PREFEITURA DE ARACAJU – A QUE PONTO CHEGOU COM OS MÉDICOS – A OUVIDORIA

Do médico Gildo Simões, membro da SOBRAMES-Sergipe, a coluna recebeu a seguinte matéria, transcrita abaixo.

 

 

“A classe médica que presta assistência de saúde pelo SUS tem sofrido constantes constrangimentos ao ser interpelada no trabalho do dia a dia e paga um ônus que não merece  . É  um exame ou procedimento que se solicita  ou um encaminhamento de consulta para uma outra especialidade que demora a ser autorizada, além de outras dificuldades que o SUS possui. Agora mesmo uma médica aprovada em concurso para a área de nefrologia e que exercia suas atividades no posto, toda vez que queria ver uma radiografia tinha que sair da sua sala  para ir a uma outra que tivesse um negatoscópio, com perda de tempo, desrespeito, stress e somado a um numero elevado de pacientes a serem atendidos, a doutora preferiu pedir exoneração do emprego. Conclusão: os usuários do SUS ficaram sem a jovem especialista e sem opção da especialidade de nefrologia para seus tratamentos. Isso é bom para o sistema?

Um outro aspecto que vem chamando a atenção dos profissionais da saúde é a tal da Ouvidoria, que funciona da seguinte forma: o usuário que é atendido num posto de saúde  e não gosta do atendimento ou do profissional, vai  pessoalmente até o escritório da Ouvidoria no Siqueira Campos e fala o que bem quer, não assina a queixa e não se identifica. Pode usar até um nome falso. A queixa pode ser feita também por telefone, anonimamente, ou pela internet. Em suma, os profissionais de saúde estão em xeque-mate, tão logo a ouvidoria recebe as queixas, falsas, ridículas ou não, o documento é levado através de um office-boy até o posto do profissional denunciado, e tal documento muitas vezes é anexado ao livro de ponto sem qualquer parcimônia, podendo ser lido por qualquer pessoa. No verso desta queixa tem um aviso em negrito dizendo que o usuário está esperando a resposta sobre a queixa, sendo estipulado um prazo. É semelhante a intimação de polícia, e este é o clima da Ouvidoria , mas se analisarmos o citado documento verifica-se que o programa de computador usado pela ouvidoria para registrar a queixa do usuário, ele próprio não aceita dados verdadeiros do usuário, de modo que  não se pode identificá-lo. Não tem endereço, não tem RG, CPF, data de nascimento (inclusive nas queixas as pessoas têm data de nascimento a do dia em que estão prestando a denúncia), o único nome que não está escrito errado é o do profissional, o qual pode ser médico, dentista, psicólogo, enfermeira, assistente social ou mesmo atendente de consultório.

O usuário não gostou, não teve seus desejos plenamente atendidos, corre para a Ouvidoria e fica o profissional com seu nome denegrido, quer ele tenha 20, 30 ou mais anos de formado. As queixas na maioria das vezes são falsas, muitas são ridículas, as quais não deveriam sequer serem recebidas. Só para dar um exemplo: um cidadão de um bairro da cidade foi para uma emissora de rádio e também para a Ouvidoria reclamar que a médica do posto onde ele é atendido está velha demais para trabalhar lá. Um outro registrou queixa contra a dentista porque ao ser atendido uma outra pessoa “passou” na sua frente. Mais grave ainda um  usuário que pela internet questionou a qualificação da médica pela receita que recebeu, denegrindo a profissional e pedindo providencias e explicações dos remédios  prescritos e porque não foram pedidos tais e tais exames. É justamente este TEMA que vai gerando um atrito, uma insatisfação principalmente na categoria médica –  o médico é um profissional que por índole é   profissional liberal (mesmo que hoje em dia esteja vinculado a uma instituição), como é que ele vai aceitar que o paciente determine o que ele tem que fazer? No SUS o usuário chega depois de gastar algum dinheiro com tratamentos particulares, chega depois de esperar 2 , 3 meses para a consulta agendada, chega com um série de exigências que aquele profissional que está ali pessoalmente não tem responsabilidades sobre tais dificuldades. E diria ainda o próprio profissional também está com suas dificuldades (um exemplo: se o médico adoecer, não receberá seus vencimentos integrais depois de 30 dias de doença ou por exemplo uma médica,  após nascimento do seu filho,  não terá direito a licença maternidade, etc), em resumo, ou esta Ouvidoria modifica seu sistema de receber queixas ou o clima só tende a piorar. A categoria médica vem tendo suas prerrogativas vilipendiadas dia após dia. O pior é que entre as pessoas que trabalham na Ouvidoria há um nítido clima contra os profissionais de saúde e isto acontece também com setores chamados  de “Acolhimento”, cujos funcionários instigam os usuários para registrarem queixas contra os profissionais de saúde. É chegado o momento para uma  reavaliação desta ouvidoria, que a queixa seja assinada, que se identifique o usuário, que se coloque no papel um aviso onde conste que a denunciação caluniosa (art.339) ou a injúria(art.140), são crimes previsto em lei, afinal o que vem ocorrendo não beneficia em nada o serviço prestado e nem a sua qualidade, e  pior, vai produzindo efeitos indesejados, contraproducentes. Cabe uma informação: quando as pessoas tem exames ou consultas sem serem atendidas por vários meses,  quando vão até a ouvidoria, estes  exames ou consultas são  atendidas com mais rapidez. E em mais de 10 mil queixas apenas 10, isto mesmo, apenas 10 foram de  elogios.

 

Dr. Gildo A. Simões – médico dermatologista formado em 1975

 

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL DA CIDADE em 24 de novembro de 2006

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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