Em tempos do fim do amor, Brads e Angelinas, Williams e Fátimas servem de espelhos para a vida. A rapidez na construção das relações permeia uma base nada sólida, super fácil de acabar e assim a vida vai passando. Quem tem tempo para discutir relação hoje em dia? Ninguém tem, ninguém viu, muito menos quer. Seja homem ou mulher ou trans, o soar dos segundos, na atualidade, delega ao amor um curto tempo para findar. E assim as vidas se separam, as pessoas se mudam e mudam seus pensamentos. Tudo num instalar dos dedos.
Vive-se melhor quem termina uma relação ou àquele que recebe a fatídica notícia do fim? Quase sempre o que coloca o ponto final sai mais íntegro da coisa em si. Para o que ficou de mãos abanando resta tentar recolher o que sobrou de seus pensamentos para lidar com a cruel realidade do ser solteiro outra vez. Não se engane achando que atualmente as pessoas ficam casadas pelos filhos, grandes fortunas acumuladas ou promessas de altar de igreja. Em tempos de fastlove, ninguém liga mais para as convenções sociais, e nada mais bonito hoje em dia do que falar: sou divorciado.
Uma vez conheci uma moça que conheceu um homem que morava em outro estado. O amor foi algo louco entre os dois, ele mais velho, super centrado e com olhar de apaixonado traçou metas de médio prazo para que a relação vingasse. Ela, quase 15 anos mais jovem, só se deixou levar pelo frescor da relação à distância. E tome passagem dividida no cartão, acúmulo de planos e arrumação de malas. Tudo perfeito, tudo lindo.
Quando estava lá com ele, o mundo dela era o dele. Shows, jantares na casa dos amigos influentes do namorado, fotos, compras, e várias noites e tardes e manhãs de sexo. Todo início de relacionamento é igual, óbvio. Quando ele vinha para o estado dela, as coisas não eram tão fantásticas, mas os dois sobreviviam hospedando-se em hotéis e pousadas da cidade (tudo para se ter o direito a gemer em paz). Claro que a regra dos relacionamentos à distância impõe términos, salvo algumas exceções, o sofrimento é certo. E no caso de minha conhecida foi questão de meses, cinco meses para ser mais exato.
Ela passou o Natal com ele. No Ano-Novo, ele passou com ela, todo mundo feliz, trocando juras e sonhos. No Carnaval, verdadeiro teste para qualquer relação, ela passou curtindo com ele. Ok conseguiram sobreviver às tentações. Em março, o namoro prosseguia tranquilo, salvo os momentos de carência de ambos, a coisa era até bonita de se ver (de longe). No início de abril, ele sugeriu que ela relaxasse mais e curtisse os momentos de “solteira” enquanto os dois não estavam fisicamente (pois por telefone estavam juntos forever). Ela não entendeu muito bem se aquilo era uma forma dele avisar que ela poderia ter outros e abrir assim, espaço para ele ter outras (algo que já foi moderno um dia, mas que hoje é comum, vamos combinar). Ela precisava de respostas mais concretas e o fim do pequeno amor começou.
Com a idade, nós mais velhos percebemos quando algo vai dar ou não certo com mais rapidez. Como ele era mais velho, e mesmo atraído pela juventude dela, viu que não daria para concretizar um terço do que vinham planejando. Acho que foi aí então que resolveu abrir guarda na relação. Assim, em poucas semanas de muitas conversas, declarações inacabadas, choros e reclamações, ele disse que não dava mais para continuar. O anúncio foi por telefone mesmo, seco e sem grandes alardes. Para ela, cada palavra dita funcionava como um alfinete bem pontiagudo entrando pelo ouvido até tocar o cérebro. Sabe aquela dor insuportável que desperta o coração anunciando que você só tem um mês de vida? Foi assim que ela sentiu a coisa toda. Só não houve desmaio porque hoje em dia ninguém desmaia mais por amor.
Em tempos de redes sociais, aplicativos de caça e namoro, terminar algo superficial ficou ainda mais fácil. Ela, muito senhora de si, resolveu que o fim caberia um olho no olho para que os apontamentos fossem construídos para que o fim se tornasse algo bonito. Algumas pessoas tendem a querer transformar em poema determinados lixos, o que sabemos nunca dará certo. Comprando duas passagens, ida e volta (no primeiro avião do dia seguinte), ela embarcou com o coração triste, mas ao mesmo tempo tentando criar uma integridade para se olharem, trocarem palavras de condolências e pronto final.
Ao chegar na cidade dele partiu logo para o apartamento, sabia que o cara estaria em casa e assim, depois de convencer ao porteiro (que já a conhecia de tanto vê-la lá) de que iria subir sem ser anunciada, ela tocou a campainha. Daí é que a coisa começa a ficar tragicômica. Ele abriu a porta, sem convidá-la para entrar, e de forma bem nítida soltou um: você não pode entrar porque eu estou com outra mulher no quarto. Não sei qual foi o olhar dela naquele momento, mas deve ter sido algo entre a fúria e a descoberta de um câncer em último estágio. Coitada dela! se soubesse que nada vale tanto a pena quanto ter um mínimo de amor-próprio.
As relações acabam e as pessoas estão cada vez mais instáveis sim. O que precisamos ter em mente é que cada dia mais está mais soft terminar algo (até aquela relação mais sólida). Esse treinar da mente para acabar com o outro de uma hora para outra ou ser o outro que recebe a notícia do fim nos impõe a um estado de estresse e alerta digno de anos de psicanálise. Mas quem vai ser louco de pagar um bom psicólogo quando temos o Facebook como tábua de salvação para todos os nossos traumas (e dramas)?