QUADRAS POPULARES

Silvio Romero, sergipano de Lagarto (1851-1914), incluiu no seu livro Cantos Populares do Brasil (Lisboa: Nova Livraria Internacional Editora, 1883) uma “silva de quadrinhas”, procedente do Rio Grande do Sul, graças as suas relações com autores gaúchos e com alemães ali residentes, como Carlos von  Kozeritz. São 556 quadras populares, não apenas entre os riograndenses do sul, mas entre os brasileiros de várias partes.

 

Muitas das quadrinhas, por exemplo, eram comuns em Sergipe, onde Silvio Romero pesquisou muito da cultura popular, revelando um pouco da alma brasileira.

O professor Severiano Cardoso, autor de textos literários e teatrais infantis, para uso nas escolas, deu boa colaboração quando levou à publicação em jornal quadras recolhidas, no Lagarto, entre os festeiros da dança do São Gonçalo, como esta:
 
         São Gonçalo do Amarante

         Feito de pau de alfavaca,

         Quem no sertão não tem rede,

         Dorme no couro da vaca.


Mais tarde, autores como Joaquim Gois e Olimpio Rabelo de Morais também recolheram, o primeiro em Simão Dias, o segundo em Carira, a mesma quadra, com pequena variação no terceiro verso:

 

         São Gonçalo do Amarante

         Feito de pau de alfavaca,

         Quem não tem cama nem rede

         Dorme no couro da vaca.

 

Clodomir Silva publicou nos jornais uma série de artigos sobre costumes sergipanos, reunindo-os no livro Minha Gente (Rio de Janeiro:Editora Paulo Pongetti, 1926). Nos pequenos artigos correm 25 quadras populares, enquanto no artigo intitulado Minha Gente, que dá nome ao livro, são 100 quadras, de uso comum em Sergipe.


As crianças, com suas brincadeiras, guardam grande repertório de quadras populares, muitas das quais se tornaram cantigas de roda. Nos grupos folclóricos do ciclo junino, com especialidade as modalidades do coco, as quadras são cantadas, no improviso dos Bacamarteiros de Aguada, em Carmopólis (que funde a velha Congada com o Coco de Roda), no Lariô, de Pirambu, nas Batucadas, de Estância, nos Batalhões, dos Testamentos do Judas, e em várias outras manifestações folclóricas.

 

O jornal A Notícia, editado em Aracaju em 1896, publica algumas quadras populares, nas suas edições de 30  e de 31 de outubro, que não estão entre as 556 do livro de Silvio Romero, nem entre as 125 recolhidas por Clodomir Silva. São elas:

 

         Você diz que sabe muito,

         Borboleta sabe mais

 

Vira de perna p”ara cima,

           Coisa que você não faz.

 

         No lugar onde eu canto

         Todos tiram o chapéu,

         Cada repente que tiro

         Corre uma estrela no céu.

         Quando eu vim da minha terra

         Minha mãe me encomendou,

         Meu filho, tu não apanhes,

         Que teu pai nunca apanhou.

 

         Quando eu estou no meu destino

         Sou cabra de gênio cru,

         Engulo brasa de fogo,

         Faço voz de cururu.

 

         Quem quiser cantar comigo

         Sente na ponta do banco,

         Que eu conheço gado bravo

         De noite, só pelo arranco.

 

         Cabra que cantar comigo

         Traga na lua da cela,

         Meia arroba de gengibre

         Para tempero da goela.

 

A primeira das quadras ganhou, modernamente, uma variante que Antonio Carlos do Aracaju cantou, quando integrava o grupo Bolo de Feira:

 

         Você diz que sabe tudo,

         Vagalume sabe mais,

         Ele acende e bota no ponto,

         Coisa que você não faz.

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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