Projeto e Corrupção

O Brasil é o único país que a miséria rende. Enche os bolsos de políticos corruptos e empresários não menos safados. Talvez até estejamos utilizando palavras grosseiras e pouco condizentes com o comportamento da coluna. Mas é difícil conter a indignação com o que já aconteceu neste país, principalmente no Nordeste, em relação a participação dos Governos Federais, no combate à qualquer tipo de agressão social à sociedade. A indústria da seca não é uma expressão forte de retórica. É uma realidade como qualquer outra atividade produtiva. A título de se combater a seca – como se isso fosse possível – muitos prefeitos, políticos inescrupulosos, lideranças comunitárias e empresas fornecedoras, se empanturraram de dinheiro, às custa da fome e sede de milhares de nordestinos. As frentes de trabalho, que pagava quinzenalmente um pequeno salário a quem estava limpando rodovias, eram uma fonte transbordante de recursos. Muita gente embolsou mais da metade da verba que vinha para pagamento do pessoal. As cestas de alimentos são o que rendem mais. Grandes armazéns fornecedores triplicaram os seus negócios. Cobram preços acima da tabela e enviam quantidades inferiores às existentes nos contratos. Caminhões Pipas são negócios da china. Enriquece rápido qualquer um, porque geralmente pertencem a grupos políticos da cidade e são responsáveis pelo pagamento a eles mesmos. Não existe negócio melhor. Tanto que se fizerem um levantamento das causas que levaram a Sudene à falência vão chegar exatamente nesses estragos. Sem contar nos investimentos fantasmas que se fez com o dinheiro do povo. Ninguém até o momento foi preso e tudo continua muito como era antes. A Merenda Escolar, então, sempre foi um mar de malandragem. Empresas fantasmas foram descobertas e as indústrias de alimentos reduziam os produtos que deveriam constar nos pratos. O que as crianças comiam, não tinham os nutrientes exigidos no contrato. Tudo sempre foi feito à base da mais torpe esculhambação. E o país, principalmente o Nordeste, conserva essa miséria que serve de sustentação a uma malandragem que domina a Nação. Agora vem o Programa Fome Zero. É bom que esse novo Governo verifique em que mãos ele está depositando os recursos para distribuição aos miseráveis. Que faça um currículo das lideranças políticas responsáveis pelo cadastramento do pessoal e pagamento. É muito dinheiro para se deixar sob a responsabilidade de quem não pode tirar folha corrida. Como bem disse o jornalista Luiz Eduardo Costa, “não adianta botar dinheiro por um lado e desaparecer pelo ralo”. É preciso ter cuidado pára vencer essa orgia que sempre se praticou com o dinheiro público, em nome de matar fome, acabar com emprego infantil, distribuir alimentos e tantas outras necessidades de um povo que aprendeu a suportar as amarguras de uma vida se rumo. Não se está fazendo aqui uma generalização, apenas uma constatação que salta aos olhos até de quem não enxerga. Neste país da impunidade, geralmente tudo que se decreta em favor dos excluídos, nem sempre passa por mãos limpas e confiáveis. O que já se investiu em programas paliativos, paternalistas e políticos no combate à seca, por todos esses anos, sem que apresentem quaisquer resultados, daria para realizar projetos que viabilizariam a convivência eterna, com esse fenômeno natural que castiga o Nordeste. Todos os projetos anteriores foram de combate à seca, como se fosse um inimigo contra o qual se pudesse guerrear e vencer. Foi exatamente através desse tipo de aberração, que se formou a indústria da seca, para produção de soluções desonestas, manuseadas por pessoas que enriqueceram e fizeram política com a miséria do homem paciente e tolerante do Nordeste brasileiro. O Programa Fome Zero deve fazer um estudo e seleção de quem o conduz, para levar à falência a indústria da corrupção. O sertanejo não é apenas “antes de tudo um forte”, como disse Euclides da Cunha em Os Sertões. O sertanejo é um ludibriado, roubado, explorado e maltratado por espertalhões. Combate à seca, que indecência: quanta gente não enriqueceu em teu nome? PUNIDO O deputado federal João Fontes (PT) foi punido, ontem, com o afastamento da Comissão de Constituição e Justiça, pelo Palácio do Planalto. João sequer fora comunicado oficialmente. Soube através de telefonemas de jornalistas de Brasília que o procuravam para entrevista-lo. EXCRESCÊNCIA João considerou o ato uma excrescência, digno dos regimes discricionários, “quando a gente tinha que ouvir a Voz do Brasil para saber que seria o cassado do dia”. O afastamento de qualquer parlamentar é decidido pela bancada, mas no PT se faz no Palácio do Planalto. A democracia petista é de exceção. INFORMAÇÃO O deputado João Fontes revelou que fora informado, pelo pessoal de Brasília, que o seu afastamento da Comissão teria sido um pedido do prefeito Marcelo Déda (PT). “Espero que não seja, mas se isso aconteceu é frustrante para mim”, disse João Fontes, que se encontra em Aracaju, num ato dos petistas radicais. DÉDA O prefeito Marcelo Déda (PT) disse que tudo tem que ter o limite do bom senso: “não pode partir de mim uma decisão do comando do partido”. “Tenho muito trabalho em Aracaju, para viver pensando no deputado João Fontes. Nunca o contestei em sua posição”. Déda acha que “isso já esta virando uma fixação do deputado”. DEFESA Marcelo Déda revela que defende o partido e o “meu presidente. Quando João Fontes escolheu esse caminho da contestação sabia das conseqüências que poderiam ter”. O prefeito diz que tem uma posição e o deputado outra. Mas, diante da culpa que João sempre lhe põe, sobre tudo que aconteça, Déda acha que “já está virando um caso político”. DEPÕE Apesar dos advogados de defesa do deputado Antônio Francisco terem acatado sugestão para a viúva Edla Cruz não ser ouvida pela Comissão Processante, ela fez questão de ir depor ontem. Edla confirmou que Joaldo Barbosa não tinha feito nenhum acordo com Antônio Francisco, para se afastar da Assembléia e ele assumir por alguns meses. TELEFONEMA Edla Cruz insiste que 30 minutos antes do crime teve um telefonema para a casa dela. A pessoa se identificou como “Eduardo” e disse que tinha uma encomenda para entregar ao deputado. Acrescentou que Joaldo não era de abrir portas, mas só o fez porque se tratava do tal Eduardo. Revelou que Joaldo estava tentando um cargo municipal ou federal para Antônio Francisco. CONCLUSÃO Os trabalhos da Comissão Processante, nessa fase de depoimentos, já foram concluídos e o material entregue ao relator Ulices Andrade, para pedir ou não a cassação de Antônio Francisco. Ulices terá 30 dias, prorrogável por mais 30, para concluir seu parecer e em deliberação pelo plenário da Assembléia. RECORRER Caso Antônio Francisco seja cassado pela Assembléia Legislativa, poderá recorrer à justiça. Um dos deputados da Comissão Processante acha que ele não terá sucesso. Lembrou que se trata de uma questão de decoro parlamentar, em que o deputado era suplente e foi beneficiado pela morte do titular, cujo crime tem a participação do seu filho. PARTICIPAÇÃO Um dos deputados membros da Comissão Processante disse que existem pequenos indícios da participação de Antônio Francisco no planejamento do crime. Entretanto, segundo o parlamentar, “seu filho está enterrado até o pescoço, em um crime para que o pai assumisse a cadeira”. E concluiu: “a questão da cassação é moral”. COERENTE O deputado federal João Batista, o Babá do PT pelo Pará, não aceita a rotulação de “radical” para o grupo que contesta o programa do presidente Lula da Silva. “Nós não somos radicais, somos coerentes com o que pregamos a vida inteira”. O deputado esteve ontem em Aracaju para discutir a Reforma da Previdência, no Teatro Atheneu. VIAGEM O governador João Alves Filho viaja hoje a Washington, acompanhado da senadora Maria do Carmo Alves e do secretário do Planejamento, Antônio Borges, para uma reunião no BID. A comitiva vai tratar de projetos que estão lá desde dezembro passado, principalmente o de combate à pobreza e o Canal de Xingo. FINANCIA Caso o BID, após os estudos, tenha decidido financia-los, fica mais fácil levar o projeto para que o Governo Federal possa aprova-lo. João Alves terá encontro com o presidente do BID, Enrique Iglesias. Não está em pauta, mas se couber João vai tratar sobre a ponte Aracaju/Barra dos Coqueiros. O retorno será na quarta-feira. ALBANO Um aliado do ex-governador Albano Franco (PSDB) diz que ele sequer admite que alguém toque no assunto dele ter permanecido no Governo e não disputar o Senado Federal. Como defendeu seu amigo Marcos Vieira, o ex-governador seria uma peça importante nas reformas políticas sociais e econômicas que vai passar o país. Notas PRESIDÊNCIA O secretário da Administração, Ivan Paixão, participou, ontem, em Brasília, de uma reunião do grupo técnico do Ministério da Previdência, que analisa a Reforma Previdenciária e seu impacto nos Governos Estaduais. O encontro era conduzido pelo secretário executivo do Ministério, Helmulth Schartze e participava secretário de Administração de todos os Estados. Paixão explicou que, pela Reforma, o funcionário não se aposenta mais recebendo o último salário. Será a de contribuições. Isso vai reduzir muito vencimentos do servidor que se aposentou com o salário de secretário, mesmo com um só dia na função. COMISSÃO A doméstica que trabalhava na residência do deputado Joaldo Barbosa, Miriam Francisca, e o funcionário de uma empresa de telefonia que consertava linha nas proximidades, Valdson Araújo, foram ouvidos pela comissão processante quinta-feira passada. Disseram que viram os assassinos e reconheceram quem tocou campainha. O presidente da Comissão, Augusto Bezerra, disse que o depoimento dos dois não acrescentou em nada, porque não trouxe subsídios em relação à participação ou não do deputado Antônio Francisco, que é o que a comissão apura. MOVIMENTO O teatro Atheneu foi pequeno, ontem, para acomodar manifestantes de uma ala do PT e de outros partidos que se manifestam contra a Reforma da Previdência proposta pelo Governo Lula. Foram ouvir os dissidentes Heloisa Helena, João Batista Babá, Luciana Genro e João Fontes. Todos mostraram a incoerência do partido ao assumir o Poder. A senadora Heloisa Helena foi homenageada com uma composição do cantor Roberto Alves, intitulada “Não chore Helena”, e se emocionou. O grupo mostra que está coerente com tudo que o PT combatia antes e está defendendo hoje. É fogo Os parlamentares dissidentes do PT vieram a Sergipe atendendo a convite do deputado federal João Fontes (PT), que também integra o grupo. Pela forma como o grupo está sendo tratado terá que procurar outra sigla, porque o estilo petista não admite dissidências e julga de forma sumária. O prefeito de Porto da Folha, Julio Santana (PMDB) reassume segunda-feira. Estava de licença para tratamento de saúde. Os vereadores de Itaporanga D’Ajuda não querem cassar o vereador Antônio Francisco Junior, um dos acusados de participar do crime de Joaldo Barbosa. Dentro da Assembléia Legislativa o clima é de que Antônio Francisco será cassado pela Comissão Processante. O advogado Wellington Mangueira (PSB) está em Brasília participando de encontro do partido sobre o Negro. Os tucanos continuam se reunindo todas as sextas-feiras para discutir problemas políticos e medidas para reforçar o PSDB. O PMDB está articulando com lideranças políticas do interior as candidaturas a prefeito e vereador para as eleições do próximo ano. A vice-governadora Marília Mandarino assume o Governo pela terceira vez, com a viagem de João Alves Filho aos Estados Unidos. O prefeito Marcelo Déda não teve tempo de falar sobre o grupo dissidente que fazia um movimento em Aracaju e o envolvia. Sempre que toca no assunto, Marcelo Déda diz que não discute em público assuntos internos do seu partido. Além disso, ele dá apoio ao Governo Lula. O governador João Alves Filho, em seu discurso que fez à frente do ministro José Graziano, quinta-feira, disse que quer do presidente um tratamento igual aos governadores de Estados ricos. João Alves Filho ainda não esqueceu a resposta que o presidente Lula lhe deu, dia 6, quando ele fez um discurso criticando a reforma Tributária e em defesa do Nordeste. brayner@infonet.com.br

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