Igreja da Boa Viagem e história da procisão de Bom Jesus |
Sabe onde fica? A Península de Itapagipe fica localizada a poucos 8km do centralizado Mercado Modelo de Salvador (BA) e compreende bairros como Alagados, Bonfim, Monte Serrat, Ribeira, Uruguai, Mares, Roma, além dos Caminho de Areia, Vila Ruy Barbosa, Massaranduba e a praia de Boa Viagem. Para quem quer adentrar na diversidade de atrações de Salvador, fugindo dos roteiros tradicionais, um passeio pelo bairro do Bomfim e adjacências, ao domingo, é a medida completa para se conhecer a autêntica baianidade.
O roteiro pode iniciar no bairro do Bomfim, onde a localidade se revela bem mais do que somente a basílica consagrada ao Senhor do Bomfim. Tradicional, místico, palco onde pode se apreciar um belo pôr do sol, e desenhando por localidades onde o turista pode observar casarios coloniais e uma faixa litorânea sem igual, o Bomfim se configura como um bom atrativo aos domingos, dia em que de hora em hora o famoso templo católico consagrado ao Nosso Senhor do Bomfim recebe missas e representa uma das mais belas devoções do sincretismo religioso: entrega das “medidas do Bomfim”, rezas candomblecistas e muita devoção. Tudo isso, aliado ao mais autêntico baianês de seus moradores e botequices encontradas nos bares da localidade.
Forte Monte Serrat |
A igreja datada de 1772 tem a arquitetura em estilo neoclássico e a fachada em rococó, seguindo o modelo dos templos portuguesas dos séculos XVIII e XIX, com belos afrescos e azulejaria, também contando com a Sala dos Milagres (Devotos) e o Museu do Bomfim.
O início das orações ao Bomfim começa cedo, aos domingos, às 6h, quando o pároco da basílica celebra a primeira missa do dia, enquanto fiéis dos cultos africanos vestidos a caráter dão banho de ervas e vendem promessas de melhoria de vida ao lado de fora da basílica. Na praça em frente, turistas lotam a entrada em observação às suas torres. Mais turistas se aglomeram em frente das grandes numa melhor posição para a selfie, entre as coloridas fitinhas do senhor do Bomfim cheias de promessas.
A página oficial da Basílica de Senhor do Bomfim relata que as atividades em louvor ao santo foram introduzidas em Salvador, logo após a chegada da primeira imagem, em 1740, pelas mãos de Theodózio Rodrigues de Faria, Capitão de Mar e Guerra do reinado de Portugal. Ele teria feito uma promessa durante de que se sobrevivesse a uma tempestade traria para o Brasil as imagens do Senhor Jesus do Bonfim e de Nossa Senhora da Guia. Assim, em 18 de abril de 1745, uma réplica foi trazida da sua terra natal, Setúbal, em Portugal.
Ponta do Humanitá, farol e igreja de Monte Serrat |
O Capitão devoto colocou a imagem para veneração dos fiéis na Capela de Nossa Senhora da Penha de França de Itapagipe. Naquela mesma solenidade, foi fundada uma irmandade de devotos leigos que, após eleição, passou a denominar-se “Devoção do Senhor do Bonfim” e assim iniciada a construção da Igreja do Senhor do Bonfim. No dia 24 de junho de 1754, após a conclusão das obras internas, foi trazida da Capela da Penha para a Colina do Bonfim a sagrada imagem, em procissão.
Em 1773 iniciou-se a tradição da lavagem da Igreja, quando os integrantes da "Irmandade dos Devotos Leigos" obrigaram os escravos a lavarem a Igreja como parte dos preparativos para a festa do Senhor do Bonfim, no segundo domingo de janeiro, depois do Dia de Reis. Com o tempo, foi proibida a lavagem na parte interna do templo e o ritual foi transferido para as escadarias e o adro, iniciando-se com o cortejo de baianas que caminham desde a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia até o alto do Bonfim, carregando água de cheiro, num percurso de 8km de festa.
As míticas fitinhas do Bonfim criadas em 1809 eram conhecidas como “Medida do Bonfim”, por medir exatos 47 centímetros de comprimento, a medida do braço direito da estátua de Jesus Cristo, Senhor do Bonfim, postada no altar-mor da igreja.
Fé na Basílica do Senhor do Bomfim |
A “medida” era confeccionada em seda, com o desenho e o nome do santo bordados à mão e o acabamento feito em tinta dourada ou prateada. Não se sabe quando a transição para a atual fita, de pulso, ocorreu, sendo fato que em meados da década de 1960 a nova fita já era comercializada nas ruas de Salvador e transformada em souvenir símbolo da Bahia.
Ao conhecer também o Salão dos Milagres e o Museu do Bomfim, com a grande representação da fé dos devotos, não deixe de observar a arquitetura colonial do entorno da praça e adjacências. Ao fazer cliques de lá, desça a colina e siga à direita para a praia de Boa Viagem onde se tem uma vista panorâmica da Cidade Baixa, do Elevador Lacerda, ao longe, e dos prédios da avenida 7 de Setembro.
Boa Viagem – Na faixa de areia há barraquinhas populares com sombreiros à disposição para quem quer o binômio sombra e égua fresca. Lá encontra-se a Igreja da Boa Viagem construída durante o século XVIII, em tradicional estilo português e famosa, principalmente, por ser o ponto de chegada da procissão marítima do Bom Jesus dos Navegantes, que acontece no primeiro dia do ano. Vizinho a ela fica a sede da galeota que carrega a imagem do Bom Jesus até a praia em trilhos, outrora utilizada para carregar mercadorias por lá ser um famoso entreposto de desembarque de mercadorias.
Senhor do Bomfim |
O local também é bastante procurado no fim da tarde pelos que gostam de admirar a bela vista da cidade e da Baía de Todos os Santos e também pela diversidade de mariscos encontrados nos bares e restaurantes locais.
Ponta do Humaitá – Do lado esquerdo, mais adiante, os visitantes encontrarão um cenário para apreciar o pôr do sol e contemplar um dos cartões postais: o forte de Monte Serrat. A construção data do século XVII e foi visitada em 1859 pelo Imperador D. Pedro II. Histórias transitam por todos os cantos do forte, a exemplo da morte do general holandês João van Dorth, em 1624. Mais adiante fica um dos locais apaixonantes: a Ponta do Humanitá, extremo Sul da Península de Itapagipe.
Abençoado pela igreja e pelo mosteiro de Nossa Senhora de Monte Serrat, fiscalizada pelo Farol do Humaitá e protegida pelo Forte de Monte Serrat, a Ponta atrai cada vez mais soteropolitanos e turistas.
Ao chegar lá, o Clube Náutico da Bahia e uma área militar dão as boas-vindas. Os casarões estão por toda parte, muitos deles deteriorados, mas mostrando que a área já viveu tempos áureos.
Casarios no Bomfim |
Primeiramente visite a igreja de Nossa Senhora de Monte Serrat, construída no século XVII em referência à imagem da virgem trazida da Espanha para Salvador por um padre jesuíta. O altar-mor é revestido em folha de ouro e há azulejos portugueses cobrindo a parede interna da entrada da igreja. À sua frente fica o pequeno farol de Humaitá e, ao fundo, o mosteiro. Tudo é bem harmonizado arquitetonicamente. Perto dali também está o antigo Clube de Iates de Itapagipe, abrigando hoje um restaurante, onde pode ser apreciadar comidinhas de boteco e uma boa água de coco, antes do espetáculo principal acontecer.
Há um píer e uma balaustrada contornado a península. Depois do cenário pronto, lentamente o dia vai deixando de vivenciar a baianidade e a noite chega de fininho. O ator principal vai tomando conta do lugar e envolve uma grande plateia na balaustrada composta por estrangeiros e brasileiros. O pôr do sol ganha destaque e a Ponta do Humaitá serve como um dos cenários mais importantes para apreciar a despedida diária do Astro Rei.
Igreja da Boa Vista |
Como o sol mostra sua magnitude em cena, a plateia corresponde com aplausos. Muitos visitantes vão até a Ponta somente para vê-lo encenar, até porque, de acordo com especialistas, Salvador é uma das poucas cidades que tem localização privilegiada e há impressão de que o sol se põe no mar, principalmente no verão.
O colorido azulado do céu, o esbranquiçado das nuvens e a cor amarelada do sol, provocam um contraste interessante de se ver, quando aos poucos vai escurecendo. Os contornos dos prédios históricos e do farol conferem um charme especial ao espetáculo. O cenário de beleza e o show da natureza fazem da Ponta do Humaitá um dos locais mais agradáveis da capital baiana.
Largo da Boa Vista |
Dicas de Viagem
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Onde fica o Forte de Monte Serrat há uma pequena faixa de areia com barraquinhas de praia cerveja gelada e outros drinques. Há também a acarajé da Railda, que vende a iguaria há sete anos no local.
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Antes de chegar à Ponta do Humaitá, observe o bairro e perceba quantas igrejas foram edificadas ali. Há várias delas.
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Pôr do sol na Ponta do Humaitá A observação do pôr do sol em salvador virou tradição. Na cidade há dezenas de mirantes e locais emblemáticos, como a ladeira da Barra, o Museu de Arte Moderna Solar do Unhão, a Encosta da Vitória, o Porto da Barra, o Forte de São Diego e vários outros locais.
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Tenha como referência para se chegar até a Península de Itapagibe o Mercado Modelo e a Basílica do Bomfim. São quase que 8km de comercio, casarios, passando pela zona portuária de Salvador, pela feira de São Joaquim e o hospital onde a Irma Dulce desenvolveu a sua obra social.
Vista da praia de Boa Viagem |
Gastroterapia
No entorno do Senhor do Bomfim, a dica é o restaurante Casa Rosada. No barzinho com custo benefício aprazível e bons petiscos, a exemplo da pititinga e da moela de frango com camarão seco, ambos acompanhados de farofa de alho e vinagrete. A dica é observar bem a baianidade local com gosto apurado dos pratos puxados pela cultura africana.Na rua Rio Negro, nº 2, no bairro de Monte Serrat, o Recanto da Luz Cheia é um agradável estabelecimento, debruçado sobre o mar de Itapagipe. A vista da Ponta do Humaitá é fantástica. As mesas próximas do alambrado são ainda mais disputadas no horário do pôr do sol. Da cozinha saem pratos tradicionais como a mariscada e a moqueca de camarão. Para petiscar, siri-boia e bolinho de peixe são os mais pedidos.
Fotos: Silvio Oliveira
Moqueca de camarão |
Desarrumadinho |
Pititinga |
Pititinga com creme de mostarda |