Quem gosta do clima eleitoral, do calor da competição pelos cargos em disputa, deve estranhar o desenrolar do atual pleito. Curta no tempo e nos gastos financeiros agora disponíveis por limitação da Justiça, a eleição amornou, mas ficou mais civilizada.
O que se pretende com uma eleição enxuta é justamente menos gastos, menos dinheiro circulando, menos compra de votos e de cabos eleitorais, menos corrupção. Tomara que o apurado após o 2 de outubro seja bom para a nossa cambaleante democracia.
No interior de Sergipe, há algum clima de acirramento aqui e ali. Mas nada que lembre as refregas do passado. Pelo menos por enquanto.
Estranho mesmo é o inusitado que acontece na capital, onde o grupo do atual prefeito faz um inédito pacto no curso do processo com os aliados do eventual adversário para combaterem juntos o ex-prefeito.
É natural que num pleito as críticas mais severas sejam dirigidas ao chefe do Executivo que disputa a reeleição. Afinal, quem está na administração sofre as maiores cobranças pelo que fez ou deixou de fazer.
Mas é inusitado ver o prefeito João Alves “aliar-se” ao adversário Valadares Filho para atacarem o ex-prefeito Edvaldo Nogueira. Os dois candidatos afinaram o discurso? Por que será?
Claro que tem a ver com a posição de liderança que Edvaldo emplacou desde o momento que a disputa começou para valer.
Com o portfólio de obras físicas e sociais que tem para mostrar, lembrando ao aracajuano o quanto os seus seis anos de gestão foram positivos para a cidade, em oposição à fraca gestão de João Alves e à carência absoluta de realizações do deputado Valadares, o candidato do PCdoB de repente passou a ser confundido como se ainda fosse o prefeito. E tome porrada.
Enquanto João acusa a “herança maldita” que teria recebido de Edvaldo, que o impossibilitaria de governar, e o até há pouco aliado Valadares afirma que as realizações do ex-prefeito só existem na propaganda, os pensadores das campanhas dos dois não economizam num jogo nada limpo e inundam as redes sociais com grosserias as mais diversas.
Ora é uma voz imitando Jackson Barreto ao acordar afirmando que vai fazer no vaso sanitário o que ele e Edvaldo fazem como gestores. Ora é um filme denunciando a aliança que envolve seus principais apoiadores, Jackson e o PT, apontados como responsáveis por inúmeros escândalos. E por aí vai.
O que os detratores não estão enxergando é que Edvaldo matreiramente conquistou uma aliança inédita nesta eleição.
Em nenhuma capital a não ser Aracaju um candidato conseguiu unir em torno de si o PT e o PMDB, dois dos três principais partidos políticos do Brasil, que foram aliados nacionais até este ano e agora, com o episódio do impeachment de Dilma Rousseff, tornaram-se inimigos figadais.
Inimigos lá, não aqui, onde Edvaldo é o fiel da balança nesse equilíbrio entre forças poderosas e nada desprezíveis.
Que candidato mais ou menos ideologicamente afinado não brigaria por um apoio de tamanho peso?
Pelo que se vê na campanha até agora, o povo não se deixa levar pelo falso moralismo, não está nem aí para o desespero alheio e vai guardando sua resposta para a urna eleitoral. Quem sobreviver até o dia 2 verá.