Vista de cima do Morro Dois Irmão, na comunidade do Vidigal |
A partir de agosto o Mundo converge os olhos para o Brasil, mais precisamente para o Rio de Janeiro. O Tô no Mundo não poderia deixar de antever os encantos do Rio Maravilha e traz duas matérias sequenciais com os cheiros, gostos, sabores e atrativos cariocas nesta temporada de Jogos Olímpicos.
Nesta primeira edição, o turismo nas comunidades continua sendo polêmico, mas é sabido que os cenários típicos das favelas cariocas, com seus mitos, cores, cheiros, emaranhados de fios, becos e degraus íngremes atraem cada vez mais turistas e são incorporados aos roteiros turísticos das agências. Hoje é possível conhecê-las, se hospedar e vivenciar dias em uma delas, com o acompanhamento de guias.
A Rocinha, os morros do Vidigal, da Babilônia e Dona Marta ou o Complexo do Alemão e dos Prazeres são alguns dos exemplos. Todos eles têm um ponto em comum: são comunidades que têm uma vista de encher os olhos e cada vez mais atraem iniciativas turísticas para melhor receber visitantes de todo o mundo de passagem pela Cidade Maravilhosa. Algumas delas disponibilizam restaurantes de comidinhas cariocas, infraestrutura com mirantes, elevadores de acesso, trilhas e guiamento com profissionais especializados, sem contar com a hospitalidade dos moradores, é o denominado turismo de base comunitária sustentável.
Sistema de telférico pela comunidade do Alemão |
A escolha em conhecer as comunidades cariocas não é unanimidade entre turistas, quando de passagem pelo Rio de Janeiro (RJ). Também não é consenso entre os próprios moradores das comunidades ao falarem em receber turistas. Por muitos anos, as favelas cariocas estamparam as páginas policiais devido à guerra do tráfico e a falta da presença do poder público. Pouco desta realidade mudou quando em dezembro de 2008 as UPP’s (Unidades de Polícia Pacificadora) se instalaram em pontos do Rio de Janeiro.
Apesar de a violência ser registrada ainda, aos poucos os moradores resgatam suas histórias, arte, beleza; criam associações, fazem das suas lajes pontos de apoio e vão desfazendo um cotidiano outrora deixado para traz e construindo um novo olhar dos que visitam o Rio de Janeiro.
Não se pode falar em visita as comunidades sem citar a Rocinha. Localizada entre os dois bairros com maior IPTU da capital fluminense, Gávea e São Conrado, a favela é a maior do Brasil, com mais de 70 mil habitantes, e uma das mais visitadas por turistas, principalmente estrangeiros.
Morro Dona Marta é uma das melhores comunidades para se visitar |
O Morro do Vidigal, localizado entre o Leblon e São Conrado, na também Zona Sul, ostenta uma das mais belas vistas da bela Cidade Maravilhosa. Artistas e estrangeiros descobriram a comunidade e tem investidos em hotéis, pousadas e hostels. Quem ainda não ouviu falar do réveillon no Vidigal?
No bairro Botafogo, duas outras comunidades têm atraído o olhar do poder público e cada vez mais recebem visitantes. O Morro da Babilônia, entre a Urca, o Leme e Copacabana, com um polo turístico de mais de 10 hostels, e o Morro Dona Marta, primeira comunidade a receber uma UPP.
Casas multicores – No Morro Dona Marta, ou comunidade Santa Marta, os visitantes têm ao seu favor uma das mais privilegiadas vistas do Pão de Açúcar e das praias do Rio de Janeiro. A própria favela, sua história, sua gente, sua cultura, são atrativos que se confundem com a história da expansão do Rio de Janeiro.
O tour pela favela começa ainda em Botafogo, com a subida no bondinho com estações definidas. Vale ressaltar que o elevador foi construído para facilitar a vida da comunidade, ou seja, a prioridade é para quem vive lá.
Vista da Comunidade dos Prazeres e o Pão de Açúcar |
Quem não lembra do cantor norte-americano Michael Jackson no Santa Marta? Senão se lembra, não tem problema. Na quarta estação o visitante desce, passa por becos entre emaranhados de casas coloridas intercaladas com uma vista sem igual até chegar ao mirante.
O cantor passou por lá em 1996 e foi eternizado com uma estátua de bronze do cartunista Ique. Há também um painel de Romero Britto, que o homenageia. Lá no mirante o armazém e bar do Assis, um paraibano que deixou tudo e se encantou pelo Santa Marta, serve bebidas bem geladas e há uma loja de souvenir da associação de moradores do bairro.
Se o turista não se contentar somente com um tour ou um dia na comunidade, há possibilidade de alugar uma das lajes, ou seja, o denominado Lajão Cultural, para fazer uma festa típica, churrasco, aniversário ou similares. É também bastante procurado o acompanhamento com guias de turismo da comunidade.
Vista do Cristo do Morro Dona Marta |
Além de conhecer melhor o dia a dia da comunidade, o guia especialista proporciona a sensação de segurança.
Teleférico e vista de cima – Do outro lado da cidade, no bairro Bonsucesso, o teleférico do complexo do Morro do Alemão foi uma das atrações que mais recebeu visitantes em 2011, ano em que foi aberto para o público.
Partindo da estação da comunidade da Fazendinha, em Inhaúma, zona norte do Rio, percorre todo o complexo observado de cima, numa vista encantadora do traçado da comunidade, com suas lajes com piscinas de plástico, antenas parabólicas e desníveis das construções.
Mirante Michael Jackson no Santa Marta |
De estação em estação, chega até a última onde está instalada a delegacia da comunidade pacificada e uma bandeira do Brasil, fincada quando os primeiros policiais chegaram no bairro e ficou historicamente conhecido com as cenas dos traficantes fugindo da comunidade.
Nos últimos tempos há uma dúvida sobre a continuação das atividades do teleférico por conta do desestímulo financeiro da empresa que administra o sistema de bondinho. O meio de transporte foi construído para ser a redenção do transporte público a preço popular, mas muitos moradores não aderiram ao sistema. Os turistas também frequentaram, mas com os registros recentes de novos tiroteios, muitos deles deixaram de procurar a comunidade.
Muitas agências turísticas também deixaram de recomendá-la, mas o que é belo não deixa de ser. O teleférico continua atraindo turistas. A vista continua a mesma e a experiência de conhecer uma comunidade, mesmo que de cima, fazem do Morro do Alemão um destino possível de despertar boas fotografias e sentimento de pertencimento a um Brasil bem mais além do que diz as manchetes de jornais.
Morro do Alemão |
Dicas de viagem
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Em comunidades carentes a falta de estrutura não deve ser tratada como exótico. Lembrar que ali é o dia a dia de todos que vivem na comunidade faz o turista enxergar o tour com outros olhos.
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Veja que a infraestrutura existente, a exemplo de teleféricos, bondinhos e similares é prioridade para quem mora na comunidade. Vale a dica.
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Ao fotografar casas e moradores, o bom-senso é fundamental.
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Em determinadas comunidades, o guia proíbe fotografar as casas e os moradores sem permissão. O denominado safari para registrar a pobreza é abominado por eles e por muitos moradores. O pedido de permissão deve sempre acontecer quando se trata de turismo em comunidades carentes.
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Vista do Santa Marta Ao comprar souvenires e artesanato, procure comprar em pequenos mercados populares para beneficiar diretamente o produtor ao invés de grandes comerciantes. Comprando diretamente do produtor os benefícios econômicos serão mais bem distribuídos. Em alguns locais existem cooperativas de artesãos que são uma ótima opção para ajudar a economia local.
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Cuidado para não incentivar a produção de souvenires de forma predatória. Não compre nada que seja feito em detrimento à fauna e à flora, como porta-retratos com conchas, por exemplo, ou animais empalhados.
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Se preferir hospedar-se ou realizar o guiamento, consulte agências especializadas.
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A barganha deve ser com bom humor e apenas para desinflacionar o preço praticado para turistas. Não barganhe exageradamente para não criar um ambiente de inimizade entre turistas e comerciantes locais.
Cerveja gelada com vista para as praias do cariocas |
Francisco de Assis é um dos emprendedores no Dona Marta |
Gastroterapia
No bar do Assis, em plena laje do Michael Jackson, na comunidade Santa Marta, o simpático proprietário Francisco de Assis conta às histórias que o fez deixar João Pessoa e colocar uma ‘venda’ bem pertinho da estátua do cantor. “Aqui tiro meu sustento, conheço todo mundo, sirvo os turistas com o maior prazer”. Não é por menos. Da janela do barzinho que é também um dos principais armazéns da comunidade, a cerveja é pega pelo próprio cliente no freezer que fica fora do balcão e servida ali mesmo, em pé ou a mesa, ao gosto do cliente, com uma bela vista das praias do Rio. Os caldinhos são servidos também. Os pratos mais elaborados, a exemplo do bom churrasco, um peixe frito ou carne assada são preparados sob consulta ou reserva. Ouvir as histórias do Seu Assis já vale os 10%.
Na Bagagem
Polêmica envolvendo guias de turismo e agências de viagens
Afinal, o guia de turismo pode ou não coordenar, executar e realizar breves excussões? O tema é polêmico e cada vez mais entra na pauta das reuniões do trade. O guia de turismo é a única profissão regulamentada por lei no seguimento, mas realizar excussões é de competência das agências de viagem. O Tô no Mundo traz a polêmica como forma de trazer à tona a discussão.
Ecoturismo em Sergipe
Com a chegada ao mercado de agências especializadas no seguimento do turismo de aventura, o ecoturismo em Sergipe cada vez mais ganha espaço. Roteiros das cachoeiras que passa por Macambira, Itabaiana e Nossa Senhora de Lourdes, trilhas no Parque Nacional da Serra de Itabaiana com a prática de esportes radicais, além de novos destinos envolvendo o litoral norte do estado tem fervido as ideias dos aventureiros de plantão.
Turismo de Base Comunitária Sustentável
Imaginar que muitos países têm atraído turistas por disponibilizar roteiros em que os turistas se hospedam em comunidades, com todas as tradicionais locais e vivencias do dia a dia é uma realidade bem presente. Em Sergipe, o turismo sustentável comunitário desperta interesse de empresários do setor e a comunidade da Ilha Mem de Sá além de sementes plantadas em Ponta dos Mangues já começam a atrair os primeiros investimentos. Um bom exemplo é a comunidade da Vila de Santo Antônio, na Linha Verde, BA.
Turismo sustentável em cavernas de Sergipe
Um novo filão do turismo em Sergipe para mais adiante são as visitas em cavernas. O Grupo Espeleológico de Sergipe, ONG que vem desenvolvendo um trabalho de pesquisa com o apoio do Ministério Público Federal, identificou mais de 100 cavernas em Sergipe.
Fotos: Silvio Oliveira
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