Quantos cliques derrubam um governo? Guerras Híbridas, uma análise

Por Paulo Roberto Alves Teles
Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ
pauloteles_aju@hotmail.com

 

São nos momentos mais obscuros que se exige do homem a necessidade de buscar a luz. Em 1999, os militares chineses Qiao Liang e Wang Xiangsui publicaram o livro A Guerra além dos Limites: Conjecturas sobre a guerra e a tática na era da globalização que definiria o novo modelo de guerra frente às transformações provocadas pela globalização.

Passados 20 anos, o que se percebe é que, com o aumento das práticas terroristas, com as disputas comerciais entre Estados Unidos e China, com as guerras fiscais realizadas entre países e entre entidades federativas provocadas pela especulação de grupos financeiros e industriais, a guerra de fato mudou, pois todos as práticas citadas refletem aspectos destrutivos muito maiores do que ataques desferidos por mísseis tomahawks (um míssil de cruzeiro, subsônico e de longo alcance).

É nessa mesma seara que o pesquisador Andrew Korybko (2018) inicia o seu trabalho sobre aquilo que ele denominou guerras híbridas. Andrew Korybko (2018) argumenta que as mídias sociais e as novas tecnologias de comunicação possibilitariam mais danos aos países alvos do que mísseis balísticos de precisão.

A ação das redes sociais serviria como mecanismo de penetração de uma ideologia de insatisfação contra o governo adversário para que, mediante mobilização popular, explodissem manifestações que pressionassem os grupos políticos dirigentes a adotar posturas político-econômicas que, agradem os grupos que estão por trás da disseminação dessa forma de pensar.

Essas estratégias e formas de mobilização foram consideradas veículos de articulação política que possibilitaram a Primavera árabe em 2010 e foram atribuídas pela Voice of America (Voz da América – serviço oficial de radiodifusão internacional financiado pelo governo norte-americano e autorizado a operar exclusivamente fora do seu território) a atuação de John Tefft (que atuou como embaixador dos Estados Unidos na Ucrânia no período de 2009-2013 e atualmente exerce o mesmo cargo na Rússia) e Frank Archibald (ex-chefe do Serviço Nacional Clandestino da CIA – NCS).

Em sua visão, eles estariam envolvidos nos eventos políticos que provocaram desdobramentos e culminaram nos protestos contra Viktor Yanukóvytch (2010-2014) que resultaram em sua queda. Yanukóvytch representava naquele momento uma posição política pró-Rússia e consequentemente um obstáculo aos interesses americanos naquela região. Atualmente, assim como ocorrera no mundo árabe e na Ucrânia, assistimos países sul-americanos mergulhados em crises, manifestações de rua e instabilidades políticas, resta-nos a pergunta: quantos cliques são necessários para derrubar um governo?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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