Recife (PE):  um roteiro por suas pontes, sua história

Marco Zero do Recife

 

Passear pelo rio Capibaribe a bordo de um catamarã, ouvindo belas canções de compositores pernambucanos e observar prédios históricos datados do início dos séculos XVII e XVIII é um dos roteiros mais apreciados por quem visita à capital pernambucana, Recife. E não é somente um passeio turístico. É deixar contagiar-se com a magia e o imaginário pernambucano de outrora através do passado no presente, contando com a alegria e a emoção do roteiro.

 Recife de encantos e cheio de história para contar, embalado pela natureza dos rios Capibaribe e Beberibe, faz do passeio imperdível aos olhos dos visitantes que querem conhecer um pouco mais do Brasil colonial pela ótica da antiga Província de Duarte Coelho. O passeio dura em média uma hora e meia e passa sob cinco pontos: Giratória, Maurício de Nassau, Manuel Buarque de Macedo, Princesa Isabel, Duarte Coelho, todas elas com suas histórias, estruturas, contos e encantos.

Pontes do Recife
Vista da Rua da Aurora

O guia avisa que a embarcação partirá do cais de Santa Rita. Um sonoro “visse” é espontaneamente pronunciado, indicando que o passeio não é apenas um mero roteiro turístico. É embarcar na história e no cotidiano do povo pernambucano.  A palavra amplamente usada no vocabulário pernambucano fundi três interrogativas ao mesmo tempo: você viu? você escutou? você entendeu? visse?…

A embarcação parte e logo, ao longe, ver-se a comunidade Brasília Teimosa, ladeada por um conglomerado de prédios que surgem nos bairros do Pina e da Boa Viagem, além do shopping center Riomar e outros centros comerciais, todos eles em torno da denominada Bacia do Pina. O passeio só está começando quando, à direita, dois arranha-céus cortam o horizonte nomeados por expoentes da história de Pernambuco: Duarte Coelho e Maurício de Nassau.

O catamarã passa bem pertinho do Marco Zero, com seus emblemáticos edifícios Maurício de Nassau, de características modernas e fachadas em vidro; da Associação Comercial de Pernambuco e da Bolsa de Valores, hoje ocupados por museus e centros culturais. Há também os armazéns do antigo porto do Recife, que abrigam restaurantes e bares. Do lado esquerdo da Bacia do Pina fica os arrecifes que viraram pontos turísticos, por receberem o Parque de Esculturas de presente do artista plástico e escultor Francisco Brennand.

Pontes do Recife
Ponte Buarque de Macedo

A embarcação adentra o rio Capibaribe e passa sobre a primeira ponte denominada de Ponte Giratória. A história conta que a ponte era uma antiga rodoferroviária, que tinha a sua estrutura central montada sobre uma coluna pivotante, e que servia para liberar a navegação no rio Capibaribe. Seu nome deve-se a sua característica, de ter sido uma ponte com mecanismo giratório.

A razão de sua construção era justamente deixar passar as embarcações veleiras e, ao mesmo tempo, permitir a ligação do bairro de São José e o do Recife, na foz do rio Capibaribe. Sua construção iniciou-se em 1920 e foi inaugurada em 5 de dezembro de 1923, funcionando até a década de 1970, quando, tendo suas engrenagens danificadas e já não comportando o volume viário sobre ela, e também não havendo mais movimento de embarcações, foi desmontada e em seu lugar foi construída uma ponte de concreto, fixa, que recebeu o nome de ponte 12 de Setembro.

Pontes do Recife
Vista da Rua da Aurora

O guia pede que cada tripulante da embarcação faça um pedido ao passar por cada ponte e assim vai também mostrando suas histórias e prédios, a exemplo do antigo prédio da Alfândega, atualmente um shopping center, do edifício Chanteclair, primeiro bordel de luxo do Brasil; e vários outros prédios que convidam a adentrar na história de um Brasil colonial a época que a capitania de Pernambuco era a mais próspera entre todas.

O segundo pedido vem acompanhado de uma salva de palmas para a ponte Maurício de Nassau interligando os bairros do Recife e Santo Antônio. Considerada a primeira ponte de grande porte do Brasil, o projeto teve início em meados de 1630. O então Conde de Nassau ordenou a construção de um pilar de pedra com 12 metros de comprimento para analisar a força da correnteza e demonstrar publicamente seu interesse na construção da ponte.

Em 1641 abriu-se edital para convocar construtores interessados. Em 1642 iniciou-se a obra, já com quinze pilares construídos. Mas logo no ano seguinte a obra teve de ser paralisada. Com medo de ser humilhado, o Conde de Nassau toma a frente da construção e investe dinheiro próprio no projeto.

Faltando ainda dez pilares de pedra e o orçamento estourado, o conde resolve usar madeira resistente à água ao invés de pedra. A ponte é então inaugurada em 28 de fevereiro de 1644 com o nome de Ponte do Recife. Parte em pedra, parte em madeira, a Ponte do Recife tinha o dobro do tamanho da atual indo do atual cruzamento da avenida Marquês de Olinda com a rua Madre de Deus até o atual cruzamento das ruas 1° de Março e Imperador D. Pedro II. Ganhando o título de primeira ponte de grande porte do Brasil, por ainda está em funcionamento, ponte mais antiga do país.

Pontes do Recife
Ponte Maurício de Nassau

A terceira ponte a ser visitada é a Buarque de Macedo, considerada a ponte mais extensa entre as que ficam no centro do Recife, com 288,30m. Foi construída nas últimas décadas do século XIX e atualmente permite a utilização como binário com a ponte Maurício de Nassau para ligação ao Recife antigo.

Depois dela segue um conglomerado de prédios antigos que hoje funcionam repartições públicas. A partir dali o Capibaripe modifica seu curso e encontra com o Beberibe. A exuberante paisagem entrecortada por prédios históricos, modernos e um braço de manguezal mostram o contato com natureza em uma cidade de mais de 1,5 milhões de habitantes.

A emblemática ponte Princesa Isabel pede mais uma salva de palmas e antes de conhecê-la, os tripulantes revisitam as histórias dos imponentes prédios localizados na praça da República, a exemplo do palácio do governo, denominado de Palácio Campo das Princesas, do Teatro Santa Isabel, das cúpulas do Palácio da Justiça, e da inesquecível rua da Aurora, do outro lado do rio, com casarões e sobrados preservados. O Ginásio Pernambucano e o prédio da Assembleia Legislativa chamam atenção no traçado da cidade.

A ponte Duarte Coelho é a última a ser desbravada por esse roteiro. Também conhecia como ponte Maxambomba, expressão abrasileirada da expressão inglesa “machine pump”, que era o nome do tipo da locomotiva que cruzava a ponte, servia inicialmente para só para os trens da cidade.

A ponte inaugurada em 1943 liga duas das principais avenidas da cidade: Conde da Boa Vista e a Guararapes, é famosa por ser o local onde fica instalado o Galo Gigante da Madrugada no carnaval.

Com certeza, o último pedido é que se permita fazer novamente o passeio. Mais pontes estarão por vir e muita demonstração de que ser pernambucano é mais que um natalício, é um estado de espírito.

Na Bagagem

Pontes do Recife
Rua da Aurora

O passeio acontece diariamente às 11h, 16h e 20h, e aos domingos também às 14h30 e 17h30, contando com um roteiro diferenciado por outros bairros do Recife. A saída é a partir do restaurante Catamaran Tours, no bairro de São José, Cais de Santa Rita, e custa R$ 70 para adultos. É bom entrar em contato antes para verificar disponibilidades de horários e preços diferenciados pelo número (81) 99973-4077.

O visitante que embarcar no atracadouro da empresa também poderá desembarcar no cais do Marco Zero.

Não deixe de visitar também a ponte da Boa Vista, uma das mais belas da capital pernambucana, toda fundida em ferro. A ponte é uma das mais típicas da paisagem urbana recifense, construída por Maurício de Nassau, em 1640.

Recife apresenta mais de 50 pontes, sendo considerada a Veneza Brasileira. O passeio é só o começo por um dos roteiros mais atraentes do Recife.

Interligue o passeio pelo Capibaripe com um tour a pé pelo Recife Antigo. A cidade de Recife é famosa por seus rios e pontes e impossível não ter o contato com eles. Sem as pontes o bairro do Recife seria uma ilha.

Pontes do Recife
Ponte da Rua da Boa Vista

Conta a lenda urbana, que um boi voou na inauguração da ponte Mauricio de Nassau. A construção da ponte extrapolou as verbas destinadas à obra pela Companhia das Índias Ocidentais e o conde usou da esperteza para resolver o problema: divulgou que, durante a inauguração da ponte, um boi iria voar e determinou a cobrança de pedágio, com isso conseguiu arrecadar uma boa quantia de dinheiro. Para que o povo não se sentisse enganado e não se rebelasse, na inauguração ocorreu em 28 de fevereiro com um “boi voando”. O truque foi suspender um animal empalhado por cordas meticulosamente ocultas.

Gastroterapia

A agulhinha é um dos peixes mais típicos da costa litorânea pernambucana. Por ser bastante encontrada, na maioria dos bares e restaurantes o peixinho é encontrando frito ou empanado, filé ou inteiro. Veja que há a agulhinha negra e agulhinha branca. Vale a pena degustar como entrada do prato principal ou até mesmo com um drink ou uma cervejinha gelada. A lagosta também está nos cardápios de cerca de 99% dos restaurantes da cidade e uma boa pedida é gratinada. Nos restaurantes do Mercado do São José, a dica é começar o dia com a típica e famosa carne de sol com macaxeira para um café da manhã bem farto e nordestino, em um dos bares locais.

*Dúvidas do roteiro enviar mensagem no Instagram @silviotonomundo

Fotos: Silvio Oliveira
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