Theódulo Cortes |
Mais do que encadernador das minhas coleções de fascículos da Editora Abril, que não eram poucas e passavam por todos os tipos de assuntos, Theódulo Côrtes era um amigo. Admirava muito a sua arte, o seu cuidado no trabalho e principalmente as suas histórias. Por muitos anos frequentei o seu atelier, na esquina da rua Propriá com a Avenida Pedro Calazans.
Mas "Seu" Theódulo não era somente um encadernador, era também o músico, o palhaço e o mágico que animava festinhas da gurizada. Fazia isso por um prediletismo e alegria contagiantes. Lembro que numa das festinhas de aniversário de minha filha Marcela, ele foi a atração, fazendo mágicas e entretendo a petizada. Os meninos cresceram, a febre das coleções desapareceu e nunca mais voltei a ver o dileto amigo.
Nesta semana, voltei hesitante à casa na esperança de reencontrá-lo, porque uma placa me chamou a atenção: "Encadernam-se livros". Com alguns exemplares nas mãos para restauração, fui recebido à porta por Roberto, que me relatou que Côrtes havia falecido, fazia muitos anos, inclusive sua esposa e o único filho também haviam seguido o mesmo destino. Ele agora, como filho de criação, como se denominou, mantinha sozinho o negócio.
Nada na casa me lembrava mais os tempos passados, os móveis, o ateliê, os quadros da parede, o saboroso suco de jenipapo, que gentilmente ele me servia, enfim nenhuma imagem que me reportasse ao velho amigo…
A não ser por uma foto, uma única foto, perdida num canto qualquer, colocada num porta retrato amarelado pelo tempo.
Recordações de um tempo que não volta mais!