PRESERVANDO A MEMÓRIA MÉDICA

Instituições que não preservam sua memória não sobrevivem. A história é feita pela biografia das pessoas em seus respectivos tempos. Segundo Almeida Prado, “as nações que não cultuam e não perpetuam as memórias de seus vultos, não se radicando no passado, não se projetam no fundo”. Aloysio de Castro dizia: “Nunco considero por inúteis as palavras consagradas aos mortos. Deles, das suas lembranças, das suas lições e do seus exemplos, nos vem o melhor de suas vidas: a ausência pode também ser presença”. E vai ainda mais além: “Lês morts gouverment lês vivants” – “Os mortos governam os vivos”.

Todas essas citações são evocadas para justificar a proposta do acadêmico Waldenir de Bragança, da Academia Fluminense de Medicina, dileto e estimado amigo, ex-presidente da Federação Brasileira das Academias de Medicina e grande incentivador da nossa Academia.

No auge do seu entusiasmo, ele propõe a criação do Conselho de Integração da Memória Médica Brasileira – CINMEB, com a participação de diversas entidades, como a Academia Nacional de Medicina, a própria FBAM, o Instituto Brasileiro de História da Medicina, Sociedade Brasileira de História da Medicina, a SOBRAMES, Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, Ministérios da Educação, Saúde, Ciência e Tecnologia, Cultura e Comunicações, CNP e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, AMB, FENAM e CFM.

“ Entre duas honras que polarizam a vida, ninguém pense trabalhar para o momento. A semeadura germinará um dia, que não será nunca a do indivíduo, senão o de outras gerações”, já dizia o professor Clementino Fraga. A proposta de Waldenir, de criar o Conselho, é seguida de uma série de ações, tais como o estímulo à pesquisa e estudos sobre História da Medicina no Brasil, incentivando Universidades, Faculdades e Cursos Médicos, motivando-as a incluir, naquelas que ainda não a possui, o estudo de História da Medicina, seja como disciplina curricular ou complementar optativa e na pós-graduação lato sensu e catalogar trabalhos e publicações sobre História da Medicina existentes nas Academias e outras instituições culturais visando a elaboração de catálogos e bancos de dados.

Tendo em vista a proximidade do bicentenário do Ensino Médico no Brasil, em 2008, o Conselho poderia trazer contribuições importantes para a celebração da data. Entre as idéias, estaria a construção de um Memorial da Medicina Brasileira, em terreno anexo à Academia Nacional de Medicina e incentivar e apoiar o Memorial da Medicina Brasileira, no Terreiro de Jesus, em Salvador, onde nasceu a primaz do Brasil, em fevereiro de 1808. A reconstrução da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha poderia não ser um sonho impossível.

Em Sergipe, a Academia Sergipana de Medicina vem se interessando pela preservação da memória médica de Sergipe, através do seu Núcleo de História, que está preparando o Dicionário Histórico-Biográfico dos Médicos de Sergipe dos Séculos XIX e XX e que possivelmente será lançado agora em 2007. A monumental biblioteca particular do acadêmico Petronio Gomes, por sua iniciativa, esforço e investimento, está conseguindo preservar os livros da boa parte dos médicos sergipanos, numa ação meritória digna dos aplausos de todos. A SOMESE, com um belo trabalho que poderia vir a ser o Museu da Imagem e do Som da Medicina Sergipana, com a gravação de depoimentos de colegas médicos sobre fatos relevantes, lamentavelmente suspendeu a iniciativa. Outra que merece registro ainda é a do professor Henrique Batista e Silva, ex-professor de História da Medicina, que estará lançando em 2007 uma obra valiosa, abordando o período de ouro da medicina de Sergipe, que começa com a inauguração do Hospital de Cirurgia em 1926 e prossegue até a fundação da Faculdade de Medicina em 1961. O site da Academia Sergipana de Medicina ( www.infonet.com.br/asm ) também contém informações sobre vultos de nossa história. Ações concretas que caminham no sentido da preservação de nossa memória. “ O estudo do passado mostra que o conceito da unidade histórica do pensamento médico está sendo cada vez mais aceito, assim como a necessidade de rever o caminho percorrido, se se deseja compreender os fatos e avaliar os conceitos da hora presente” (Artur Castiglione).

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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