Depois de muita expectativa, finalmente, hoje, o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, irá se desincompatibilizar do cargo para concorrer ao Governo de Sergipe. Houve quem achasse que não o faria. Mas Déda está mesmo decidido a encarar esse desafio – o maior de sua carreira – depois de 25 anos fazendo política sem entrar em “bola dividida”.
Até agora, o jovem prefeito de Aracaju sempre participou de eleições tranqüilas, sem grandes adversários pela frente. Na última disputa, por exemplo, se é que podemos chamar aquilo de disputa, foi um verdadeiro passeio no parque, em tarde de domingo. Os adversários, fracos e sem consistência política, não souberam sequer trabalhar os pontos fracos de uma administração que deixara a desejar em quase todos os setores. Partiram para o ataque sem uma estratégia bem definida e pensaram que poderiam vencê-lo no discurso. Muita ousadia e ingenuidade.
É inquestionável a força da oratória de Marcelo Déda. Ninguém pode sonhar em vencê-lo apenas com base em textos, formatados com frases de efeito, prontos para serem lidos num teleprompter (equipamento utilizado para facilitar a leitura diante das câmeras). Não existe hoje em Sergipe um político tão afeito às câmeras quanto ele. Sabe se posicionar, interpretar, encenar. Portanto, não será por esse caminho que algum pretendente ao governo do estado conseguirá derrotá-lo.
Por outro lado, essa grande – e única – arma do prefeito de Aracaju, a oratória, poderá ser também o seu flagelo durante o horário político no rádio e na televisão. Basta que sejam exibidos trechos de eloqüentes discursos de Marcelo Déda, em horários políticos anteriores, prometendo coisas que não conseguiu ou não quis fazer, em cinco anos de uma administração considerada insossa por muita gente. Promessas importantes, feitas em suas duas últimas campanhas, foram tão fluidas quanto o éter. E, convenhamos, do que adianta ser convincente com as palavras se, na prática, nada acontece.
Isso nos lembra, inclusive, o personagem Odorico Paraguassu, na novela O Bem-amado quando dizia: “palavras são palavras, nada mais que palavras”. Portanto, caberá ao seu principal adversário fazê-lo experimentar de seu próprio veneno… Sem querer, contudo, imitá-lo no que sabe fazer de melhor: cinema ( herança dos bons tempos do cineclube do CEAS).