial dos aposentados, mesmo que esteja distante de chegar a isso. Pode lamentar ter votado em Lula na esperança de melhorar suas condições de vida, mas, ao mesmo tempo, está habituado a esse ritual eleitoreiro de se prometer todas as melhorias em favor do povo, e sempre o resultado final favorecer as elites dominantes. O homem do campo, principalmente o sertanejo, que se agarra a qualquer esperança de sobrevivência, quer é saber se algum político lhe dá o que comer. Está habituado a esse tipo de modelo, porque não há diferença dos demais. Alias, é até comum essa distribuição de comida, esse paternalismo humilhante, esse assistencialismo que apenas atenua uma situação crônica que se arrasta por dezenas de anos, mas que não muda o quadro de desolação e miséria em que naturalmente vivem esses pobres. Dentro desse contexto, só percebe que o Partido dos Trabalhadores está praticando equívocos, ao dar continuidade à mesmice que sempre se experimentou neste país, é a elite pensante, a elite intelectual e a elite sindical, que sentem na pele essa involução política, deixando todos sem esperança de se mudar a história desse Brasil de agora. CASSAÇÃO O deputado Ulices Andrade, relator de Comissão Processante, pede amanhã a cassação de Antônio Francisco, por quebra de decoro parlamentar. Ulices já pediu ao presidente da Comissão, deputado Augusto Bezerra, para reunir todos os membros, quando será apresentado o relatório final com o pedido de cassação. DECISÃO Apesar do pedido certo de cassação, que será feito pelo relator, não quer dizer isso seja aprovado imediatamente na Comissão Processante. Vai depender do ponto de vista dos seus membros, que podem concordar ou não com o pedido. Podendo até ser contrários. PRESIDENTE A decisão final da Comissão Processante será entregue para o presidente da Assembléia, Antônio Passos (PFL), que deverá colocar em votação pelo Plenário. A expectativa é que o relatório pedindo a cassação seja colocado em votação dia 27, quando fazem quatro meses do assassinato de Joaldo Barbosa. PROVAS Ulices Andrade disse que o superintendente da Polícia Federal, Kércio Pinto, revelou que não havia provas contundentes até o dia que ele acompanhou o inquérito. Acrescentou que depois surgiram bilhetes envolvendo Antônio Francisco, além do relatório enviado pela Telemar, de um telefone que comprometia o deputado. IMPORTANTE No relatório, Ulices Andrade considera todos esses novos indícios como elo importante que incrimina o deputado Antônio Francisco por quebra de decoro. A participação direta do filho do deputado, no projeto para assassinar Joaldo, com o objetivo do pai ser beneficiado, termina envolvendo também Antônio Francisco. DEPUTADO A declaração do superintendente da Polícia Federal, Kércio Silva Pinto, de que não há indício da participação de Antônio Francisco no inquérito policial, animou o deputado. Antônio Francisco já está começando a conversar com colegas e pessoas influentes. Já tem gente apostando que ele vai concluir o mandato e que terá apoio de políticos fortes do Estado. AVALIAÇÃO Um deputado estadual revelou, ontem, que não há muito interesse que o suplente de Antônio Francisco, vereador Francisco Gualberto (PT) assuma o mandato na Assembléia. É que se mantendo Antônio Francisco, ele vai ficar “refém” de quem influenciou para que ele permanecesse com o mandato. CLIMA Um dos deputados do bloco governista disse, ontem, que a orientação da bancada é para cassar o deputado Antônio Francisco. Antônio Francisco, segundo a mesma fonte, está conversando com todos os deputados, baseado na declaração do superintendente da Polícia Federal, Kércio Pinto, e dizendo que é inocente. DOMINGO O deputado federal João Fontes chegou domingo em Brasília, para se preparar, “porque esta será uma semana muito dura”. João disse que a sua expulsão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) “mexe muito com a gente, porque tudo foi decidido no Palácio do Planalto”. PREJUDICA João Fontes acha que a sua saída da Comissão de Constituição e Justiça prejudica muito o Estado todos os Estados do Nordeste. Defende que, se o projeto de reforma tributária manter que os impostos sejam cobrados nos Estados produtores, não pode excluir petróleo e energia, só para beneficiar São Paulo. EXPLICANDO A proposta de reforma tributária do Governo é feita exclusivamente para beneficiar São Paulo, que é o maior Estado produtor do país. Sergipe, por exemplo, que é um dos maiores produtores de energia, fica proibido de cobrar imposto de Estados consumidores, exatamente porque São Paulo é quem mais compra. LAMENTA O deputado federal João Fontes disse ontem que lamenta a posição do prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, que “está pedindo a expulsão de todos os dissidentes”. João disse que o prefeito não pode negar essa afirmação, porque a sua entrevista, concedida à agência do Nordeste, foi publicada por vários jornais. REUNIÃO O secretário da Fazenda, Max Andrade, viaja hoje a Brasília para participar de reunião com colegas de outros Estados, com o objetivo de discutir a reforma Tributária. Max defende o princípio do imposto cobrado no destino, a manutenção dos critérios do FPN e ampliação dos fundos proporcionais (Confins, CPMF, Pis/Pasep e CSSL). Notas DISSIDENTES Os parlamentares dissidentes do Partido dos Trabalhadores estão lutando internamente para tentar ganhar dentro da legenda e evitar qualquer punição. Todos acham muito difícil que isso aconteça, porque já há uma perseguição formada e a intenção de anular quem se rebelou contra qualquer posição equivocada da legenda. Em ultima instância, eles vão tentar unir os desgostosos com o atual Governo, filiados a outras legendas, e tentar uma nova alternativa política de esquerda. Não há muita possibilidade de engajamento em outras legendas sectárias. REFORMA Parlamentares de Sergipe só vão lutar para incluir energia e petróleo entre os produtos que se cobra imposto na origem, caso não consigam rever a situação para que todos os demais produtos tenham o ICMS cobrado no destino. Na opinião da maioria, a reforma da forma que está beneficia mais São Paulo. A estratégia do silêncio sobre energia e petróleo, principalmente a primeira, é porque Sergipe é um dos Estados que mais vende energia, ao lado do Paraná, Pará e Rio de Janeiro, o que contraria os outros Estados. RETORNO O governador João Alves Filho chega amanhã de Washington e fica no Rio de Janeiro, onde terá audiência com o presidente da Eletrobrás para tratar sobre o projeto Luz no Campo. O mesmo assunto será tema do encontro com a ministra das Minas e Energia, em Brasília, no mesmo dia à tarde. João Alves Filho fará palestra na Câmara dos Deputados sobre as implicações da Reforma Tributária para o Nordeste na quinta feira pela manhã. Ao meio-dia está agenda audiência com o ministro José Dirceu, da Casa Civil. É fogo O PTB teve solucionar problemas para colocar no ar o seu programa eleitoral, preparado para ir ao ar ontem. O secretário de Turismo, Pedrinho Valadares, viaja hoje a Portugal e vai divulgar potencialidades turísticas de Sergipe naquele país. Embora tenha se mantido uma perda menor no FPE, Sergipe não sentiu o problema em razão do crescimento da arrecadação. Embora discorde de alguns pontos das reformas do Governo, o Partido Liberal votará a favor só para não contrariar o presidente Lula da Silva. O prefeito Marcelo Déda e o deputado João Fontes, ambos do PT, não tem condições de tocar na mesma banda. Estão desafinando… A música “Não chore Helena”, cantada para a senadora Heloisa Helena, é de autoria do jornalista Theotônio Neto. Apesar das fortes chuvas que caem em Aracaju e cidades próximas, o sertão tem lamentado a estiagem. A chuva tem sido muito pouca. O deputado federal Jackson Barreto (PTB) é considerado como membro da tropa de choque do presidente Lula da Silva no Congresso Nacional. O deputado Heleno Silva tem argumento em favor da taxação para quem já passou a vida inteira contribuindo para a Previdência. O deputado João Fontes ficou muito chateado porque só soube do seu afastamento da Comissão de Constituição e Justiça, pela imprensa. O ex-prefeito de Lagarto, José Raimundo Ribeiro, está trabalhando sua candidatura à Prefeitura daquela cidade. O ex-vice-governador Benedito Figueiredo (PMDB), segundo informou um membro do seu partido, quer disputar a Prefeitura de Aracaju. A oposição continua em silêncio na Assembléia Legislativa, mas está anotando e guardando uma série de fatos que vêm surgindo dentro do Governo. brayner@infonet.com.br