Que venha 2009!

Que venha 2009!

 

Acuados, de corpo e alma. A vida precisa de misericórdia.

Ficamos cínicos, frios, levianos e achamos comum o filho da vizinha ter sido esfaqueado por uma pedra de crack.

Vivemos em nossas coberturas, duplex da fome alheia, acossados por uma bolsa família, bolsa mãe, que pinta a cara de rouge para ganhar o bolsa-vida e pegar no lixão o que chamam de reciclável.

No país de Mantega e Meireles editamos chernobyl, onde o pobre só compra no supermercado com seus credis hiper, para pagar com o salário e comprar de novo o jabá e o leite da crionça (sic).

Não queremos sobras, mas estamos dispostos a deixar a criadagem levar para casa o que sobrou da ceia de natal. Criadagem – falei esta palavra? As palavras são como facas, laranjas no espremedor, ferem, empanturram-se de sentidos e não se dissolvem.

Os bancos subtraem até a miséria (nossa) e nos deixa devedores, mesmo construtoras de prédios tão ricas devem a eles a cabeça, tronco, membro.

A democracia é a única coisa que engana – finge sair com sua mulher deitando na cama com sua filha, e dane-se que um peão é presidente – tudo ficou (des)igual.

A mesma mentira da escola pública, os mesmos delegados de polícia, e Protógenes pego para Cristo porque quis desbaratar a quadrilha de Daniel, que na cova dos leões, fez desaparecer até o HD do computador. Isso é nada diante da chacina promovida pelo Secretário de Segurança do Rio e sua polícia, que mata a criança no carro para depois dizer “eu pensei que“.

E as universidades existem para quê? Formar que tipos de cavalos e bestas?

Pobres dos professores em seus salários de fome, indo dar aula na periferia sem respostas. Falei periferia.

Como pode a Petrobras não salvar o Brasil, a Caixa só emprestar dinheiro a empreiteira, a fundo perdido, e o Banco do Brasil, dizer que o banco é do Pedro, é do Zé, é da Maria?

Fila da meia hora: aposentadoria em tempo recorde, e a faixa de gaza é no Alemão, na Terra Dura, na Brasilândia com seus deputados inúteis.

A pedofilia agora tem lei mais dura. Pra quê? As nossas crianças continuam asfixiadas pela libido da Xuxa e Carla Perez, no deixai vir a mim as criancinhas na TV Globinho do tio Roberto.

E os jornais? Viraram páginas pagas, com jornalistas que fazem um artigo como esse, que ou apóiam o tio Lula que, como nós, veio de baixo, perdeu um dedo, e fala pelos cotovelos com aprovação flaflu“, ou morrem de fome.  O escândalo que é a educação paga nesse país, colégios e faculdades que não têm um projeto cultural, social – nem pensar – e ainda falam de meio ambiente – caras mais cínicas que mataram Dorothy Stang e Chico Mendes. Só agora descobri porque não precisamos apertar o gatilho – ele está o tempo todo apontado para nós. E há aqueles que, mesmo sem precisar, não perderão a chance de roubar o seu chiclete. Veados, pretos, desempregados, mulheres solteiras e crianças órfãs estão à mercê da sorte, no teatro que é o judiciário e o juiz quem diz se o menor infrator tem que ficar no mínimo três anos preso para aprender.

Será que é no playground do edifício dele?

Atolado, o Brasil vive um teatro de mentiras, patrocinado pelo caixa dois da política cambial e o ouro vendido às escondidas, matando os garimpeiros de malária. As fábricas no Brasil são campos de concentração e os canteiros de obras das construtoras, fraturas da escravidão escamoteada e travestida de responsabilidade social.

Para o porco que lê, como eu, tem as livrarias milionárias e as editoras dirigidas por judeus sovinas (falei judeus?), e companhias das letras dos bolsos deles, enquanto escritores geniais por este Nordeste beija o pé da morte, sem  nunca ter apertado a mão de nenhum Schwarcz, enquanto Jorge Luiz Borges não sabe o quanto foi bom ficar cego, para não ver o quanto o mundo ficou pior.

Acuados e surdos, queredores que somos do sucesso financeiro a qualquer custo, da falência da fé que motiva as igrejas a cobrarem o dízimo de nossas almas, expostas como queijo coalho no rodapé da folha universal. Matamos o tempo, o tempo nos matará – dizia o velho Francis, aquele que sabia que veio muito tarde, para um mundo muito velho. E os nossos empresários – um motivo de chacota – a maioria não sabe quem foi Mario Faustino, Manuel Bandeira, Cecília, a Meireles.

Pra que serve literatura, se os bancos trabalham com números, números a serviço do Pac, do Pec, do INSS?

Rio muito. Choro muito. Eu também dei uma festa de muitos reais. Talvez eu quisesse o mundo daquele jeito. Mas agora, da minha varanda, olho o mundo lá embaixo – exato e preciso como a faixa de gaza, que se transformou este país e outros do G20, mergulhados no sangue de  inocentes que, como Isabela Nardoni, continuam sendo jogados do sexto andar.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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