QUATRO VOZES DE ARACAJU

                                               Quem for pro Aracaju

                                               Me faça uma caridade

                                               No cabelo das meninas

                                               Ponha um ramo de saudade.

                                                                Quadra popular

 

 


Mais do que historiadores e intérpretes de Aracaju, José Calasans, Mário Cabral, Fernando Porto e Lauro Fontes são personagens ilustres da cidade, que deram contribuição de excepcional qualidade, formando um referencial teórico que funciona como uma luz, abrindo caminho à revelação e ao conhecimento dos fatos da vida aracajuana.

Em 1995, quando Aracaju completou 140 anos, José Calasans abriu sua casa, na avenida Sete de Setembro, em Salvador, para receber dois outros sergipanos que moram na capital baiana: Mário Cabral e Lauro Fontes, e mais Fernando Porto, da mesma geração, que foi de Aracaju especialmente para o encontro, juntamente com Luiz Antonio Barreto, Jackson da Silva Lima e Aglaé d’Ávila Fontes.

O encontro, cheio de lembranças e evocações, gerou uma fortuna crítica notável, tocada pelo sentimento de saudade, pelo carinho e pelo amor dos escritores à cidade idealizada por Inácio Barbosa. Dos seus longos depoimentos, extraiu-se o seguinte, como declaração lúdica, pessoal, íntima:

 

“O meu amor pela minha terra pode ser traduzido pelo que eu tenho escrito através de toda a minha vida. Mas Aracaju é uma cidade que me comove muito, me comove pela cidade em si, pelo traçado da cidade, pela paisagem humanista, pela paisagem urbana. Aracaju para mim é poesia, é trecho de céu, é farrapo de eternidade. Eu amo Aracaju.”

 

Mário Cabral, 91 anos, escritor nascido em Aracaju, jornalista, advogado, membro da Academia Sergipana de Letras, residente em Salvador desde a década de 1950, autor de uma vasta obra de poesia, de ficção e de crítica.

 

“Sempre eu tenho Aracaju nas minhas evocações. Quando vou a Aracaju, eu não vejo diferença nenhuma, porque ela está sempre eterna, dentro de mim. Ela está viva. Sempre.”


Lauro Fontes, 91 anos, engenheiro, nascido em Laranjeiras, residente em Salvador, onde atua com escritório técnico e onde escreve seus textos memorialísticos tendo a vida sergipana como permanente inspiração.

 

“O meu primeiro trabalho histórico foi sobre a mudança da capital, acontecimento que eu considero como o mais importante da história de Sergipe no século passado (XIX). Sergipano ausente, menos por vocação do que por destino, eu me sinto muito ligado a Aracaju. Gosto de rever a minha cidade.”

 

José Calasans, nascido em Aracaju em 1915, historiador, professor, ex presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, fundador – juntamente com Mário Cabral – da Revista de Aracaju, especialista em Canudos, com biografia intelectual consagrada na Bahia, falecido em Salvador, em 2003.

 

“A minha estima por Aracaju não nasceu como um fato compulsório, decorrente da minha certidão de nascimento,  ela nasceu da contemplação da terra aracajuana, de uma cidade que para mim sempre estaria sorrindo, de uma cidade em que 50% da população nós conhecíamos e os outros 50% nós sabíamos quem era. Era uma cidade que, no meu tempo, era fraterna, o povo não andava correndo, uns sorriam aos outros, e isto fazia como eu dissesse: a cidade é um sorriso. Ao longo de todo esse tempo eu sempre fui catando, adubando esta amizade, que hoje é tão grande quanto a de qualquer outro lá tivesse nascido.”

 

Fernando Porto, nascido em Nossa Senhora das Dores, engenheiro, professor, autor de livros sobre Aracaju, falecido recentemente no interior de São Paulo, aos 94 anos. Os quatro mestres deram a Aracaju uma contribuição essencial: nas cátedras, nas páginas dos jornais, das revistas, nas instituições que criaram e ajudaram a transformá-las em fontes da história, no convívio fecundo com a terra e no esforço permanente de interpretação dos fatos sergipanos. Cada um deles deu contribuição especial:

 

Mário Cabral é, antes de tudo, o cronista da década de 1940, o pesquisador do folclore infantil, o guardião crítico dos vultos eminentes de Sergipe, como Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso e muitos outros. Lauro Fontes, filho de Sindulfo Fontes, de uma família de grandes talentos – José Barreto Fontes, Sindulfo Filho, e outros – levantou, com José Calasans, no final dos anos de 1930 e início dos anos de 1940, o patrimônio histórico e artístico, para fins de proteção e tombamento.

 

José Calasans, com sua tese sobre Aracaju, chamou a atenção para a mudança da capital, e seguindo as pegadas de Clodomir Silva, mestre e inspirador, bebeu na fonte do povo, registrando as manifestações da cultura popular, participando, ainda, dos principais movimentos intelectuais de Sergipe. Fernando Porto, dedicado à sala de aula da Escola Técnica Federal, da Faculdade Católica de Filosofia e depois da Universidade Federal de Sergipe, teve passagem no serviço público, como Prefeito de Propriá, diretor de Obras de Aracaju, presidente da Energipe.

 

Mário Cabral, Lauro Fontes, que permanecem atuantes na Bahia, vencendo as barreiras do tempo com a lucidez dos seus idéias e compromissos, vibram, neste ano, com os 150 de Aracaju. José Calasans e Fernando Porto, emudecidos pela morte, são estrelas que brilharão sempre, como símbolos de luz na vastidão do conhecimento.

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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