Ontem tive uma indisposição e não pude escrever na coluna, como faço todas as segundas feiras. Muitos acharam que eu havia desistido. Ledo engano. Estou compensando hoje. Isso depois de um maravilhoso final de semana que começou com o Odontofantasy e terminou com o anúncio, pelo governo do estado, da construção de uma monumental ponte de R$ 50 milhões. Não poderia deixar de manifestar minhas impressões, diante de fatos tão alvissareiros.
Quanto ao Odontofantasy, até agora não consegui confirmar se o governador Marcelo Deda esteve presente à festa. Se ele foi, não deve ter tido problemas com a fantasia. Bastaria ir a caráter, como se estivesse num evento oficial, que fantasiado estaria. Afinal, uma fantasia é a resposta do inconsciente para aquilo que gostaríamos de ser ou fazer e que, como não conseguimos tornar realidade, tratamos de representar, valendo-nos da criatividade que nos é inerente. O fato é que o povo já espera há quase um ano por alguém que realmente o governe. No Odontofantasy, se Deda foi, pode exercitar essa fantasia e se coadunar com o desejo popular.
Hoje também faz um ano que o presidente Lula foi reeleito. Reeleito prometendo mudanças radicais na política e na economia brasileira, aliás as mesmas mudanças que prometeu desde a primeira vez que foi eleito. Cinco anos se passaram, e o brasileiro com o mínimo de massa encefálica já percebeu o tamanho do fiasco. Ele deve se perguntar constantemente sobre a natureza dessas mudanças, já que ninguém até agora conseguiu enxergá-las.
Claro que falta à maioria da população o mínimo senso de criatividade, a fazê-la enveredar pelo caminho da imaginação pura e simples, que a levará à constataçao das tais mudanças.
Senão vejamos: na oposição Lula sempre prometeu acabar com a corrupção no governo. Assumiu o poder ladeado por 40 ladrões da sua mais íntima relação, que foram desovados do governo para salvar a brilhante pele presidencial, à medida em que se descobriam as estripulias do grupo. O desvio de dinheiro do erário, a pilhagem das estatais para beneficiar o Partido dos Trabalhadores e as campanhas de Lula e de seus companheiros, deixaram de se tornar atos de corrupção para se transformarem em simples operações de Caixa Dois, transgressão que ainda que o PT na oposição tenha combatido, por considerar politicamente anti-ético, agora incorporou como absolutamente plausível, sempre sob a alegação de que outros governos antes deles se comportaram da mesma maneira.
Aqui mais perto, em Sergipe, assume o governador Marcelo Déda prometendo um novo mundo de mudanças radicais na forma de conduzir o Estado. Contudo, o único resultado fora do contexto surgido até agora foi a exacerbada e despropositada economia de recursos feita por este governo, enquanto serviços prioritários do estado, como Saúde e Segurança Pública, se deteriovam a olhos vistos.
Eis então que surge a deixa da ponte. O governo Déda decide erguer uma ponte de R$ 50 milhões, cuja construção, inclusive, já começou. A primeira obra evidente de Deda, em meio a uma desenfreada economia que tem levado o estado a lugar nenhum, é justamente um plágio ao ex-governador João Alves: a construção de uma ponte. À época do governo JAF os petistas viam a ponte Aracaju-Barra como inócua, desnecessária e um gasto fora de propósito do dinheiro público. Agora, a ponte de é observada sob ângulo diverso. Estaria envolta na rota do progresso. Assim, se para os petistas a ponte de JAF era um desperdício de dinheiro, agora, para eles, a ponte de Deda é uma nova, brilhante e competente construção, que passa a ser a prioridade em meio a tanta calamidade pública.
Mas o gigantesco poço de contradições não pára por aí. Se o governo passado era acusado de nepotismo, o atual vai na mesma linha, contratando parentes e aderentes até a terceira geração de parlamentares, do governador e do prefeito, sem que os petistas identifiquem nesse processo o mais ínfimo traço daquilo que eles tanto combatiam. E se alguém se atreve a acusá-los, eles logo justificam que no governo anterior isso também acontecia, tentando legitimar o próprio descaramento. Ou seja, embora fizessem de conta que combatiam as imoralidades políticas, eles hoje as cometem com a máxima naturalidade e a incrível tranqüilidade do cara-de-pau que não tem a mínima vergonha na cara.
Em outras palavras, a única transformação que o PT trouxe mesmo ao país foi a mudança de significado das palavras, onde roubar, quando envolve algum de seus membros, deixa ser roubo; o nepotismo deixa de ser tráfico de influência familiar; e o mesmo tipo de obra pública tida como supérflua, feita por governos de oposição, é classificada pelos petistas como absolutamente necessária quando são eles que a executam.
Enfim, mudou-se de fato. Mas apenas o significado das palavras. Todo o resto continua com a mesma cara.