Já pensou se um afortunado pudesse num único dia acrescentar à sua fortuna todo o dinheiro que o estado de Sergipe movimenta em um ano e meio? Pois foi quase isso o aconteceu ao bilionário americano Jeff Bezos, dono da Amazon, considerado o cara mais rico do mundo, que no dia 20 viu pingar na sua conta a bagatela de US$ 13 bilhões.
Numa matemática rápida, isso equivale a R$ 67,6 bilhões, correspondente a uma vez e meia o PIB calculado para Sergipe em 2019, de aproximadamente R$ 43 bilhões. Se você está se perguntando como pode alguém ganhar tanto dinheiro durante uma pandemia que afeta a economia mundial, saiba que alguns poucos estão ainda mais ricos, enquanto a maioria está mais pobre.
Assim funciona o velho e perverso mundo capitalista, muitos perdem o pouco que possuem para uns poucos ganharem muito. E a oportunidade sorri para os que já têm demais. Bezos ficou US$ 13 bilhões mais rico num único dia graças ao aumento das compras online durante a pandemia, que valorizou as ações da Amazon em 65%.
A comparação envolvendo Bezos e o nosso PIB não é tão despropositada assim, afinal, a fortuna do magnata também tem a contribuição de dinheiro brasileiro, inclusive de sergipanos. Mas o milagre da multiplicação durante a pandemia beneficiou, e muito, os bilionários brasileiros.
Quem paga a conta?
A fortuna dos 42 brasileiros super ricos cresceu quatro vezes o PIB de Sergipe em menos de quatro meses. Individualmente, não é assim o que Bezos ganhou em apenas um dia, mas durante a pandemia eles ficaram US$ 34 bilhões mais ricos, aumentando a fortuna de US$ 123 bilhões para US$ 157 bilhões. A informação consta de um relatório da ONG Oxfam Brasil, divulgado nesta segunda-feira, 27.
A Oxfam merece crédito. Ela se apresenta como uma confederação internacional de 20 organizações nacionais que trabalham juntas em um total de 90 país, como parte de um movimento global para construir um futuro livre da injustiça, das desigualdades e da pobreza. A ONG fundada por ativistas ingleses já teve como parceiros locais os irmãos Villas-Boas, Dom Helder Câmara e Chico Mendes.
O nome do estudo da organização é: “Quem paga a conta? – Taxar a riqueza para enfrentar a crise da Covid na América Latina e Caribe”. Uma fonte dos dados é a lista das pessoas mais ricas do mundo da Forbes.
Convertendo em moeda local, os 42 multimilionários daqui ganharam juntos R$ 175 bilhões, enquanto 16 milhões de brasileiros já estão desempregados, recebendo no máximo 600 reais por mês, e 30 milhões deverão ficar mais pobres depois da peste do novo coronavírus, agravando enormemente o quadro de desigualdade social do Brasil.
A evolução do patrimônio desses bilionários brasileiros é um movimento que se repete na América Latina e Caribe, onde há 73 bilionários cuja fortuna somada cresceu US$ 48,2 bilhões no período em que a macrorregião se converteu no novo epicentro da crise sanitária da Covid-19, segundo a Organização Mundial de Saúde.
Um dado que impressiona: desde o princípio dos isolamentos, oito novos bilionários surgiram na região, ou seja, um novo bilionário a cada duas semanas, enquanto se estima que até 52 milhões de pessoas se tornarão pobres e 40 milhões perderão seus empregos este ano na América de língua latina em sua maioria.
Bilionário é aquele que consegue juntar um bilhão de dólares. No Brasil, estão nesse clube Joseph Safra — dono do Banco Safra e o mais rico de todos, com US$ 26 bilhões —, os três donos da Ambev, os três Marinho donos da Rede Globo, os donos do banco BTG Pactual e de outros grandes bancos, Luciano Hang, o “Veio da Havan”, dentre outros.
Taxar grandes fortunas
Segundo estimativas da Oxfam, a perda de receitas tributárias para 2020 poderia chegar a 2% do PIB da América Latina e Caribe: US$ 113,391 bilhões, o equivalente a cerca de 59% do investimento público em saúde de toda a região. De onde tirar dinheiro para cobrir esse rombo monumental?
“A urgência por mecanismos públicos que contribuam com a reativação econômica e protejam o emprego, assim como as pessoas mais vulneráveis, requer romper com os tabus tributários e os dogmas econômicos do passado”, diz o documento da Oxfam, propondo taxar as grandes fortunas.
Se fosse aplicado um imposto extraordinário sobre as grandes fortunas, com caráter progressivo, entre 2% e 3,5% em cada país, sobre os patrimônios acima de US$ 1 milhão, seria possível arrecadar até US$ 14,26 bilhões, cinquenta vezes mais do que se arrecada hoje com o imposto sobre patrimônio.
“A queda da receita tributária torna impensável imaginar que se possa abordar a recuperação da capacidade fiscal dos países pelas vias tradicionais. São necessárias medidas de urgência, extraordinárias e estruturais, ao passo que se corrija as deficiências do passado”, recomenda a Oxfam.
Já passou da hora dos ricos pagarem impostos proporcionais ao tamanho de suas fortunas. Afinal, o que leva um homem ou uma mulher a morrer abraçado com bilhões de dinheiros se caixão de defunto nem tem gaveta?