“De todas as criaturas da face da Terra, somente os seres humanos podem modificar os seus padrões. Só o homem é o arquiteto do seu próprio destino. A maior revolução em nossa geração é que os seres humanos, modificando as atitudes interiores das suas mentes, podem modificar aspectos exteriores das suas vidas.” Willian Blake A primeira vez que tomei conhecimento desse pensamento do Willian Blake, foi em 1995 quando estava lendo o livro “A Conspiração Aquariana”, escrito pela famosa jornalista americana Marilyn Ferguson. Embora seja um best seller bastante discutido em todo o mundo, o mesmo praticamente passou despercebido no Brasil e o que mais me impressionou nesse livro – naquela ocasião – foi: a ação silenciosa dos conspiradores aquarianos, os novos paradigmas de educação, saúde e economia e a frase do Blake. Portanto, a afirmação: “A maior revolução em nossa geração é que os seres humanos, modificando as atitudes interiores das suas mentes, podem modificar aspectos exteriores das suas vidas” ficou durante meses como que borbulhando na minha mente. E, à medida que eu estudava e lia mais sobre processo criativo e acompanhava as pessoas durante e após os trabalhos que conduzia ficava muito claro o poder e a grande verdade contida dessa frase do Blake. Na realidade, não se tratava de uma profecia, ou de uma frase visionária como muitos podem pensar, mas sim na mais pura afirmação científica de que quando reorganizamos a nossa forma de pensar, quando investimos na qualidade do nosso pensamento, poderemos, se quisermos verdadeiramente, alterar/mudar/transformar os nossos padrões externos, ou em outras palavras, o nosso comportamento. E isso fazia muito sentido para o que eu estava estudando, pois, cada vez mais, compreendia que a atitude de pensar é um padrão fundamental para conduzir as nossas vidas ao sucesso ou ao fracasso, portanto, a depender da nossa escolha. Existe uma famosa equação definida pela Dra. Ruth Noller, do Instituto de Criatividade da Universidade Estadual de Buffalo, NY, USA, que exprime a fórmula da Criatividade: C = fatp (Cn x Id x Av) C = Criatividade Fatp = Função das atitudes positivas Id = Idéias Av = Avaliação Portanto, se não colocarmos o nosso conhecimento, idéias e capacidade de avaliação em função das atitudes positivas do nosso pensamento, com certeza, não poderemos liberar a nossa habilidade criativa. Constato que o nosso sistema educacional dá muita ênfase ao conhecimento desvinculado da capacidade de idealizar ou imaginar de cada indivíduo, e ainda por cima, leva muito menos em consideração a questão das nossas atitudes de pensar. Infelizmente, comprovo isto a todo instante, mesmo em organizações que se dizem de vanguarda e das mais diversas áreas (privada, pública ou não governamentais) quando acreditam que só a atividade de dar cursos, de passar informações para as pessoas mais simples e necessitadas irá modificar totalmente as suas vidas. Via de regra, mesmo involuntariamente, e agindo de boa fé – fazem os jovens acreditar que só aquele curso irá modificar as suas vidas e que depois de concluído o curso, a porta do futuro se abrirá para eles. Todavia, a maioria desses jovens não sabe conviver uns com os outros, não aprenderam a respeitar as diferenças, não aprenderam a transformar a qualidade do seu pensamento e, infelizmente, mais cedo ou mais tarde do que o desejado, começam a perceber que aquele curso não modificou a sua vida conforme o prometido e começam a perder as esperanças. Na verdade, o conhecimento é uma questão fundamental, mas infelizmente quando muito percebemos que os jovens recebem apenas informações sobre determinados tipos de assuntos. Mais parece que são uma prateleira de informações sem saber o que fazer com elas, como tratá-las e muito menos como transformá-las ao seu favor. O conhecimento só acontece verdadeiramente, quando as pessoas sabem o que fazer com as informações que receberam seja em sala de aula, seja na escola da vida. Já faz muito tempo que as pessoas não galgam mais um nível na escala social apenas porque têm um curso superior, quando bastava fazer um curso numa faculdade, receber o diploma, colocar um anel no dedo, ser chamado de “doutor” para a vida da pessoa modificar como num passe de mágica. Isso já não é mais real e – atualmente – milhares de “diplomados” buscam o emprego de cada dia e já não o encontram tão fácil como outrora. Hoje, a concorrência é muito grande, o número de empregos é reduzido, e portanto as pessoas precisam ter um “diferencial de competência” para que possam ser escolhidas para um determinado cargo ou função, portando só um generoso currículo já não é mais suficiente. Embora, ainda seja muito importante. Logo, preparar jovens para se capacitem em determinadas habilidades ou níveis de conhecimento sem que haja uma forte amarração na questão atitudinal não vai mudar muita coisa. Em pouco tempo as pessoas irão perceber que a sua vida não irá se modificar porque elas detêm apenas um conhecimento específico, um certificado que poderão colocar numa moldura e pregar na parede da sala da sua casa para agradar, principalmente, os seus pais. Na verdade mais do que isso, elas precisam aprender a crescer como indivíduos, aprender a respeitar as diferenças, aprender a conviver e trabalhar em equipe, aprender a se confrontar com problemas e vê-los como oportunidades, e principalmente aprender a se comportarem como cidadãos e a conviver uns com os outros praticando os valores humanos essenciais. O mecanicismo e o reducionismo deram origem a idéia de que a sociedade deveria ser separada entre os “inteligentes” ou os que pensam e, portanto podem mandar e os “não inteligentes” ou os não pensam, ou seja, apenas executam ordens. Portanto, de acordo com essa filosofia os “inteligentes” são todos aqueles que são capazes de extrair o máximo das suas mentes; ao passo que os não inteligentes são considerados quase um caso perdido e, por esse motivo devem apenas ter a honrar de executar ordens (e não pensar, evidentemente!). As pesquisas mais recentes desmontam essa teoria e mostram que o potencial humano além de ser ilimitado é possível também investirmos na qualidade do nosso pensamento; ou seja, podemos “educar” a qualidade do nosso pensar. Todas essas pesquisas estão fundamentadas na idéia de que o potencial humano é infinito; todavia, pela nossa própria formação e educação temos a tendência a acreditar que os limites existem e por esse motivo, via de regra, procuramos “encaixar” as pessoas em determinados limites como se elas fossem resultantes de uma linha de montagem. Logo, ao designarmos as pessoas para que executem trabalhos repetitivos, monótonos, que não as estimulam e nem desafiam e vamos fazendo que gradativamente esses indivíduos percam o interesse, e pouco a pouco vão se desmotivando e, conseqüentemente, caindo em uma espécie de desânimo e torpor no trabalho. Por outro lado, o sistema educacional vem contribuindo fortemente para que isso aconteça, uma vez que continuamos organizando a educação de acordo que o que é chamado necessidade ou áreas específicas e não nos preocupamos efetivamente em trabalhar para a sua reformulação em função das oportunidades. Portanto, não resta a menor dúvida que precisamos educar o nosso pensamento com a finalidade de que possamos aprender a enxergar as novas oportunidades ou, simplesmente, possamos reformular os nossos modelos mentais muitas vezes bastante cristalizados. De uma maneira geral, todo o nosso ensino está fortemente alicerçado no desenvolvimento de habilidades que estão contidas no lado esquerdo do cérebro (lógica, matemática, escrita, planejamento etc), por esse motivo sempre se procura estabelecer uma fórmula ou uma “regra matemática” para entender as mais diferentes relações, muitas vezes mesmo relações entre pessoas. Para desenvolvermos a qualidade do nosso pensamento precisamos aprender, entre outras coisas, a trabalhar também com as habilidades do lado direito do cérebro (emoção, imaginação, visão sistêmica, cooperação etc). Eis aí o impasse, pois maioria das escolas tem adotado modelos de ensino que estimulam muito pouco o desenvolvimento da imaginação e emoção dos seus alunos, a grande parte dos trabalhos são feitas em livros/cadernos nos quais os alunos preenchem espaços vazios, marcam “x” em quadradinhos, copiam textos pela Internet e os colam formando fantásticos “trabalhos de pesquisa”, muitas vezes erroneamente estimulados pelos próprios pais e professores por acreditarem que na Internet estão todas as soluções atualizadas. Logo, para que possamos realmente “aprender a pensar”, necessitamos de uma revisão acentuada nos currículos de escolas e faculdades, da educação doméstica, no reforço dos valores humanos pessoais e, na inserção de cadeiras como criatividade, pensamento estratégico, desenvolvimento e empreendedorismo sustentável para que os alunos aprendem a ver o mundo de oportunidades que têm a sua frente e não apenas a um mundo de uma única resposta correta pela frente. Pois, na verdade somos ensinados desde pequenos a buscarmos e encontrarmos apenas uma resposta certa para os problemas que defrontamos nas nossas vidas e acreditamos que na nossa existência só poderemos encontrar uma única resposta certa e esse é um modelo mental que muitos de nós carrega por toda a vida. No entanto a realidade do dia a dia não é assim, a vida é ambígua, e à medida que vivemos aprendemos que poderemos encontrar muitas outras respostas que também estão certas e que muitas vezes dependem apenas do que estamos realmente buscando. E por termos sido educados que na vida poderemos encontrar apenas uma única resposta correta, como nos problemas de matemática, muitas vezes deixamos de buscar alternativas também certas que poderão dar outro sentido completamente ao que buscamos ou às nossas vidas. * Fernando Viana é diretor presidente da Fundação Brasil Criativo
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O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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