REFORMA POLÍTICA JÁ

Na Carta desta Semana, por considerar muito oportuno, apresento texto de autoria de um amigo meu, Silvestre José Pavoni:

“Caros amigos, 

Assisti, pela TV Câmara, boa parte da sessão de eleição da nova mesa da Câmara dos Deputados, que se estendeu pela madrugada daquele dia 16. Não fosse minha fé em uma mudança que aos poucos vai alijando verdadeiros escarros de nossa política, poderia dizer que teria vergonha de ser brasileiro!

A sessão se mostrou um verdadeiro balcão de negócios, onde deputados, de forma mais descarada possível, transitavam de um partido para outro, para a formação de maiorias fisiológicas. Teve deputado que ficou (DC “Política do Oportunismo” de 17/02/05) somente 5 horas e 48 minutos no PMDB! Aliás, desde o dia primeiro daquele mês, 37 deputados mudaram de partido, sendo que 2 mudaram duas vezes! O descalabro foi tanto que a melhor imagem a respeito foi dada pelo senador Arthur Virgílio, em pronunciamento no Senado, comparando a sessão da câmara a um “motel”! 

E, não mais fisiológica foi a bandeira de quem ganhou! Promessa de aumento do salário dos deputados de R$ 12,8  para R$ 21,5 mil; de aumento da verba de gabinete de R$ 25 para R$ 35 mil; de férias de 90 dias. É o fim da picada! Um país que ostenta – deslustrando qualquer outro orgulho que possamos ter – um dos primeiros lugares em pior distribuição de renda no mundo tem, como comandante da câmara, um defensor de que cada deputado deve ganhar 83 vezes o salário-mínimo! Há ainda que considerar o reflexo da vinculação em cascata nas assembléias estaduais (cada deputado estadual ganha 75% do federal).

Não quero, com essa  manifestação, demonstrar simpatia pelo candidato oficial, defenestrado de sua postulação pela própria soberba e incompetência do Governo. Também não tenho absolutamente nada contra o Severino Cavalcanti, que, por sinal, jamais escondeu suas posições, embora, a meu ver, demonstre uma completa insensibilidade aos problemas nacionais! Quero tão somente registrar meu repúdio: um à forma com que nossos representantes – com honrosas exceções – desrespeitam o voto que receberam, fazendo de seus mandatos uma mercadoria que só serve a seus próprios interesses, e dois às bandeiras fisiológicas, imorais e ilegítimas que ajudaram a eleger Severino Cavalcanti para a Presidência da Câmara dos Deputados.

Para resolver o reflexo do descompromisso com os eleitores, somente há um caminho: REFORMA POLÍTICA JÁ! Com vinculação partidária, voto distrital, perda de mandato para quem sair do partido, equacionamento do financiamento de campanha, etc.

Para impedir o cumprimento das promessas da campanha, no que se refere aos aumentos fisiológicos, somente a mobilização da sociedade.  Cada um deve fazer a sua parte, com os instrumentos que dispuser. Temos, inclusive, que manifestar nosso repúdio a qualquer tentativa de afrouxamento da Lei de Responsabilidade Fiscal, uma das maiores conquistas da sociedade brasileira.

Acho que deveríamos defender uma vinculação dos salários dos deputados (dos senadores, ministros dos tribunais, presidentes etc.) ao salário-mínimo e, ainda assim, com redutor progressivo no tempo, para que a diferença entre eles fosse cada vez menor, até que atingissem um patamar socialmente decente!”

EdmirPelli é aposentado da Eletrosul e articulista desde 2000
edmir@infonet.com.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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