Queremos árvores

Assim caminha a humanidade. Ainda há quem ache que árvore é um estorvo, que só serve para sujar e quebrar as calçadas. Herança dos nossos colonizadores, que trouxeram a cultura do machado e da serra. A novidade é que o ser humano evolui também quanto à consciência ecológica, agora perceptível na preocupação com a arborização das cidades. E quem é ecologicamente consciente se sensibiliza até com um simples texto, como o desta coluna na semana passada, sugerindo a arborização de Aracaju com frutíferas nativas.

 

O caderno Morar Bem, aqui deste JC, de sexta-feira repercutiu o assunto e constatou que há um déficit de 20 mil árvores em Aracaju. A Emsurb estima que existam 40 mil delas espalhadas pela cidade, quando o ideal seriam 60 mil — no mínimo! A prefeitura dispõe de projeto para investir R$ 3 milhões na arborização. É uma boa notícia, mas seria melhor se a prioridade fosse para as nossas espécies nativas e — por que não? — frutíferas.

 

O jornalista Luiz Eduardo Costa, ouvidor-geral do Estado, tem feito mais do que sugerir. Ele doou à prefeitura de Aracaju 3 mil mudas de craibeira, árvore sertaneja que quando flora se veste toda de amarelo. Sugere que, nos locais apropriados, sejam plantados os arbustivos gragerus. “O grageru dá nome a um bairro da cidade, mas a maioria das pessoas nem sabe do que se trata”, diz, com razão. E pede a imediata criação de um parque ecológico do manguezal, aproveitando o que há de preservado desse ecossistema ao longo do rio Poxim.

 

MAS NEM TUDO SÃO FLORES — Vejamos outras manifestações enviadas à coluna:

“A propósito de seu artigo sobre as ‘maçarandubas’, mais uma vez refletimos sobre a resistência que se enfrenta para praticar algo tão saudável como plantar árvores, plantar vidas. Recordo que, como vereador de Aracaju, na década de 80, lutei muito pela arborização, chegando a ter aprovado projeto que obriga todos os conjuntos habitacionais a ter um plano de arborização, além de sugerir um percentual de desconto do IPTU para as residências cujos proprietários cultivassem uma árvore. Mais recentemente, como deputado estadual, voltei a tratar da questão, visando ampliar a obrigatoriedade de projetos de arborização para todo Estado. A resistência e a insensibilidade de alguns, entretanto, continua dificultando esta prática.

 

Entendo que é uma questão de cultura e educação. É preciso começar tudo pela escola, formando e criando a partir das crianças uma cultura ambiental. Na verdade, perdemos o hábito e a tradição de plantar, até mesmo no interior. As margens dos rios estão desertas e os habitantes de casas humildes não plantam nada, nem uma bananeira, que poderia receber dois copos de água por dia para produzir. Muitas dessas casas estão ali, tão próximas às margens de rios, que com qualquer cheia são inundadas.

 

A Legislação contempla estas comentadas preocupações com as questões ambientais, o que precisa com urgência é uma efetiva fiscalização dos governos, dos agentes financeiros e órgãos fiscalizadores. A Caixa Econômica, como principal órgão financiador, só deveria  liberar recursos com o efetivo cumprimento da Legislação Ambiental.

 

Até parece que estamos todos ricos. Deixamos de plantar, pois ficou fácil ir até o supermercado e comprar tudo. Não se encontra mais as hortas de fundo de quintal que existiam até mesmo na capital quando as famílias vindas do interior traziam este costume.

 

Não custa relembrar pessoas que no passado deram a sua contribuição, como o engenheiro agrônomo Roberto da Costa Barros, diretor do antigo Horto Florestal do Ibura, que produzia e distribuía milhares de mudas frutíferas e arbóreas incentivando as comunidades para a arborização.

 

O que se observa hoje, infelizmente, são grandes conjuntos habitacionais que ao longo dos anos foram construídos se constituindo em verdadeiros desertos e a implantação de novos bairros, a exemplo da Coroa do Meio e do Jardins, onde até hoje não se introduziu um espaço verde.

 

Saudamos, portanto, ações que visem incentivar a arborização, registrando a importância do trabalho da imprensa, chamando atenção e mostrando que plantando árvores individualmente ou criando áreas verdes estamos cuidando das nossas vidas amanhã.”

 

Jorge Araújo, secretário de Estado da Articulação Política e das Relações Institucionais

 

“Acho que a culpa de Aracaju ter poucas árvores é da própria população: primeiro, porque não cobra dos poderes públicos nada nesse sentido; segundo, porque trata de cortar sem razão nenhuma as poucas que existem. Já contei isso: um vizinho meu cepou uma árvore linda que havia em frente à casa dele. Motivo alegado: ‘Juntava muita muriçoca’. E ouvi aí de muita gente que não gostava de ter árvore no quintal porque ‘as folhas sujavam’.

 

Aliás, fiquei muito triste e pela primeira vez dei, no AmbienteBrasil, um ‘pau’ em Sergipe. Esse resort que mudaram a lei para permitir é uma vergonha. É Aracaju, infelizmente, seguindo o péssimo exemplo de outros estados, com ênfase ao Mato Grosso do sr. Blaggi. Triste, muito triste.”

 

Mônica Dantas, jornalista, editora do site ambientebrasil.com.br, de Curitiba (PR)

 

“Sua crônica ‘Nosso pé de maçaranduba’ está, trocadilho à parte, deliciosa. Há tempos reclamo da extinção dos quintais e da derrubada das fruteiras nativas em nossa cidade. Quando criança e adolescente brinquei num sapotizeiro e num tamarindeiro (você escreveu tamarineiro*) na casa de seu Jovino Pizzi, na avenida Simeão Sobral. Aproveito para lembrar de outra fruta saudosa: o araçá. Hoje, só o encontro em forma de doce no Bar do Joel, na Caueira. Aaah! Aracaju dos quintais de outrora… Parabéns!”


Amâncio Cardoso, historiador, professor do Cefet

 

“Primeiro, parabéns pela matéria sobre as árvores. Já escrevi uma vez a respeito. Acho um absurdo o descaso com que nossas autoridades tratam desse problema. Acho que o tema não pode morrer. Porto Alegre tem uma árvore para cada habitante. Aqui as pessoas cortam as árvores porque soltam folhas ou quebram a calçada. Quanto a mim, já plantei tudo que pude em meu jardim.”

Antônio Carlos Viana, escritor, professor da UFS

 

“Gosto dos seus artigos e suas análises críticas, até porque você conserva o pendor intelectual para as letras vindo do seu bisavô, o meu tio Gotardo Correia de Araújo, e que publicara o primeiro jornal da Capela. Pendor este que transmitiu ao seu filho,  Nélson de Araújo (professor, jornalista, ensaísta, crítico literário e novelista), aos seus netos Paulo Barreto de Araújo (jornalista e advogado, certamente noventão da minha idade e que nunca mais notícias tive desse amigo que fixara residência no Rio de Janeiro) e José Augusto Melo de Araújo (professor e talentoso intelectual e que nos deve um ensaio crítico sobre o tio Nélson de Araújo), e a você, o bisneto. Abraços.”


Manoel Cabral Machado, professor, ex-vice-governador do Estado

 

*Os principais dicionários admitem as formas tamarindeiro e tamarineiro (esta mais comum em Sergipe), como também maçaranduba (mais correta) e massaranduba.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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